Economia

Não ficamos nem
entre 10 melhores

ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/07/2006

Dono do terceiro potencial de consumo do País, o Grande ABC registra desempenho modesto no ranking das 100 melhores cidades brasileiras para trabalhar, compilado pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e publicado na revista Exame — Você S/A, da Editora Abril. Com exceção de São Caetano, que chegou na 12ª posição, outros municípios da região ficaram muito aquém do sugerido pela densidade histórica e econômica. São Bernardo foi a 25ª colocada, Santo André a 37ª e Diadema obteve a 86ª posição. Mauá nem ficou entre as 100 e Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não foram avaliadas por não reunir requisito populacional mínimo de 170 mil habitantes.


 


Aos desavisados, o panorama geral de quatro inseridos na lista das top 100 é digno de champanhe. Mas a interpretação é bem diferente para os que enxergam além da superfície e levam em conta a perspectiva histórica.


 


O Brasil tem mais de cinco mil municípios, mas apenas 126 preencheram o pré-requisito para participar do ranking dos 100: população de 170 mil habitantes ou R$ 210 milhões em depósitos à vista. Prestar atenção ao corte metodológico é fundamental para não cair na conversa de eventuais ufanistas que queiram utilizar a listagem para vender imagem excessivamente rósea do Grande ABC.


 


Se para as cidades mais populosas da região a participação é praticamente compulsória, menos para Mauá que integrou as 26 barradas do baile, a verdadeira questão é a posição relativa no universo das listadas. E esse foco interpretativo torna o cenário geral nada empolgante.


 


As demais cidades


 


São Bernardo merecia mais que a 25ª colocação, a julgar pelo status de berço automotivo que entre as principais exportadoras e geradoras de impostos do País. Santo André, na 37ª, comeu poeira de muitos municípios interioranos sem o mesmo histórico urbano e industrial. E a 86ª posição de Diadema não chega a surpreender. Por que, com exceção de São Caetano e de Mauá, em cantos opostos, as outras cidades foram meramente figurantes?


 


Basicamente porque a riqueza herdada do passado contrasta com o presente de baixo dinamismo. Ao não desenvolver matrizes alternativas e ao depender da indústria automobilística em flagrante dieta ocupacional, a região não oferece perspectivas profissionais que contam pontos preciosos.


 


Tampouco o Pólo Petroquímico de Capuava — a outra perna econômica do Grande ABC — poderia incluir Mauá e guindar Santo André à posição mais favorável. O pólo esta em processo de expansão, mas é tão intensivo em investimentos financeiros quanto econômico em absorção de mão-de-obra. Daí resulta o imperativo de desenvolver a cadeia de terceira geração plástica.


 


O tônus econômico refletido na identificação de setores produtivos em ascensão é apenas um dos atributos valorizados no levantamento. Os pesquisadores da FGV do Rio de Janeiro também levaram em conta valores de ISS (Imposto Sobre Serviços) e PIB (Produto Interno Bruto) per capita, além de indicadores de saúde e educação que, em grande medida, dão o tom do nível de qualidade de vida.


 


Por isso São Caetano chegou em 12º lugar. Com ISS inflado pela guerra fiscal, renda per capita entre as mais elevadas do País e indicadores sociais inversamente proporcionais à dimensão territorial de apenas 15 quilômetros quadrados para 130 mil habitantes, a cidade exala senso de organização e controle ao gosto dos aspirantes profissionais que formam o público da Você S/A.


 


As 10 melhores cidades para trabalhar são, pela ordem, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília, Recife, Campinas, Vitória e Niterói. Das 100 listadas, 54 estão no Sudeste do País — São Caetano fica em sétimo lugar, São Bernardo aparece em 14º, São André em 20º e Diadema em 47º.


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