Dando sequência à mais recente série do desempenho econômico do Grande ABC durante os últimos 16 anos, ou seja, desde a implantação do Plano Real, sempre com dados oficiais, o que os sete municípios locais (G7) perderam em emprego industrial com carteira assinada (27.178) foi praticamente o que o G3 (Campinas, Sorocaba e São José dos Campos) aumentou de estoque (22.548). Mais emprego e menos emprego provocam reações, contrações e emoções no quadro de consumo. Não é por outra razão que o Grande ABC vê diminuir a participação relativa também no mapa de potencial de riqueza, expresso na especialidade da IPC Marketing, ex-Target, que tem à frente uma das maiores autoridades no assunto, Marcos Pazzini. Disso trataremos outro dia, com dados fresquíssimos.
Por sorte, o Grande ABC foi privilegiado pela política econômica do governo Lula da Silva, sobretudo na massificação de proprietários de veículos de passeio.
Embora o peso relativo das montadoras e autopeças de veículos no Grande ABC esteja distante do que se cristalizou nos anos 1970, já que responde por apenas 20% da produção, o volume é sempre extraordinário em ano de recorde histórico.
Não fossem os últimos anos de governo de Lula da Silva, dificilmente os municípios locais teriam amenizado a bancarrota herdada de Fernando Henrique Cardoso, período no qual o facão abateu mais de 80 mil cabeças com carteira assinada.
A participação relativa do emprego industrial com carteira assinada do Grande ABC no âmbito estadual e também em confronto com o G3 não sofre abalos imensuráveis apenas porque a indústria de transformação do Estado de São Paulo perde sistemático envolvimento nacional.
Tanto que em 1994, de cada 100 postos de trabalho no setor no País, 42,04% estavam registrados nas empresas paulistas. Com o governo FHC, a queda foi brutalíssima, para 34,97%. Ou seja, um rebaixamento de 16,81% — mais de 1% ano ano em média. Com o governo Lula e a valorização da indústria automotiva, entre vários setores industriais, os paulistas caíram bem menos ante os demais Estados da Federação e fixaram estacas de participação relativa de 33,96% de empregos industriais. Resultado ao final de 16 anos: queda relativa de 19,22% — ou queda média de 1,30% ano ano.
A participação relativa do emprego industrial do Grande ABC em nível nacional sofreu duros abalos porque em 1994 contava com 4,94% do estoque de carteiras assinadas no setor, caindo para 3,46% em dezembro de 2002 (queda de 30%) e ao final de 2010 contabilizando 3,28%, ou seja, redução de 5,20% em relação ao governo FHC. Ao final do período de 16 anos, o Grande ABC perdeu 33,60% de participação relativa no emprego com carteira assinada na indústria de transformação nacional — ou 2,10% em média por ano.
Isto quer dizer que acusamos queda de pouco mais de um ponto percentual a cada mil empregos industriais destruídos. Nesse período, o Grande ABC perdeu quase o dobro dos números anotados pelo Estado de São Paulo. Já Campinas, São José dos Campos e Sorocaba baixaram participação relativa nacional de 2,43% ao final de 1994 para 2,20% em dezembro de 2002 e 2,08% em dezembro de 2010. No confronto 1994-2010, perda de 14,40%, ou 0,9% em média por ano. Menos da metade do Grande ABC.
O Grande ABC contava em dezembro do ano passado com estoque de emprego industrial com carteira assinada 57,13% superior à soma de Campinas, São José dos Campos e Sorocaba. O que poderia ser saudado como grande notícia, na verdade é um alerta: o setor industrial do Grande ABC passou por duríssimas sessões de modernização tecnológica, logística, de recursos humanos e processos, mas ainda é comparativamente mais envelhecido que o G3.
A distância entre o Grande ABC e o G3, quando do lançamento do Plano Real, era de 103,10% de empregos industriais. Ou seja: para cada emprego na indústria de transformação no G3 havia dois empregos no G7. Dezesseis anos depois reduziu-se a diferença para 57,13%. Praticamente a mesma distância que separava o G3 do G7 ao final de 2002. Ou seja: para cada emprego no G3, um emprego e meio no G7.
É claro que o avanço do emprego industrial em Campinas, Sorocaba e São José dos Campos e o declínio em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra deixam sequelas e alegrias. O emprego industrial do G3 chegou juntamente com unidades produtivas mais modernas, estruturalmente mais enxutas. Diferentemente do Grande ABC de industrialização mais antiga, de custos mais elevados e de produtividade aquém da imperiosidade da competição internacional. Tudo isso levou à reorganização dolorosa que ainda não se encerrou. Até porque os chineses estão chegando para bagunçar o coreto de competitividade.
Também não custa lembrar, sempre e sempre, que as Regiões Metropolitanas de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos são muito mais que as individualidades territoriais de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. Outros estudos que já elaborei provam que há permanente descentralização industrial em direção às cidades-satélites, reservando-se às “capitais” fenômenos senão iguais, semelhantes aos que atingem a cidade de São Paulo.
O que significou o Grande ABC para amenizar as pressões sindicais e urbanísticas sobre São Paulo a partir de metade da década de 1950, significam os municípios periféricos de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. A chamada Grande São Paulo Expandida não se restringe, portanto, ao G3. Só a Região Metropolitana de Campinas, reconhecida pela legislação estadual, conta com 19 municípios, a maioria dos quais muito mais atrativa a investimentos industriais que a terra da Ponte Preta e do Guarani.
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