Economia

Recessão dilmista ainda
pesa no salário industrial

DANIEL LIMA - 06/03/2024

Se você acha que o salário médio industrial com carteira assinada nos três principais municípios já recuperou os valores impactados pela maior recessão da história da região, o período de 2015-2016 do governo de Dilma Rousseff, é preciso prestar atenção: acumulamos no período de 60 meses (restritamente entre os dois dezembros desse período, de 2016 a 2021) uma queda de 19%. Uma baita perda.

Não retrocedemos um pouco mais, colhendo os dados de dezembro de 2014 como base, porque o resultado seria ainda muito pior. Vamos deixar o que consistiria em sete anos para outro dia.

Agora nos fixamos nos cinco dos sete anos em que os prefeitos Orlando Morando, Paulinho Serra e José Auricchio estão à frente dos municípios que acumulam 70% do PIB Regional. Eles não têm muita culpa nesse cartório de empobrecimento salarial, embora um ou outro mal informado pretenda imputar seletivamente pesos distintos que eles não têm.

A ausência de Planejamento Econômico Estratégico é um vácuo que alcança os três prefeitos (e os outros quatro também), mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Num período tão curto, de cinco anos contabilizados pelo Ministério do Trabalho, seria demais exigir grandes transformações no tecido industrial da região. Mas já deveria ter sido dada a bandeirada de largada. Afinal, o que tantos agentes públicos, principalmente, e privados, fizeram ou não fizeram nas três décadas anteriores foi estarrecedor.

TUDO MEDIDO

Acabei de medir o que precisa ser medido para que, quando autoridades e curiosos se manifestarem sobre empregos com carteira assinada na região, tenham a consciência ética de que nem tudo são flores mesmo quando aparecem eventuais números brutos.  

O salário médio industrial em Santo André, São Bernardo e São Caetano perdeu 19% do valor médio registrado em 2016, quando se fechou o pior ciclo da maior recessão da região em toda a história. Não é pouca coisa perder tanto.

Nos cinco anos já disponíveis de dados detalhados sobre o comportamento do mercado de trabalho na região pós-estragos de Dilma Rousseff e também pós-2020 da fase mais tenebrosas do Coronavírus, a região contabiliza um saldo ainda negativo de 3913 empregos formais. Esse resultado é enganoso quando se pega o boi do esmiuçamento pelo chifre da exatidão. Embora o saldo entre contratações e demissões nos 60 meses seja levemente negativo, a massa salarial e o salário médio nos três municípios estão longe de tranquilizar.

Visto de perto, mas de muito de perto, diante da constatação de que a média salarial no setor industrial, a atividade que gera mais riqueza na região e no País, foi rebaixada em exatos 19,16%, a conclusão mais imediata é que estamos perdendo vitalidade produtiva. Mais perdas, de fato, porque essa toada vem de longe.

QUEDA E ESTRAGOS

No conjunto, São Bernardo, Santo André e São Caetano passaram de um estoque de 120.309 trabalhadores industriais em dezembro de 2016 e atingiram 116.396 em dezembro de 2021. Uma queda de 3.913 postos de trabalho, que não ultrapassa a 3% do estoque.  

Como os salários foram rebaixados nos três municípios, a massa salarial geral do setor industrial saiu de R$ 612.442 milhões em 2016 para R$ R$ 613.851 em 2021. Os números são semelhantes, mas precisam ser atualizados. O resultado de 2016, quando passa pela inflação do IPCA, que atualiza a moeda até dezembro de 2021, alcança R$ 784.845.673 milhões. Dessa forma, quando se confronta esse valor com o resultado de 2021, de R$ 613.851 milhões, a diferença é de 27,85% em termos de massa salarial. Para menor, claro.

Então, apenas para que não se confundam as bolas: o salário médio na região nos 60 meses pós-Dilma Rousseff caiu 19,16%, porque é o resultado da massa salarial de 2016 dividida pelo total de trabalhadores do setor e também, em seguida, resultado da massa salarial de 2021 dividida também pelo total de trabalhadores.

CAMINHOS PRÓPRIOS

Os números dos três municípios seguem caminhos próprios que interferem no conjunto final. São Bernardo é um caso emblemático porque conta com a maior média salarial dos trabalhadores industriais e ainda não recuperou o estoque de 2016. Contava com 74.939 postos de trabalho industriais e em 2021 registrava 70.408. Some-se a isso a queda do assalariamento médio, que era em valores nominais (sem contar a inflação) de R$ 5.552,25 em dezembro de 2016 e passou para R$ 6.003,36v em 2021.

A evolução nominal do salário médio em São Bernardo foi de 7,51% no período, enquanto a inflação registro 28,15%. O resultado de São Bernardo abalou mais fortemente o setor industrial dos três municípios. A massa salarial de São Bernardo em 2016 no setor industrial (R$ 416.080.063 milhões em valores nominais, saltou para $ 533.206.600 milhões com a correção monetária. Já em 2021, sempre em dezembro, a massa salarial de São Bernardo registrou R$ 422.684.571 milhões.

As perdas de São Caetano foram ainda maiores que as de São Bernardo, mas não impactaram tanto o conjunto dos três municípios por conta do tamanho do estoque. Em 2016 a média salarial em São Caetano era de R$ 4.849,22, enquanto em 2021 passou para R$ 3.816,35. Nota-se que nem mesmo acompanhou o processo inflacionário. A massa salarial de São Caetano em 2016 (R$ 97.484.417 milhões), corrigida a dezembro de 2021, passou para R$ 126.712.792 milhões, ante R$ 74.739.398 milhões apurados em 2021.

Com um terço do estoque de São Bernardo de emprego industrial, após quatro décadas de desindustrialização profunda juntamente com São Caetano, Santo André sofreu menos durante os cinco anos já contabilizados com dados do Ministério do Trabalho.

Em 2016, Santo André registrava massa salarial de R$ 98.878.496 milhões e em 2021 passou para R$ 116.427.382 milhões. Quando se corrige pela inflação o valor de 2016 até dezembro de 2021, Santo André sobe para R$ 126.712.793 milhões. A perda, portanto, é de pouco mais de R$ 10 milhões da massa salarial. Uma participação ínfima perto do total de R$ 170.994.322 milhões da massa salarial de dezembro de 2021 que faltou nos três municípios em relação a dezembro de 2016.

Só não é correto fazer com segurança uma conta que multiplique a perda de dezembro de 2021 frente a dezembro de 2016 multiplicando-se por 12 meses, para se obter o resultado da temporada inteira do mesmo 2021. O balanço dos dados de empregos formais é a soma de resultados mensais. Mas, apenas para se ter uma ideia da hecatombe, os quase R$ 171 milhões que sumiram dos salários industriais de dezembro de 2021 multiplicados por 12 meses daquela temporada, sem considerar o abono salarial, totalizariam R$ 2.051.993.184 bilhões nos três municípios. Mais que a Receita Total de São Caetano.



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