Economia

Sem aeroportozinho, Marinho pode
ter apenas uma pistazinha de pouso

DANIEL LIMA - 20/12/2012

Medíocre na área de desenvolvimento econômico e exuberante em investimentos em infraestrutura, a Administração Luiz Marinho faz das tripas coração para sensibilizar o governo federal a aprovar um aeroportozinho em São Bernardo, já que o aeroportozão transformado em manchete principal de primeira página do Diário do Grande ABC virou pó. A presidente Dilma Rousseff estende o tapete de facilidades de investimentos para forrar o País de pequenos aeroportos, mas São Bernardo não está na lista por conta da obviedade geográfica conflitante com as ofertas já disponíveis na Região Metropolitana de São Paulo (Congonhas, Cumbica e Campo de Marte) e pelo impedimento que o bom senso recomenda por estar numa área delicadíssima de preservação dos mananciais já tão maltratados e explorados por bandidos imobiliários.


 


O prefeito Luiz Marinho luta diplomaticamente quase em desespero por algo que possa mesmo que tenuamente dar a ideia de que está preparado para retirar São Bernardo do desenvolvimentismo econômico compulsório mas também autofágico do setor automotivo. Passados quatro anos do primeiro mandato e às vésperas de iniciar um segundo turno, Luiz Marinho cobra de assessores maior visibilidade. Fazer obras e obras com dinheiro principalmente do governo federal, porque se preparou para isso, não é exatamente o que solidifica um gestor público, embora seja por demais importante para o conjunto da sociedade. Sobretudo da periferia, preferência total do ex-sindicalista.


 


Sabe-se que Luiz Marinho e seu entorno administrativo não suportam ler qualquer coisa que lembre o fracasso do projeto aeroportozão e muito menos desconfiança sobre a alternativa do aeroportozinho que esta revista digital massifica. Não fosse CapitalSocial, ainda hoje o anúncio do aeroportozão divulgado como entusiasmo pelo Diário do Grande ABC e seguido pelas demais mídias, estaria na memória e na expectativa dos leitores e ouvintes. É da natureza da mídia acrítica seguir a manada política mesmo que a manada política caminhe em direção ao desfiladeiro da desmoralização. Um ou outro veículo de comunicação da região se opõe a essa configuração de entreguismo e contribui profundamente para a manutenção do entusiasmo de se seguir adiante em defesa da correção informativa.


 


Jornais em ação


 


O Estadão de ontem e o Valor Econômico de hoje trazem notícias sobre os planos da presidente Dilma Rousseff para o transporte aéreo nacional. No Estadão de ontem há informações sobre o pacote de projetos que tem como um dos pontos principais a redução do duopólio da TAM e da Gol no mercado. Na avaliação de técnicos, o crescimento da classe média nos últimos 10 anos não foi seguido por um aumento no número de aeroportos que recebem voos regulares. Pelo contrário, afirma o jornal, As maiores empresas teriam impedido esse movimento, ao atuar para fechar ou comprar companhias regionais, o que tem sobrecarregado os maiores aeroportos.


 


Ainda segundo o Estadão de ontem, um dos interesses do governo é incentivar novas companhias regionais, que teriam demanda consistente de passageiros e terminais e, assim, evitar ações como a da Gol, que, após comprar a Webjet, fechou a empresa, devolveu os aviões e demitiu todos os funcionários. Dos 700 terminais brasileiros, apenas 130 têm voos diários.


 


Também disse o Estadão de ontem que o Ministério do Turismo selecionou os principais destinos que não têm infraestrutura aeroportuária. Serão contempladas cidades que sejam polos econômicos regionais. O objetivo é dotar todos os municípios de cerca de 100 mil habitantes com um aeroporto, ou caso não seja possível, que municípios desse porte estejam num raio de até 60 quilômetros de distância de um terminal. É nesse ponto que está o cadafalso às pretensões de Luiz Marinho. São Bernardo está no quintal, para não dizer quarto de despejo, de três aeroportos da metrópole.


 


Sociedade violentada


 


Um olhar retrospectivo sobre a ridícula espetacularização do anúncio da construção de um megaaeroporto em São Bernardo coloca aquela manchete do Diário do Grande ABC sob dupla avaliação. Primeiro, subestimou a capacidade cognitiva da sociedade, ou de alguns representantes da sociedade que ainda não passaram pela lobotomia do entreguismo material e espiritual que os políticos sem visão de futuro pretendem impor a todos. Segundo, a incapacidade administrativa de organizar um plano de ação que busque o cetro da efetividade de medidas que realmente façam a diferença e sejam um marco no processo inadiável de recuperação do tecido econômico da Província do Grande ABC. Algo que jamais se converteu mesmo que tangencialmente com a construção do trecho sul do Rodoanel entre outros motivos porque o traçado é apenas subsidiário na geografia regional. Esperar que o Rodoanel se tornasse o maná econômico da Província mesmo sem que a Província se planejasse para receber a obra, é acreditar que, numa academia esportiva, alguém possa entrar em forma apenas ao observar os praticantes em extenuantes movimentos corporais.


 


Já o jornal Valor Econômico desta quinta-feira traz mais informações sobre o transporte aéreo no País e nenhuma emissão de fumaça branca que possa ser capitalizada pelo prefeito Luiz Marinho e sua disposição de sair da mediocridade econômica em que lhe meteram e também se meteu. Diz o melhor jornal do País que a presidente Dilma Rousseff deverá anunciar hoje, junto com as concessões do Galeão (RJ) e de Confins (MG), a criação de uma estatal para operar aeroportos regionais. A nova empresa, que até ontem levava provisoriamente o nome de Infraero Serviços, pode ser contratada por governos estaduais e municipais que serão contemplados pelo plano de aviação regional da presidente.


 


Ludibriando o público


 


O Valor Econômico confirmou a informação do dia anterior do Estadão sobre a proposta do governo de assegurar a todas as cidades com mais de 100 mil habitantes um aeroporto a menos de 60 quilômetros de distância. E destacou: “A presidente chegou a mencionar em Paris, na semana passada, a construção de 800 aeroportos regionais. Esse número, segundo acreditam técnicos que participaram ativamente das medidas a serem anunciadas hoje, diz respeito ao total de aeródromos públicos – incluindo pistas de pouso rudimentar – que poderão, no longo prazo, receber algum tipo de melhoria. Mas não haverá nenhum programa específico de investimentos para essas pistas”.


 


Em busca desesperada por uma marca econômica que possa engabelar o distinto público, já que não entende que São Bernardo e a Província do Grande ABC precisam mesmo é de planejamento sincronizado com o futuro do qual nos distanciamos cada vez mais, Luiz Marinho faz gestões diplomáticas para sensibilizar o governo Dilma Rousseff. Mas sempre surge uma perguntinha simples jamais respondida: aonde encontrar uma área compatível com os requisitos econômicos, sociais, ambientais, estratégicos e políticos num Município cujo território é grandemente tomado pela Lei de Proteção dos Mananciais e, tanto quanto importante, tão próximo da Capital? O que a Administração Luiz Marinho quer provavelmente a presidente Dilma Rousseff não dará: um aeroportozinho mequetrefe que só serviria a interesses eleitorais. Quem sabe, sobre apenas uma rudimentar pista de pouso.


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