A descentralização industrial do Brasil, movido à guerra fiscal e outros balangandãs fartamente bancados por Estados e Municípios, quando não pela União, é uma das muitas faces explicativas da desindustrialização do Grande ABC na última década do século passado. Um dos resultados explícitos é que os sete municípios locais pesam cada vez menos no bolo nacional. A partir do Plano Real — pouco antes disso se iniciou o processo, mas faltam informações que exprimam dados comparativos com a segurança que preservo — o Grande ABC perdeu persistentemente a capacidade de geração de empregos industriais com carteira assinada que rivalizasse com o País. Ou seja: por mais que tenha reagido durante o governo Lula da Silva, o Grande ABC não consegue impedir a supremacia do restante do País.
Enquanto nos 16 anos dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva acumulamos o esgotamento líquido de 27.178 empregos na indústria de transformação, o que equivale a 18 fábricas da Bridgestone Firestone de Santo André, o Brasil elevou em mais de dois milhões (exatamente 2.007.357) o estoque de trabalhadores do setor. Um crescimento de 35,84%, contra queda de 9,82% do Grande ABC.
O período lulista foi infinitamente melhor em termos de emprego industrial com carteira assinada no Brasil frente ao governo fernandohenriquista. Com Lula, saímos de um estoque de 5.642.941 carteiras assinadas e atingimos 7.607.241 (crescimento de 34,80%). Com Fernando Henrique Cardoso o avanço foi quase imperceptível, de 5.599.241 para 5.642.941 — ou apenas 43.057 de saldo. Só o Grande ABC perdeu em números redondos 81 mil postos.
A perda em números absolutos e também em números relativos do estoque de empregos industriais no Grande ABC nos 16 anos de Plano Real encerrados em dezembro do ano passado não é fantasia partidária ou ideológica que marqueteiros eleitorais costumam manipular. Trata-se de realidade pura e cristalina.
Em dezembro de 1994, ano de lançamento do Plano Real, a indústria do Grande ABC representava 4,94% dos empregos formais no País. Ou seja: de cada grupo de 100 trabalhadores industriais com carteira de trabalho, 4,94% estavam no Grande ABC. Quando Fernando Henrique deixou a presidência, em dezembro de 2002, o índice foi rebaixado a 3,46% — ou seja, uma queda relativa de 30%. Nos oito anos de Lula da Silva o índice sofreu pequena queda em relação a 2002 (3,28%) mas se manteve distante do tiro de partida do Plano Real. Ou seja: Lula praticamente estabilizou a participação do emprego industrial com carteira assinada no Grande ABC quando confrontada com o conjunto do País.
Quando se utiliza o mesmo enredo estatístico, trocando-se apenas o Brasil pelo Estado de São Paulo, tem-se importante prova, mais uma, de que os paulistas andam batendo cabeça na disputa por investimentos e empregos industriais de qualidade. E estão perdendo de goleada para muitas áreas do País.
Em 1994 o Grande ABC registrava 11,75% de participação relativa no emprego industrial dos paulistas, caindo para 9,90% no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso e decrescendo levemente ao final do governo Lula da Silva, com 9,65% dos postos de trabalho industriais no Estado. A parda relativa do Grande ABC ante o Estado de São Paulo durante os anos FHC foi de 15,74% e nos anos Lula de 2,52%. Somando-se os dois períodos, o Grande ABC acusou baixa relativa de 9,65%.
A situação de perda de emprego industrial do Grande ABC em relação ao Brasil durante o governo Fernando Henrique Cardoso foi menos grave que do Estado de São Paulo ante o Brasil. Os paulistas perderam participação relativa no emprego industrial com carteira assinada de 16,81% no período de Fernando Henrique Cardoso e de apenas 2,88% durante a gestão de Lula da Silva. No somatório dos dois períodos, o Estado de São Paulo caiu 19,22%. O Grande ABC, depois do tombo nacional durante a gestão FHC de 30%, reagiu durante Lula e reduziu o desastre a menos de 10%. Os paulistas caíram praticamente o dobro. É claro que a indústria automobilística fez a diferença.
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