Imprensa

Nem petista, nem antipetista;
só jornalismo sem engajamento

DANIEL LIMA - 14/11/2012

A consagração de qualquer jornalista é tornar-se alvo de ataques contraditórios, principalmente na área política, sempre mais belicosa, mais emocional e imantada de ideologias. No esporte, a preferência clubista é menos acidamente questionada, porque quem é do ramo sabe que, mesmo a programada frieza com que se pretende acompanhar criticamente um jogo, o peso do coração acaba por atrapalhar. Já sofri muito por conta do futebol, mas quando o assunto é política, partido político, dou boas gargalhadas dos supostos avaliadores. Sou atacadíssimo por leitores que me acusam de petista e também por leitores que não suportam o fato de ser supostamente antipetista. Que maravilha, não é verdade! Pretenderia este jornalista outro atestado de idoneidade profissional?


 


Vou tentar repassar alguns exemplos que me colocam na berlinda ideológico-partidária, da qual, sem nenhum esforço, porque não tenho a banda larga comportamental de cafajestes muito conhecidos na praça, para tentar me equilibrar entre mentiras, entre ensaios, entre encenações, entre tudo aquilo que é tradicionalmente o oxigênio dos políticos. Até porque, não o fosse, jamais políticos seriam. Ou não é verdade que a sociedade molda os homens públicos de acordo com a própria imagem que constrói no cotidiano de uma cidadezinha pequena, de uma capital, de uma metrópole?


 


Sou antipetista irrecuperável, segundo petistas de plantão, quando afirmo e reafirmo que a UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) é uma grande balela em termos de regionalidade produtiva. Que está aí, como bem definiu o professor Walmor Bolan, como espécie de barriga de aluguel. A vocação curricular da UFABC e as necessidades econômicas e sociais da Província do Grande ABC estão no limite de um encontro físico entre torcedores organizados do Palmeiras e do Corinthians nestes dias tão antagônicos, os primeiros revoltados com o iminente rebaixamento e os segundos na esperança da conquista do título mundial. Tudo que poderia ser construído teoricamente, com especificações estatísticas da quebra da riqueza desta Província nos últimos 20 anos, dá sustentação a uma reviravolta impossível na atuação da UFABC, galhardamente ignorada pelos petistas mancomunados com uma prática educacional obsoleta que esquece o fundamento básico de que precisamos criar riquezas locais com valor agregado em vez de exportar cérebros para o resto do mundo.


 


Sou petista encardido, segundo os antipetistas, porque fui a fundo, como ninguém, no caso do assassinato do prefeito Celso Daniel e produzi mais de dois milhões de caracteres de textos (o equivalente a quatro livros de 500 páginas cada um) para desqualificar a investigação do Ministério Público que elegeu o empresário Sérgio Gomes da Silva como elemento principal da suposta operação de sequestro e morte, por conta de desvios financeiros na Prefeitura de Santo André. Seria muito mais fácil e vantajoso seguir a maré e me acomodar com a maioria. Sei o preço que pago por ter ousado esmiuçar o caso.


 


Isolamento no caso Celso Daniel


 


Sou petista de carteirinha para os antipetistas de sempre quando construo toda uma teoria que coloca o prefeito Celso Daniel como principal homem público da história da Província do Grande ABC. Como fechar os olhos à realidade de que Celso Daniel, à parte os desequilíbrios administrativos na Prefeitura de Santo André, principalmente no primeiro mandato, ainda sob o controle partidário excessivamente esquerdista, foi o único dirigente municipal que decidiu romper fronteiras autárquicas e colocou a regionalidade acima de tudo durante pelo menos dois anos? Até que a ficha caísse e ele descobrisse, desconsolado, que era bobo de um corte de falsários regionais?  


 


Sou antipetista radical quando faço observações mais que pertinentes, esclarecedoras, sobre a gestão de Luiz Marinho, em São Bernardo, impregnada de efeitos pirotécnicos de promessa de construção de um aeroportozão num Município cercado e dominado pela legislação de proteção dos mananciais e numa região metropolitana sem fôlego logístico, ambiental e econômico para investimentos no setor de transporte aéreo. Sem contar que outros projetos na área econômica, como a indústria da defesa, a indústria do pré-sal, por exemplo, não passam de ensaios de fundo publicitário, em tentativas de mascarar a ausência de planejamento voltado ao desenvolvimento econômico de um endereço municipal que sobrevive mas também se entrega como obediente refém da indústria automobilística.


 


Obras com planejamento


 


Sou petista, segundo os antipetistas, quando afirmo e dou fé que o prefeito Luiz Marinho teve suporte preventivo assim que venceu as eleições de 2008 ao contar com a ministra Miriam Belchior, especialista em destinação de recursos públicos federais, para elaborar a toque de caixa série de projetos que redundaram em recordistas investimentos em obras São Bernardo. Os antipetistas chamam essa programação de favoritismo ao prefeito-amigo do ex-presidente Lula da Silva, numa tentativa de desclassificar a meritocracia do planejamento em infraestrutura.


 


Sou antipetista, acusam os petistas, quando cobro do prefeito Luiz Marinho a visão regionalista que a presidência do Clube dos Prefeitos provavelmente favoreceria seus passos rumo à disputa do governo do Estado, seja quando for essa disputa, porque passar pela Prefeitura mais importante da Província do Grande ABC sem dedicar-se para valer à regionalidade seria a confirmação de uma cultura atavicamente municipalista e, portanto, muito aquém das prioridades regionais e estaduais. Fugir da raia do Clube dos Prefeitos seria um atestado de ignorância política e administrativa do petista.


 


Sindicalismo, parte dos problemas


 


Sou petista segundo os antipetistas quando não confirmo a burrice quase unânime dos conservadores que atribuem ao sindicalismo todas as vicissitudes da economia regional, sobretudo a desindustrialização, por causa da cultura de greves e de exigências exacerbadas. Retirar o peso asfixiante do sindicalismo petista das agruras regionais é estupidez, mas esquecer outros fatores, como a descentralização industrial induzida pelo governo do Estado, a estimular da guerra fiscal, bem como o ambiente improdutivo que se acentua nas grandes metrópoles, revestem-se também de cegueira crônica. Realizei estudos publicados no final dos anos 1990 provando que a ação deletéria do sindicalismo na região não foi acentuadamente diferente do que ocorreu na Capital, onde a mais maleável escola sindical, oposta a dos cutistas, não segurou a barra de deserções industriais. Relativizar a ação desagregadora naqueles tempos não imuniza o sindicalismo estrábico que cobrava das pequenas e médias empresas a mesma pauta das grandes corporações nem sempre preparadas e dispostas a assumir. 


 


Sou petista inveterado, segundo os antipetistas, quando enfatizo o desenvolvimento social e cultural de Diadema durante os 30 anos de administrações esquerdistas.


 


Sou antipetista, segundo os petistas, quando aponto, com base em estudos, que os esquerdistas de Diadema exageraram na dose de descuidos administrativos e colocaram o Município num encalacramento administrativo que tem origem na aplicação equivocada de recursos públicos.


 


Poderia seguir com esta lista de petismos e antipetismos à exaustão, mas resolvi parar por aqui certo de que mesmo o mais imbecil dos leitores, aquele que não tem o que fazer e de vez em quando cai nestas páginas de paraquedas, sem conhecimento pretérito deste trabalho jornalístico, acabará por entender que não é nesta revista digital que existe comprometimento ideológico com quem quer que seja. Sou um jornalista livre de amarras, não perco o sono na tentativa de agradar a gregos e troianos.


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