Enquanto nesta segunda-feira os titulares dos Paços Municipais da Província do Grande ABC repetem um ritual cíclico de duas décadas, assumindo uma nova etapa do sempre festejado e eternamente quase inútil Clube dos Prefeitos, a corrida pelo protagonismo econômico no entorno da imbatível Capital desloca-se para a Região Oeste, ou Grande Osasco, integrada por oito municípios. Desde a chegada do Plano Real, em meados da última década do século passado, a biruta do desenvolvimento econômico virou. A Grande Osasco, beneficiada principalmente pelo trecho oeste do Rodoanel, praticamente empatou o jogo do PIB (Produto Interno Bruto) com a Província do Grande ABC. Algo impensável até então. A liderança da região economicamente plasmada pela indústria automotiva era considerada intocável no Interior da Região Metropolitana de São Paulo, comandada pela Capital.
A Província do Grande ABC ainda mantém tênue vantagem sobre a Grande Osasco quando se lança mão do PIB como principal medidor econômico. O PIB da Província do Grande ABC, ao final de 2010 (os dados mais atualizados pelos órgãos federais) atingia a R$ 84,8 bilhões, contra R$ 83,7 bilhões da Grande Osasco. Uma diferença ínfima. São 50,32% de participação quando se somam os números das duas áreas que acossam a cidade de São Paulo. Dos R$ 168,5 bilhões do G-15, soma do G-7 da Província e do G-8 da Grande Osasco, 50,32% representam o conjunto de valores monetários dos sete municípios locais. A Grande Osasco fica, portanto, com tiquinho menor, ou seja, 49,68%.
A diferença entre as duas áreas geográficas tão próximas fisicamente era maior em 1999, quando a Província chegou ao fundo do poço durante o governo Fernando Henrique Cardoso: eram 55,88% favoráveis aos sete municípios da região. Isso significa que, mesmo com a recuperação econômica durante o governo petista, a partir de 2002, quando o coquetel de consumo nacional privilegiou a produção automotiva, coração e alma da região, a Província do Grande ABC não conseguiu correr no mesmo ritmo da Grande Osasco.
Abrangência versus limitações
O trecho oeste do Rodoanel conta com 13 acessos que interagem no interior dos municípios locais ao abrir avenidas de oportunidades de investimentos principalmente no setor de serviços e de logística. Com isso, tornou-se muito mais envolvente como disseminador de desenvolvimento econômico do que o trecho sul, que apenas tangencia a Província do Grande ABC com apenas três anéis de acesso. A chegada do trecho oeste bem antes da construção do trecho sul, em 2002 ante 2010, acelerou o processo de deslocamento de plantas produtivas em direção à zona oeste da Região Metropolitana de São Paulo. É muito improvável, até porque os números preliminares de 2011 conduzem a essa conclusão, uma inversão da rota entre as duas áreas, distantes em particularidades sensibilizadoras de investimentos.
O trecho sul do Rodoanel, cantado em verso e prosa pelo governador Geraldo Alckmin e pelo deputado estadual Orlando Morando como a “melhor esquina do Brasil”, não demonstra na prática potencialidade suficiente para influenciar reviravolta regional. Embora faltem dados consistentes sobre o fluxo de veículos naquela serpentina de asfalto que rasgou áreas de mananciais, avaliações preliminares dão sustentação à tese de que a Baixada Santista é quem mais comemora os resultados do traçado. A viagem em direção ao Porto de Santos tornou-se muito mais rápida e econômica. Um presente dos céus para os ganhos de logística.
Embora as estatísticas mais antigas sejam precárias no País, é possível retroceder no tempo para dimensionar o tamanho da diferença de crescimento econômico entre a Província do Grande ABC e a Grande Osasco, ou Grande Oeste, desde a implantação do Plano Real. No primeiro ano pós-nova moeda, em 1995, o Valor Adicionado da Província (R$ 17,6 bilhões em valores nominais, ou seja, sem correção monetária) era 67,14% superior ao registrado pela Grande Osasco (R$ 5,7 bilhões também sem considerar a inflação do período). Na última ponta que disponibiliza números, em 2011, a diferença caiu para 31,95%, já que a Província do Grande ABC contabilizava R$ 68,5 bilhões contra R$ 46,6 bilhões da Grande Osasco. A velocidade média anual da corrida da indústria de transformação (esse é o conceito de Valor Adicionado) da Grande Osasco durante o período foi muito superior à da Província, sempre sem considerar a inflação: 44,20% ante 18,10%.
