Imprensa

Sugestão ao Diário do Grande ABC:
menos eleições, mais Madres Terezas

DANIEL LIMA - 16/07/2012

É claro que não tenho esperança alguma de ser atendido pela direção do Diário do Grande ABC, como não o fui há oito anos quando ali estive com o Planejamento Estratégico Editorial debaixo do braço e uma ideia de revolução na cabeça, mas não custa insistir: diminuam o peso desproporcional do noticiário político e utilizem o espaço disponível para muitas coisas, entre as quais um mergulho nas questões sociais e econômicas da região. As Madres Terezas são uma ótima pauta.
 
Antes de rememorar o que são Madres Terezas, vou dar alguns números da overdose da cobertura do Diário do Grande ABC sobre as eleições municipais na Província do Grande ABC. Tive o cuidado de comparar a produção do jornal ao acompanhar os candidatos às sete prefeituras da região com trabalho análogo do Estadão e da Folha de S. Paulo nas eleições municipais de São Paulo. Sabem qual é o tamanho conceitual das diferenças, sem levar em conta qualidade de abordagem e de texto? Um absurdo.
 
Quem será que está equivocado? O Estadão? A Folha? Ou o Diário do Grande ABC? Aliás, nesse ponto, o Diário do Grande ABC está isolado na região, porque nenhum outro veículo impresso dedica-se tanto a uma montanha de bobagens repassadas pela maioria dos candidatos. Sobre isso, aliás, os bons candidatos, aqueles que realmente têm algo a dizer, são os mais prejudicados pela suposta democratização espacial, já que são atirados no mesmo balaio de gatos de inconsistências e banalidades.
 
Dimensão muito maior
 
Quando escrevo que o Diário do Grande ABC perde de lavada (sim, é perder de lavada dar tanto espaço ao assunto, da forma que é dado, sem critérios planejados) a dimensão é muito maior do que os números absolutos sugerem. Números absolutos são o seguinte: o Diário imprime em média, por dia, só com os candidatos a prefeito na Província, nada menos que 50 mil caracteres. A palavra "caracteres" tem 10 caracteres. Este texto apontará ao final, para entendimento dos leitores, o total de caracteres que vou digitar. Cincoenta mil caracteres é uma imensidão perto dos em média cinco mil caracteres do Estadão e dos 2,5 mil caracteres da Folha, dispensados diariamente na cobertura das eleições em São Paulo.
 
Se
o leitor entende que essas diferenças já são condenatórias aos critérios jornalísticos adotados pelo Diário do Grande ABC (insisto em dizer que a quantidade é agravante à falta de qualidade e de seleção temática minimamente comprometida com a sociedade) o que dizer então quando passamos aos números relativos? O que são números relativos? É a divisão dos caracteres destinados à campanha eleitoral pelo conjunto de textos de cada edição do jornal, que abrange todas as editorias, ou seja, todas as páginas editoriais.
 
É claro que não tive tempo nem paciência para estabelecer meticulosamente esse enfrentamento, mas como especialista que sou em decifrar quantidades e qualidades (fiz isso a vida inteira como repórter, redator, editor, pauteiro e o escambau), posso assegurar sem margem de erro que o Diário do Grande ABC dedica à campanha eleitoral da região um peso 100 vezes maior que o Estadão e 200 vezes que a Folha de S. Paulo à campanha na Capital. Basta comparar quantas páginas cheias cada jornal dedica à cobertura política em seus respectivos redutos e o total de páginas de cada edição, sempre em termos de ocupação editorial.
 
Resumo de tudo isso é que os leitores do Diário do Grande ABC (tenho todo o direito de reclamar porque sou assinante) estão sobrecarregados por uma massa sofrível de informação, porque o detalhamento da jornada de cada candidato é um sacrifício à leitura, salvo honrosas exceções, enquanto os leitores do Estadão e da Folha de S. Paulo (veículos dos quais também sou assinante) não são levados ao engodo de comprar gato por lebre.
 
Redescobrindo as Madres
 
O Diário do Grande ABC prestaria um enorme serviço à sociedade se trocasse uma parte desse desperdício de papel e tinta (além do empenho dos jornalistas que fazem o diabo para se manterem competitivos), pela redescoberta das Madres Terezas, por exemplo.
 
Quem são as Madres Terezas? São mulheres principalmente da periferia da Província do Grande ABC que atuam diretamente com os excluídos sociais. Eu as descobri como jornalista, as transformei em protagonistas do Prêmio Desempenho, suas histórias compuseram enredos pungentes e todas subiram ao palco para serem homenageadas. A partir daí, estabeleceram proximidade com as classes mais aquinhoadas. Mais tarde (as Madres sugeriram em 2000, numa Reportagem de Capa da revista LivreMercado), incrementei o viés social com os chamados Freis Galvão, sob a mesma concepção.
 
Entre mulheres e homens foram quase 100 homenageados. Alguns já se foram desta vida, como Mamãe Clory, Mamãe Indiana, Delmo Tártaro, mas a maioria está à espera de um contato sempre oportuno com os consumidores de informação. Fica a sugestão ao Diário do Grande ABC e também aos demais veículos de comunicação que circulam diariamente na Província. A propósito dos caracteres: são 5,3 mil neste texto. O Diário, portanto, esbanja diariamente 10 vezes mais com a campanha eleitoral.
 
Leiam também:
 
Cinco anos para Diário se adaptar aos conceitos de regionalidade


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