Quando o Plano Real foi implantado no Brasil, o emprego industrial no Grande ABC prevalecia sobre as demais atividades inventariadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego em dados registrados no Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego). De cada 100 empregos formais, 53,68% reuniam trabalhadores da indústria de transformação. Ai vieram o governo Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva.
Com FHC o Grande ABC viveu as maiores transformações da história. A desindustrialização reduziu a produção de riqueza em um terço.
Com Lula da Silva houve reação, mas mesmo assim os dados são alarmantes: o emprego industrial no período de 16 anos caiu para 31,53%, ou seja, de cada 100 postos de trabalho, apenas 31,53 são industriais. A perda relativa de 41,26% é uma das faces mais implacáveis do empobrecimento regional quando se sabe que carteiras de trabalho assinadas nas indústrias detêm os melhores salários e benefícios sociais. Comércio e serviços, principais fontes de emprego, com quase 70% de participação relativa, não reúnem apetrechos tecnológicos e operacionais avançados a ponto de compensar parte dos postos de trabalho industrial perdida.
O impacto da desindustrialização do Grande ABC em forma de desemprego ou de rebaixamento do emprego industrial atingiu duramente os municípios historicamente mais ricos, casos de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Nenhum dos demais (Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) alcançou números positivos, ou seja, de avanço relativo do emprego industrial no conjunto de trabalhadores registrados. Mas as perdas foram menos profundas.
Vejam como se comportou, Município por Município, o emprego industrial no Grande ABC em dois momentos diferentes e em relação ao total de emprego de cada localidade: em dezembro de 1994, ano da implementação do Plano Real e base de cálculo para dezembro de 2010, último anos do governo Lula da Silva. Também há um confronto, embora sem detalhamento numérico, da proporção de empregos industriais em relação aos demais empregos ao final do governo Fernando Henrique Cardoso.
Diadema contava com 61.286 empregos formais industriais ante 84.114 empregos de todos os setores em 1994, e subiu levemente em 2010 para 61.852 empregos industriais ante 91.447 de todos os demais setores. A proporção de 73,2% empregos industriais em 1994 caiu para 67,63% em 2002. Ao final dos oito anos de FHC, em 2002, a proporção era bem menor, de 59,7%.
Mauá contava com 15.842 empregos industriais e 32.534 empregos em geral em 1994, ante 23.353 empregos industriais e 54.919 empregos gerais em 2010. A proporção de 48,7% empregos industriais em 1994 caiu para 42,5%. Ao final do governo FHC a proporção era maior, de 46,6%.
Ribeirão Pires contava em 1994 com 11.466 empregos industriais e 17.715 empregos em geral, ante 8.974 empregos industriais e 19.600 empregos em geral em 2010. A proporção de 62,7% empregos industriais em 1994 caiu para 45,8% em 2010. Ao final do governo FHC, em 2002, a proporção era menor, de 43,7%.
Santo André contava com 41.392 empregos industriais e 119.859 empregos em geral em 1994, ante 38.368 empregos industriais e 185.256 empregos em geral em 2010. A proporção de 34,53% empregos industriais em 1994 caiu para 20,71% em 2010. Ao final do governo FHC a proporção era maior, de 23,7%.
São Bernardo contava com 119.857 empregos industriais e 194.970 empregos em geral em 1994, ante 99.294 empregos industriais e 279.097 em geral em 2010. A proporção de 61,4% de empregos industriais em 1994 caiu para 35,57% em 2010. Ao final do governo FHC a proporção era maior, de 42,8%.
São Caetano contava com 26.136 empregos industriais e 64.077 empregos em geral em 1994 ante 19.917 empregos industriais e 154.191 empregos em geral em 2010. A proporção de empregos industriais caiu de 40,8% em 1994 para 12,91% em 2002. Ao final do governo FHC a proporção era maior, de 42,8%.
Rio Grande da Serra contava com 778 empregos industriais e 2.299 empregos em geral em 1994 ante 555 empregos industriais e 2.264 empregos em geral em 2010. A proporção de empregos industriais caiu de 33,8% em 1994 ante 24,51% em 2010. Ao final do governo FHC, a proporção era maior, de 52,3%.
No conjunto da obra, o Grande ABC registrava média de 53,68% empregos industriais em 1994, fruto de 276.757 postos de trabalho no setor ante 515.568 no geral, enquanto que em dezembro de 2010 registrava 252.420 empregos industriais ante 800.423 em todos os setores, com média de 31,53% de participação do emprego industrial. Ao final do governo FHC, em dezembro de 2002, o Grande ABC contava com 35,3% de empregos industriais, resultado da divisão de 195.323 postos de trabalho no setor produtivo ante um estoque de 553.360 trabalhadores em geral. Ou seja: embora tenha criado quase 25 mil postos de trabalho industrial em oito anos de mandato, contra mais de 80 mil empregos destruídos no setor durante o governo FHC, Lula da Silva não impediu que o Grande ABC seguisse na trilha de perda relativa de carteiras assinadas na área de transformação.
A propósito de desindustrialização, uma pauta carregada de controvérsias de especialistas que nem sempre enxergam o óbvio, recorro a um texto que produzi em 27 de março de 2002 (portanto há quase 10 anos). O link logo abaixo permitirá leitura mais detalhada dos conceitos que construí para destrinchar o significado que considero mais objetivo de desindustrialização.
Lembro apenas que o regime de emagrecimento industrial do Grande ABC é um caso seriíssimo que não permite divagações nem dissimulações.
O desemprego industrial permite que haja contestação à defesa da desindustrialização no Grande ABC, embora com muitas dificuldades para quem se apresentar com esse objetivo.
A desindustrialização do Grande ABC é processo longo que, visto de forma mais ampla e sistêmica, não se encerrou nem mesmo com os resultados do governo Lula da Silva. Ainda vivemos de excesso de produção concentrada no setor automotivo, situação que acaba por mascarar a queda de outras atividades industriais. Mas isso é outra história.
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