O perfil econômico e do empreendedor de São Caetano não é mais um segredo escondido sob os grandes pilares da economia do Município -- General Motors, Petrobras e Casas Bahia. A Associação Politeuo -- Rede Local de Economia Solidária esmerilhou as características da livre-iniciativa da cidade em estudo patrocinado pela Petrobras, orçado em R$ 187 mil e com duração de seis meses.
A pesquisa Trabalho Sociedade e Empreendedorismo integra o programa Empreendedor Solidário e foi realizada por equipe de economistas em 256 empresas. Além de aplicarem a pesquisa, os profissionais participaram de curso de capacitação de 32 horas e contaram com assessoria para solução de problemas comuns. O resultado foi apresentado em compêndio de 140 páginas e CD com material didático durante feira de negócios que encerrou os trabalhos em outubro de 2005.
O estudo considerou aspectos relacionados ao cotidiano da cidade e do empreendedor, bem como o perfil das finanças e da economia municipal. "Há uma análise aprofundada inclusive das ações e inações dos poderes público e político para a redefinição do caráter de desenvolvimento de São Caetano" -- diz o diretor da entidade Fábio de Jesus Barros.
São Caetano é o Município mais bem colocado no ranking municipal do IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), com 0,919. A cidade abriga 140 mil habitantes e tem nível de desenvolvimento humano equivalente ao da Nova Zelândia. Ocupa também a primeira colocação em longevidade com expectativa de vida ao nascer de 78,2 anos. São Caetano aparece ainda em segundo lugar no ranking de educação e em segundo lugar na dimensão renda. De todos os municípios mais bem classificados, é o que apresenta o desempenho mais equilibrado entre as três dimensões que compõem o IDH.
Problemas existem
Admirada pelos bons índices socioeconômicos, São Caetano não é isenta dos problemas que assolam o Grande ABC. "O paradoxo está no fato de a elevada qualidade de vida camuflar a inoperância histórica do Poder Público que, do ponto de vista econômico, tem sido pouco propositivo e quase sempre acomodado à inércia do mercado" -- diz Barros.
O então prefeito Luiz Tortorello chegou a presidir o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e no entanto São Caetano quase sempre apresenta soluções individuais e isoladas do contexto de regionalidade, sempre sob a alegação de que é cidade de Primeiro Mundo e não possui problemas.
Como exemplo do ritmo lento nas assertivas de desenvolvimento, o diretor do Politeuo cita o fato de São Caetano ter sido a última da região a possuir TV a cabo e fibra ótica. A oferta de pouquíssimas áreas físicas para novos investimentos exige dos agentes públicos pensamento diferenciado nas formas de desenvolvimento relacionadas a tecnologia de ponta como meio de reverter as perspectivas de estagnação econômica. "São Caetano precisa implementar incubadora de empresas a exemplo do que já foi feito em São Bernardo, Mauá e Santo André" -- sugere Barros.
Do diagnóstico consta que 24,64% dos empreendedores migraram do setor industrial, dos quais 67% optaram pelo setor comercial e os demais por serviços. A origem do capital inicial é própria em 78% dos casos e o maior problema apresentado é a gestão dos negócios.
Foram 46 consultorias voltadas estritamente para planos de negócios e 17 para a elaboração de preço de produto e outras tantas para sanar dúvidas sobre custo fixo e custo variado. "Os empreendedores abrem empresas e muitas vezes não têm a dimensão do que fazer para chegar ao sucesso" -- diz o diretor.
De qualquer forma, empreendimentos que duram mais do que 24 meses são considerados sucesso de acordo com dados do Sebrae, independentemente das margens de lucro. Isso porque cerca de 60% dos novos negócios fecham as portas antes de completar dois anos. No caso do estudo da Politeuo, 29% dos entrevistados têm negócio em atividade entre cinco e 10 anos. Outro dado que demonstra a consolidação das atividades é que 48% têm pelo menos um funcionário e somente 30,14% são totalmente familiar.
Quanto à idade, 40,23% dos entrevistados têm entre 40 e 50 anos, 23,44% entre 30 e 40 anos e 16,02% entre 50 e 60 anos. Número significativo nasceu no Grande ABC, o que comprova que a região antes tradicional em atrair trabalhadores de todos os cantos, hoje gera empreendedores. Mais do que isso, mantém essa nova geração residente na cidade: 80,24% dos empreendedores moram em São Caetano, dos quais 69,95% há mais de 20 anos. Dos entrevistados, 74% têm residência própria e 27,31% têm curso superior completo. As empresas formais correspondem a 63,14%, enquanto 66,35% operam o negócio em imóveis alugados.
Especialidades diversas
De modo geral, o empreendedor de São Caetano presente nas micro e pequenas empresas é um pouco engenheiro, contador, advogado trabalhista, economista e psicólogo. "São verdadeiros heróis" -- diz Barros.
O estudo detalha com esmero a constituição de cada um dos 15 bairros, analisa a formação e expansão e destaca os aspectos mais importantes para o desenvolvimento econômico. O mapeamento contribui na identificação de excessos e carências econômicas e norteia na abertura de novos negócios.
Dois bairros são paradigmas na medida em que o desenvolvimento sempre esteve vinculado à atividade econômica: o Fundação, por conta das indústrias Matarazzo, e o Cerâmica que abrigou a atividade ceramista. Quando as empresas fecharam as portas essas áreas não encontraram alternativas para avançar. Durante 36 anos a Matarazzo produziu BHC (hexaclorociclohexano) em São Caetano, até a proibição em 1985; assim como a Cerâmica São Caetano que iniciou a operação em 1912 e só puxou o freio em 1990. "É recomendável que se aprofundem as discussões a respeito das alternativas para essas e outras áreas da cidade" -- explica Fábio de Barros. O estudo propõe investimento arrojado em programa de reorganização econômica espacial, que passa pela necessidade de fortalecer as vocações locais.
Além disso, a conclusão do trabalho aponta questões que devem nortear a agenda futura da cidade. A discussão em torno da questão do emprego tem tópico destacado por ser considerada fundamental para a organização da sociedade. Outros pontos relevantes para dar continuidade ao trabalho são o reconhecimento da importância da diversidade na história do desenvolvimento local, valorização e participação comunitária, viabilização de estudos e pesquisas, novo modelo de desenvolvimento, planejamento de bairros, fortalecimento da participação regional, valorização de parcerias e do empreendedorismo, capacitação ocupacional e intermediação de mão-de-obra, adequação da logística, definição de prazos e metas para equacionar problemas sociais e discussão sistemática sobre a vocação econômica local.
A Associação Politeuo é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), sem fins lucrativos que desenvolve trabalhos voltados ao fortalecido da rede de economia solidária. Está em atividade desde 1999 e para 2006 prepara novo estudo para otimizar o que foi desenvolvido este ano. "Vamos fazer um upgrade, mas dependemos de patrocínio para a execução do projeto" -- diz Barros.
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