Enquanto o presidente da Associação dos Construtores do Grande ABC, Milton Bigucci, segue desfilando números fantasiosos do mercado imobiliário, como o fez mais uma vez nas páginas de jornais de ontem, mais os pequenos e médios empresários do setor, na totalidade de empresas familiares que há muito atuam na região, se sentem desprezados e desrespeitados.
Essa é a conclusão de CapitalSocial após ouvir novamente pequenos empreendedores que têm receio de se exporem publicamente. Eles consideram Milton Bigucci permanente ameaça à competitividade no mercado. Além de grande porte do conglomerado MBigucci, o dirigente tem relações próximas a uma série de instituições que comandam a política, a mídia e instâncias públicas para sustentar uma realidade fictícia.
Para esses empresários, chega ao limite do deboche mais uma entrevista coletiva em que Milton Bigucci fez um balanço considerado fantasioso do mercado imobiliário da Província do Grande ABC. Segundo o dirigente da Associação dos Construtores, a região superou em 2012 as expectativas ao atingir a venda de 9.407 imóveis, uma alta recorde de 28,74% sobre os números de 2011 e, mais uma vez, causar inveja à Capital vizinha, que no mesmo período apresentou avanço de apenas 4,8%. O espalhamento de micos imobiliários na região e o quadro macroeconômico, com quebra de milhares de empregos industriais, são apenas alguns pontos que ridicularizam a numeralha bigucciana.
Pequenos e médios empresários do setor imobiliário repetem uma denúncia que CapitalSocial frequentemente transmite: as planilhas montadas por Milton Bigucci não têm engenharia estrutural alguma que possa ser minimamente levada a sério. Trata-se de uma investida puramente de marketing, sem fundamentação científica. Não há quadros de especialistas, muito menos metodologia, quanto mais planificação, para a Associação dos Construtores aferir com segurança o pulso do mercado imobiliário na região. Milton Bigucci é acusado mais uma vez de fazer de cada balanço anual do setor na região uma prova permanente de inventividade à qual também se submete o Secovi, o Sindicato da Habitação, principal financiador da estrutura funcional da Associação dos Construtores. Nada mais autoexplicativa: a entidade conta com reduzidíssimo quadro de filiados.
Silêncio como resposta
A propósito, CapitalSocial vem há muito tempo exercendo a função social própria do jornalismo e a exigir transparência do comando na Associação dos Construtores. A resposta do dirigente é sempre a mesma: silêncio total, como se não tivesse de prestar contas à sociedade. Um acinte, porque o setor imobiliário tem imbricamento direto com os interesses da comunidade. Tanto tem que o governo federal aperfeiçoa mecanismos legais para incrementar financeiramente a atividade, um dos setores responsáveis pelo brilho mesmo que opaco do PIB (Produto Interno Bruto) dos dois últimos anos.
O anonimato dos pequenos e médios empresários faz parte do acordo que CapitalSocial aceitou como contrapartida à tomada de pulso do setor, já que o oficialismo da Associação dos Construtores é mais que suspeito, é um desrespeito à sociedade.
O descrédito da Associação dos Construtores, há mais de duas décadas sob o controle de Milton Bigucci, já levou parte desses empreendedores a sugerir a formação de uma nova entidade, mas a proposta não prosperou. Pretende-se, apesar das armadilhas legais protecionistas criadas durante a longa gestão de Milton Bigucci, desalojar o eterno presidente do cargo.
Trata-se de um desafio e tanto. O entorno de Milton Bigucci, que inclui também, desde há algum tempo, o suporte político do prefeito Luiz Marinho, opõe muitas dificuldades ao rompimento do cerco de proteção que o torna utilíssimo à manutenção de interesses cruzados.
O Escândalo do Marco Zero, área pública de São Bernardo arrematada de forma irregular pela MBigucci, exemplifica bem o estágio de cumplicidades a envolver Prefeitura e o presidente da Acigabc. O Procurador-Geral do Município engavetou a denúncia, após declarar a CapitalSocial que se tratava de desvio gravíssimo a determinar punições a servidores públicos.
Pulverizados e desorganizados, mais de meia centena de pequenos empreendedores do setor imobiliário estão à deriva, segundo afirmações de vários de seus representantes. A quase totalidade dessas organizações já integrou a Associação dos Construtores, mas se afastou quando se constataram privilégios e exclusivismos sempre com o protagonismo de Milton Bigucci. Há demandas que simplesmente não passam pelos corredores das prefeituras. Quem não tem padrinho está morrendo pagão.
Ramal da MBigucci
O caso do terreno entre a Avenida Kennedy e Avenida Senador Vergueiro, delituosamente arrematado pela MBigucci, contribuiu ainda mais para novos afastamentos. Há inconformismos quanto à modalidade de participação adotada pelo dirigente da MBigucci. Nenhum associado ou ex-associado da entidade com sede em São Bernardo recebeu qualquer comunicado, em julho de 2008, sobre o leilão daquela área. O assunto foi tratado a sete chaves.
Há contestações contundentes contra o presidente da Associação. Ele é acusado de infiltrar-se nos corredores de administrações públicas em nome da Associação dos Construtores, mas agir sempre e preferencialmente em nome de seus interesses empresariais. Ou seja, a Associação dos Construtores não passa de um ramal da MBigucci. A privatização da entidade causa revolta, o afastamento de associados do setor de construção é compulsório, mas há vozes que ponderam no sentido de que a situação só beneficia Milton Bigucci, que se sente ainda mais confortável para agir.
CapitalSocial cumpre rigorosamente a função social que o exercício do jornalismo recomenda, apesar de encontrar inúmeras dificuldades para manter a sociedade informada sobre o comando da Associação dos Construtores. CapitalSocial entende que a atuação de Milton Bigucci é nociva a qualquer universo que tenha como conceito o critério de responsabilidade social. As tentativas do empresário de silenciar este jornalista reverberaram como palavra de ordem de resistência, porque é assim que a mídia mais responsável reage aos ditadores de plantão. E Milton Bigucci com o vezo judicialista de acreditar que é vítima de um processo no qual de fato é vilão de corpo e alma não deixará de constar da pauta desse veículo de comunicação. Mesmo que tente transformar essa medida saneadora em perseguição, uma velha tática defensivista que pretende desclassificar quem não se atemoriza.
Os pequenos negócios familiares do setor de construção civil e milhares de proprietários de habitações não podem continuar a ser manipulados por uma entidade que não honra os conceitos éticos de seus idealizadores.
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