Economia

Reação no consumo leva Grande ABC
a empate técnico com o G3

DANIEL LIMA - 16/02/2011

Seguimos toada investigativa dos efeitos do Plano Real na economia do Grande ABC, contrapondo-a ao G3, grupo formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, sedes de regiões metropolitanas. A boa notícia é que o que chamaria de PIB do consumo, que é o Potencial de Consumo pesquisado e sistematizado pela IPC Marketing, antiga Target, mostra também a reação do Grande ABC. A má notícia é que continuamos a perder participação nacional, porque crescemos menos que a média dos demais municípios da Federação.


Em termos per capita, os sete municípios da região praticamente empataram um jogo que estava amplamente favorável ao G3. Ao final de 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, em conjunto, aplicavam uma surra de 16% de vantagem de riqueza para consumo no Grande ABC. Ao final do governo Lula da Silva, em 2010, a diferença caiu para 3,90%. Nada mal para quem no início dessa corrida, em 1995, estava 10,51% atrás do G3.


Em números absolutos, o Grande ABC supera o potencial de consumo de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. A soma dos sete municípios em dezembro do ano passado alcançava R$ 44,7 bilhões, que, divididos pela população de 2.549.135 habitantes, apontava o desempenho per capita de R$ 17,549 mil. O G3 registrou na mesma data potencial de consumo de R$ 41,906 bilhões, que dividido por 2.294.854 habitantes, resultou no valor per capita de R$ 18,261 mil, saindo daí a superioridade do G3 em escassos 3,90%.


Como se observa, também em potencial de consumo, medida importantíssima de acumulação de riqueza das comunidades, a reação do Grande ABC sob o governo Lula da Silva manifesta-se sem distorções. A reviravolta do setor automotivo, mais econômico na geração de empregos mas frondoso em produção de Valor Adicionado, permitiu que o Grande ABC saísse do encalacramento da abertura econômica, dos juros estratosféricos, da moeda nacional valorizadíssima e da guerra fiscal nos meteram.


A sanha consumista do governo Lula da Silva beneficiou fortemente o Grande ABC, como estamos cansados de afirmar, porque nosso principal produto para o mercado nacional, os veículos de passeio, foram disputados a pernadas por conta de financiamentos a perder de vista.


Não vamos colocar em debate nesse momento a viabilidade da sequência desse projeto, quando se sabe que a inflação ameaça de vez o ímpeto consumista. Nem vamos acreditar que mesmo sob um governo Lula da Silva extremamente generoso com nossa principal matriz produtiva — e que nos torna reféns tanto quanto os países que dependem de riquezas oceânicas, vítimas da chamada Doença Holandesa — o Grande ABC resolveu todos os problemas. Não podemos esquecer que mesmo com o motor de arranque do consumo e do emprego em alta, o governo Lula da Silva não conseguiu zerar em oito anos o buraco de demissões com carteira assinada no setor industrial. Faltaram 27 mil vagas a preencher das 81 mil feridas abertas no governo anterior. Quando se projeta o quanto saltou a População Economicamente Ativa no período, chegamos muito próximo do tamanho do buraco de prejuízos.


Também causa inquietação o fato de que o crescimento do potencial de consumo do Grande ABC nos 16 anos de implementação do Plano Real, que embutiu série de mudanças em nosso território, não chega nem perto da média nacional. Sem considerar a inflação do período, cujos indicadores deixamos à escolha dos leitores, o Grande ABC avançou nominalmente no período em volume de potencial de consumo exatamente 317,24%. Um pouco menos que os 320% do G3 formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. E muito abaixo da média nacional de 479,21%.


Traduzindo a situação ao longo dos quatro mandatos de tucanos e petistas: o Grande ABC não consegue acompanhar o ritmo de enriquecimento de consumo da população brasileira. A biruta virou mesmo. O estudo da IPC Marketing, do especialista Marcos Pazzini, é contundentemente científico e cristalino, porque se baseia em engenharia socioeconômica que se fundamenta em instituições que vasculham o desempenho dos brasileiros em várias categorias. Não é achismo.


O fato de termos estado bem atrás de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos ao final do governo Fernando Henrique Cardoso e de termos reagido ao final do governo Lula da Silva tem valor mais que simbólico: mostra que nosso setor industrial comeu o pão que o diabo amassou mas está longe de desfalecimento. Não podemos esconder que recuperamos parte da musculatura quando temos como concorrentes três unidades municipais do Estado de São Paulo, mas perdemos feio para bíceps economicamente mais afiados do conjunto dos municípios brasileiros.


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