Vou reproduzir nos próximos dias uma Reportagem de Capa que completou sete anos em dezembro do ano passado, preparada para a revista LivreMercado e para CapitalSocial, então em formato de newsletter. Foi por acaso que me deparei com o material neste final de semana em meu escritório domiciliar. Estava em busca de outra coisa quando pintaram algumas folhas de papel com o resumo das bandeiras que desfraldamos naquela edição de dezembro de 2003. Recorri aos arquivos digitais e físicos de LivreMercado e mergulhei no texto que retratou a preocupação com o futuro do Grande ABC. Nada diferente do que vinha produzindo havia muito tempo. No fundo, apenas organizei e sistematizei um elenco de desafios aos quais nos dedicamos ao longo dos anos.
Neste texto para CapitalSocial, há um ano e meio em formato de site, transfiro aos leitores apenas a síntese das 30 bandeiras a solidificar compromisso editorial com o Grande ABC. O detalhamento de cada proposta será repassado nos próximos dias, seguindo intocavelmente o texto original.
Talvez alguns leitores tenham dificuldades para entender o significado de cada uma das bandeiras, mas outros provavelmente identificarão cada parágrafo, referenciando-o com a própria vida na comunidade regional.
Demos um chute no traseiro de minha gente preocupada apenas com os manuais de Redação, direcionados à eficiência técnica, à ética social e à identidade de produtos jornalísticos. Fomos mais longe: construímos coletânea de definições que colocaram ainda mais a publicação no seio da sociedade.
O jornalismo que se volta para o próprio umbigo é jornalismo pela metade. É preferível tropeçar na ortografia do que subestimar os valores e os anseios sociais. Mesmo que esses valores encontrem resistência. Como é o caso mais que recheadíssimo de um Grande ABC extremamente descuidado com o futuro, relapso com o presente e mistificador com o passado.
Lamentavelmente o que tivemos nesses sete anos e dois meses que separam aquela Reportagem de Capa é a constatação de paralisia institucional, quando não de regressão. O Grande ABC sofre de doença contagiosa que se manifesta em forma de indiferença às necessidades de se reciclar para não só enfrentar, mas construir novas configurações de acordo com o contexto nacional e internacional.
Acreditar que estamos em estado vegetativo há apenas sete anos é conhecer a região pelo buraco da fechadura. Os sete anos entre aquela Reportagem de Capa e esta edição de CapitalSocial são intervalo reduzido do processo de depauperação intelectual e de fragilização social do Grande ABC. O quadro de inutilidades gerais e irrestritas vem de muito mais tempo.
O que agrupamos nas 30 proposições foi um pacote de situações consolidadas, umas mais antigas que outras, mas todas igualmente censuráveis. O noticiário em geral sobre atividades diversas no Grande ABC é um mosaico de triunfalismo e oportunismos que geram uma figura horrorosa de perspectivas vazias.
Rompi deliberadamente com o aproveitamento cronológico das Reportagens de Capa de LivreMercado, que vem numa sequência a partir de novembro de 1997, porque há temáticas que não podem esperar. Como se fosse uma brasa quente nas mãos, senti que não teria sido por acaso que aquelas folhas em papel sulfite me desafiaram a leitura.
Por isso, saltamos de abril de 1999, a mais recente Reportagem de Capa de LivreMercado recuperada neste CapitalSocial, para dezembro de 2003.
Acompanhem os 30 enunciados e aguardem mais alguns dias para a reportagem completa.
Evitar tratamento festivo a eventos e propostas que não ultrapassam o terreno de conjecturas.
Exigir a disseminação de conceitos e práticas de empreendedorismo entre os estabelecimentos de ensino público e privado para possibilitar salto em direção à solidez dos negócios, principalmente de pequeno porte.
Incentivar mecanismos de preparação e de proteção aos empreendedores de pequeno porte dos setores comercial e de serviços para o enfrentamento dos grandes conglomerados nacionais e internacionais.
