Os números são exclusivos e não podem faltar a estudiosos ou curiosos que pretendam entender o que aconteceu nas duas últimas décadas: o Grande ABC recuperou durante o governo Lula da Silva dois terços dos empregos industriais com carteira assinada que o governo Fernando Henrique Cardoso destruiu nos oito anos anteriores. Sugiro que os leitores menos acostumados com meus textos contenham o ímpeto ideológico e entendam que se trata única e exclusivamente de análise jornalística. O tratamento partidário deixo para quem de direito.
Com FHC e a política suicida de abertura indiscriminada do setor automotivo, juros elevadíssimos e guerra fiscal, entre outras artilharias pesadas que atingiram em cheio o coração econômico do Grande ABC, perdemos exatamente 81.327 empregos com carteira assinada na indústria de transformação.
Os dados são oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho, mas não estão disponíveis de forma organizada. Tratei disso nos últimos dias, após o anúncio dos números do ano passado. Sistematizar dados dá muito trabalho. São horas de dedicação absoluta.
Com Lula da Silva a incentivar o consumo e a financiar a perder de vista a compra de automóveis, nosso carro-chefe industrial, o Grande ABC recuperou 54.149 postos de trabalho. Resultado da ópera de 16 anos: uma perda líquida de 27.178 trabalhadores industriais, ou 9,82% do efetivo em 16 anos. Contávamos em 1994 com 276.650 empregos industriais com carteira assinada. Ao final de 2010 registrou-se o total de 249.472.
Possivelmente esses números não explicitem a dimensão do que foi o desastre do governo Fernando Henrique Cardoso para a indústria regional, tampouco a recuperação nos anos Lula da Silva.
Imaginem então que durante FHC perdemos 27 fábricas do tamanho da Bridgestone/Firestone de Santo André. E com Lula conseguimos erguer 18 fábricas. Não é pouca coisa. Quem acreditar que tudo isso é obra do acaso, de fluxos e contra-fluxos macroeconômicos, certamente desconhece as especificidades da economia do Grande ABC.
Mesmo com a dependência exagerada do setor automotivo, o que nos leva à doença holandesa sobre a qual tanto já escrevi, conseguimos sair do redemoinho da desindustrialização renitente.
O que é desindustrialização renitente? É a perda encavalada de postos de trabalho, de unidades produtivas e de Valor Adicionado, medida de produção da indústria de transformação.
Tudo isso ocorreu no Grande ABC ao longo do período Fernando Henrique Cardoso. Perdemos um terço do Valor Adicionado e mais de 80 mil empregos com carteira assinada. E, mesmo com a miniaturização industrial, de pequenas empresas montadas por ex-trabalhadores, até mesmo o universo de fábricas encolheu.
Vivemos o pior dos mundos durante o governo Fernando Henrique Cardoso sem que a maioria se desse conta disso. E quem se deu foi amaldiçoado pelos conservadores de centro direita. A turma de centro-esquerda ficou na moita porque se botasse a cabeça de fora poderia ser acusada de provocar a represália tucana por conta do movimento sindical.
Aumentar o cacife de empregos industriais não é necessariamente prova de que a desindustrialização foi estancada, porque muitas fábricas ainda podem estar batendo asas em busca de benefícios diversos oferecidos por prefeituras interioranas. Em contraposição, grandes e médias corporações estariam engrossando fileiras com contratações. O Valor Adicionado também poderia acusar novos golpes.
Não creio, entretanto, que esse seja o caso do Grande ABC. Ainda há evasão industrial em unidades produtivas, mas nada que caracterize para valer o conceito de desindustrialização que, como já escrevi no passado, tem muitas faces. Tanto que o Valor Adicionado subiu sistematicamente nos últimos anos e, como o emprego, reduzirá o buraco deixado por FHC.
No conjunto da obra do emprego industrial com carteira assinada nos 16 anos de governos tucanos e petistas, tendo como base os dados de 1994, chegamos em dezembro de 2010 com perda de 9,82%.
A importância dos anos Lula da Silva é decisiva para a recuperação do Grande ABC, já que ao final de 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, estávamos encalacrados com acúmulo de 29,39% de perda de emprego industrial com carteira assinada em relação a dezembro de 1994.
Para que os leitores possam entender o que de fato ocorreu nestes 16 anos de fundas transformações no tecido industrial brasileiro, principalmente no Grande ABC, farei algumas comparações interterritoriais, mas não neste texto.
Saberia responder o leitor qual foi o Município da região que alcançou os melhores resultados em emprego industrial com carteira assinada quando se somam os governos de FHC e de Lula? Duvido que se tivesse apenas uma alternativa a maioria acertasse. E quem mais perdeu, sempre em relação ao que detinha na base de comparação?
Deixo as respostas e novos dados para um próximo texto.
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