Duvido que Malu Marcoccia, uma das melhores profissionais que passaram pela revista LivreMercado no período em que a publicação se consolidou como exemplo de jornalismo competente, não se sentirá frustrada ao reler a Reportagem de Capa da edição de fevereiro de 1999 (portanto há 12 anos).
Não tenho procuração para interpretar o sentimento que baterá em seu peito quando se der conta do que produziu e do que efetivamente a frágil institucionalidade do Grande ABC executou, mas como conheço razoavelmente a alma dos jornalistas, aposto que a reação será de decepção.
O que temos mais uma vez no resgate do passado regional que teve no trabalho da equipe de LivreMercado o porto seguro de fidelidade aos fatos é uma mistura de desânimo e desapontamento. Pelo menos até que uma nova motivação se sobreponha à agenda é impossível ficar alheio ao passado. Uma reportagem que o tempo provou inútil, ou quase inútil, desconsiderando-se o valor histórico implícito em cada informação, talvez seja algo semelhante à autocensura de um médico que salvou alguém mais tarde assassino.
Assassinaram a esperança de jornalistas sérios e dedicados no Grande ABC, eis a conclusão a que chego toda vez que me meto a escarafunchar o acervo de LivreMercado para postar à posteridade digital um trabalho feito com dedicação total.
Sob o título original “Sangue novo nos negócios”, aquela Reportagem de Capa é uma sucessão de propostas que o tempo transformou em frustrações.
Quase nada do projetado por representantes das mais diferentes instituições do Grande ABC saiu do campo da pretensão. A matéria tratou da alternativa econômica do setor de turismo no Grande ABC. Uma senhora alternativa, hão de convir os leitores, porque a região foi forjada e tangida pela manufatura automotiva, principalmente.
Como esta não é a primeira nem certamente será a última vez que a recuperação dos arquivos de LivreMercado ganhará a força de um cruzado na mandíbula, o nocaute de regionalidade como mantra jornalístico só não se consumará porque sou persistente. Mas persistência também tem limites: cada vez mais desconfio muito, mas muito mesmo, de novas promessas que agentes públicos e privados alardeiam nos veículos de comunicação.
Chego ao ponto de às vezes torcer para que uma determinada promessa não se cumpra de forma alguma porque, se cumprida, poderá transmitir a ideia de que tudo está funcionando uma maravilha. Algo como um artilheiro de pé torto que passa jogos e jogos em branco e de repente abafa numa determinada partida. O preço da titularidade será muito maior para quem a reserva já seria um prêmio.
Se querem saber a verdade verdadeira, às vezes chego a me sentir completamente descrente de tudo e de todos, colocando em xeque, portanto, a própria atividade profissional a que me lancei nos tempos de adolescente.
Entra ano, sai ano, e a realidade praticamente não se modifica: novas promessas surgem no mercado especulativo de informações e o tempo comprovará que não passaram de cortina de fumaça.
Pior mesmo só quando constatamos duas faces da mesma moeda de improdutividades: os agentes públicos se revezam a cada mudança eleitoral nos paços municipais e os agentes privados, de entidades de classe, praticamente são os mesmos de sempre, quando não adotam princípios de capitanias hereditárias não necessariamente consanguíneas, mas de estilo de comando centralizado, autoritário, personalista e exclusivista.
Veja agora que Valter Moura, eterno presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, virou presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. O prêmio à letargia é entregar-lhe uma instituição letárgica. Não entendo como Milton Bigucci, da inútil entidade de construtores de imóveis, não está nessa.
Preparem o estômago e a alma para acompanhar a Reportagem de Capa de Malu Marcoccia.
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