Estimular ações que coloquem academia, governos municipais e sociedade num mesmo e amplo compartimento de amarração dos dispositivos de regionalidade.
Exigir representantes do mercado e da comunidade como agentes de decisão nas instâncias públicas de cunho municipal e regional.
Defender a ocupação dos mananciais por meio de combinação de desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.
Exigir das entidades empresariais ações que ultrapassem interesses exclusivamente corporativos, principalmente no sentido de dar maior competitividade à região.
Exigir das entidades sindicais reflexão permanente sobre as repercussões sociais de reivindicações e conquistas trabalhistas.
Exigir mecanismos institucionais para retirar a economia do Grande ABC da dependência estrutural dos setores automotivo e petroquímico.
Exigir de entidades sociais mobilizações além dos interesses corporativos de seus associados.
Estimular permanentemente a integração regional nos aspectos econômico, social, cultural e político por meio de várias instâncias de representações.
Desqualificar políticas públicas voltadas à disseminação de medidas microeconômicas que comprometam o todo regional.
Incentivar a utilização de recursos provenientes de impostos, taxas e contribuições municipais para o aparelhamento técnico-operacional da economia regional.
Estabelecer referências de efetividade e produtividade regionais aos deputados estaduais e federais eleitos predominantemente ou significativamente com votos no Grande ABC.
Incentivar medidas restritivas de gastos com o funcionalismo público com base em dados disponíveis em instituições independentes de avaliação dos custos do poder público.
Exigir dos agentes públicos, privados e sociais permanente pressão por medidas preventivas de profundo alcance para desestimular a transformação do Grande ABC em endereço preferencial da incidência criminal.
Cobrar das autoridades públicas diagnóstico e ações para combater as carências de infra-estrutura material que atravancam o desenvolvimento econômico regional.
Exigir das autoridades públicas a qualificação de estudos técnicos para dar sustentação às necessidades da infra-estrutura social.
Combater informações de agentes públicos, sociais e empresariais que, à falta de compromisso com a regionalidade, optarem pelo espetaculoso sem fundamentação.
Exigir transparência de dados orçamentários das instituições públicas, inclusive com transposição das informações para o campo virtual, na rede mundial de computadores.
Cobrar dos estabelecimentos de ensino mantidos com recursos públicos maior empenho e comprometimento com questões municipais e regionais.
Incentivar a inserção de instituições assistenciais entre as preocupações de responsabilidade social de organizações privadas, públicas e não-governamentais.
Exigir dos governos estadual e federal participação permanente de interlocutores oficiais.
Defender a constituição de um fundo de recursos financeiros oriundos de orçamentos municipais ou de doação de empresas privadas para a contratação de especialistas que atuariam no assessoramento das instituições de cunho regional e dos parlamentares conceituados como representantes do Grande ABC.
Exigir das instituições regionais calendário permanente de intercâmbio com organizações internacionais vocacionadas ao temário metropolitano.
Considerar como membros das bancadas de deputados do Grande ABC na Assembléia Legislativa e em Brasília todos os eleitos domiciliados na região, bem como tantos quantos tenham alcançado número de sufrágios decisivos a se instalarem acima da linha de corte.
Cobrar das autoridades públicas, das entidades de classe empresarial e dos agentes comunitários empenho e determinação que tornem mais factível e suportável o financiamento de pequenas e médias empresas.
Defesa de um fundo metropolitano da Grande São Paulo para aplicação em políticas públicas direcionadas à competitividade econômica e social da região metropolitana.
Formação de um grupo multidisciplinar de profissionais reconhecidamente especialistas em Grande ABC para atuar informalmente como assessores de programas voltados à valorização da imagem institucional da região.
Engrossar, com mobilizações permanentes, a corrente de apoio aos representantes municipais e regionais de atividades esportivas e culturais com maior potencial de divulgação doméstica, estadual e nacional, quando não internacional.
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