Velocidades distintas
Esses números podem parecer extravagantes, mas retratam a realidade do período. O Valor Adicionado da Grande Osasco entre 1995 e 2011 cresceu em termos nominais 707,20%, ante 289,73% da Província do Grande ABC. Por essas e por outras o jogo do PIB entre as duas áreas está tecnicamente empatado. A diferença na ponta da corrida em 1995, ultrapassava a 30%. A corrida da Grande Osasco foi, em média, durante o período, 59% superior à da Província do Grande ABC.
É possível que quando forem revelados os números do PIB de 2011, no final deste ano, a Província do Grande ABC seja superada pela Grande Osasco. A escassa diferença de pouco mais de R$ 1 bilhão apontada em 2010 deverá dissolver-se. O conjunto formado por Osasco, Carapicuíba, Barueri, Cotia, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande do Sul ultrapassaria, pela primeira vez na história econômica paulista, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Essa perspectiva está fundada na efetiva influência do Valor Adicionado nos resultados do PIB.
Os números do Valor Adicionado de 2011 indicam que a indústria de transformação do Grande ABC viveu período de dificuldades, mesmo com o setor automobilístico colhendo recordes sobre recordes. A participação regional no bolo nacional de produção de veículos de passeio é de 20%. Outro setor fortemente produtor de Valor Adicionado na Província do Grande ABC, a indústria química e petroquímica, passou por emagrecimento de receitas liquidas ao ser atingida em 2011 pela elevação do nível de importação de insumos.
Virada improvável
Valor Adicionado equivaleria na definição do PIB a uma espécie de primeiro tempo de um jogo de futebol, quando a vantagem no placar poderá ser decisiva no resultado final. Publicamos em setembro do ano passado os números oficiais do Valor Adicionado de 2011 dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, menos a Capital. Os resultados da Província do Grande ABC foram desastrosos. Santo André e São Bernardo tiveram os piores desempenhos em 2011 ao se classificarem entre os últimos quando os resultados são confrontados com os da temporada anterior e, com isso, comprometeram o resultado geral da região.
Em relação ao Valor Adicionado paulista a Província do Grande ABC foi 30% inferior em 2011. Já ante os integrantes do G-20, a queda relativa atingiu a 45%. É muito difícil acreditar que essas perdas não apareçam na contabilidade do PIB de 2011. Seria algo como sugerir que um time que vire o primeiro tempo com quatro gols de desvantagem será capaz de virar o jogo. Convém lembrar que a inauguração do trecho sul do Rodoanel à Província do Grande ABC se deu em abril de 2010. Ou seja, os possíveis benefícios econômicos já poderiam ter aparecido tanto em 2010 quanto em 2011.
Sete dos municípios que integram o G-20 Paulista, analisado já há tempos por CapitalSocial, estão no G-15, ou seja, no G-7 da Província do Grande ABC e no G-8 da Grande Osasco. Se Osasco não oferece grandes perspectivas de melhoria no PIB de 2011, porque ficou em último lugar no Valor Adicionado daquele ano, com crescimento de apenas 0,05%, Barueri, por outro lado, evoluiu consideravelmente: ficou em sexto lugar entre os 20 municípios, com avanço de 14,29% em relação a 2010. Bem mais que os 7,94 de Diadema (11ª colocada), que os 6,15% de Mauá (14ª), que os 4,77% de Santo André (15ª) e que os 3,10% de São Bernardo (17ª). São Caetano obteve a melhor colocação da região, com os 15,37% que lhe garantiram a quinta posição. O que pesa contra a Província do Grande ABC na quebra do Valor Adicionado e na possível contaminação do PIB de 2011 é a liderança econômica de São Bernardo, com quase 40% da representatividade econômica da região.
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