Economia

Céu de São Caetano
passa a ser o limite

DANIEL LIMA E ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/05/2003

O Principado de São Caetano -- como o prefeito Luiz Tortorello costuma se referir aos 15 quilômetros mais privilegiados da infernal Grande São Paulo -- não quer viver do título de campeão nacional de qualidade de vida. Como recomendou LivreMercado em Reportagem de Capa de fevereiro último, São Caetano decidiu colocar a mão na massa para não deixar cair a peteca dos indicadores sociais por causa da permanente perda de receitas orçamentárias. Só nos últimos sete anos, foi para o ralo um terço do ICMS distribuído pelo governo do Estado. Por isso, o céu passou a ser o limite do desenvolvimento imobiliário.


 


Não foi essa expressão que o prefeito Luiz Tortorello utilizou no encontro reservado com perto de 100 agentes imobiliários no mês passado. O homem que comanda o Município com punhos de ferro foi mais cuidadoso. Mas deixou claro à platéia e aos companheiros de exposição que São Caetano é espécie de Município de borracha, pronto para ter a elasticidade legal que os investidores pretenderem para amenizar pela vertical as dores da horizontal. Ou seja, permitirá crescimento para o alto, já que não conta com o privilégio de um mapa geográfico mais amplo.


 


Foi a primeira reunião setorial do Condec (Conselho de Desenvolvimento Econômico de São Caetano). A previsão é de muitos outros encontros, depois de longo descanso do braço de incentivo aos negócios que a Prefeitura criou há dois anos. O presidente do Secovi (sindicato das imobiliárias e construtoras do Estado), Romeu Chap Chap, falou o óbvio a uma platéia de profissionais que conhecem todas as nuances da atividade: para o investidor residencial, um dos nichos principais da pregação de Tortorello, o custo da edificação é o mesmo em qualquer Município, mas a decisão de construir depende das leis de mercado sobre as quais os valores do terreno e o total de unidades habitacionais fazem a diferença. Para uma São Caetano sem espaço horizontal, a saída é vertical.


 


Cuidados urbanos


 


Aspectos como o risco de saturação do sistema de serviços públicos não foram nem de leve mencionados. Como se sabe, quanto mais se cresce para cima, mais cuidados se deve tomar com o impacto no abastecimento de água, energia elétrica, saneamento básico, sistema viário e mesmo telefone. Liberal, o prefeito Luiz Tortorello não vê problemas em acertar as arestas. Técnicos da Prefeitura, Legislativo, população, todos contribuirão para manter São Caetano arrecadadora de impostos suficientes para sustentar o primeiríssimo lugar no quesito qualidade de vida.


 


A flexibilização das leis de uso e ocupação do solo em São Caetano, portanto, não vai impedir a ocupação de espaços que aparentemente não existem. Só aparentemente, porque até mesmo para atividades econômicas São Caetano vai dar a solução-borracha, se necessário. Tanto que Fausto Cestari, vice-presidente do Condec, listou quatro bairros, o Centro e a Avenida Goiás para dar vazão ao eventual apetite de empreendimentos, principalmente de comércio e serviços, já que há muito as indústrias encontraram melhores alternativas de custo no Interior.


 


Dos bairros listados, apenas o Cerâmica, em área desocupada por indústria da Família Mattarazzo, está às vésperas de, finalmente, ganhar um projeto, depois de mais de dois anos de anunciado. Os 360 mil metros quadrados do chamado Pólo Tecnológico abrigariam empresas de chips, prestadoras de serviços financeiros e de informática, entre outras, além de centro comercial e residencial.


 


Trata-se de projeto arrojado que deve despertar tanto interesse quanto cautela. Afinal, foi formulado nos tempos em que São Caetano praticava guerra fiscal, com alíquota de 0,25% de ISS (Imposto Sobre Serviços). Uma farra que o Congresso Nacional bombardeou no final do ano passado com a introdução de alíquota mínima de 2% e que a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, detonou ao decidir competir diretamente com toda a vizinhança igualmente sedenta de ganhos tributários. 


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