Volto ao assunto porque o noticiário desta terça-feira assim o determina. Trata-se da festinha mequetrefe que a Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC) promoveu ontem como peça de marketing para aumentar o cacife de seu presidente, o empresário Milton Bigucci, nos escaninhos do Poder Público.
Das matérias publicadas em veículos impressos e digitais, fico com a do Repórter Diário, que avançou na contextualização da temática abordada durante o almoço com cinco dos deputados do Grande ABC eleitos à Assembléia Legislativa. Outros deputados eleitos ou na corda bamba não deram as caras. Tratou-se, veja só a cara de pau do anfitrião e dos deputados presentes, de pretensa disposição de evocar ações pró-regionalidade. A expressão pecaminosa “bancada do Grande ABC”, desmoralizada pela inação, retornou ao léxico de sem-vergonhice institucional.
Antes que os deputados em questão se sintam alvos de críticas que veem a seguir, convém uma explicação. Na realidade eles não devem ser responsabilizados individualmente por pretenderem vender gato de interesse político específico por lebre de propensão tática à regionalidade.
Espertos, como todos os políticos devem ser num País consagrado pelo jeitinho, Orlando Morando, Donisete Braga, Vanessa Damo, Alex Manente e José Bittencourt querem apenas se ajeitar na plataforma do politicamente correto da integração regional. Há ainda quem acredite nisso.
Pena que os deputados estaduais presentes ao evento não perceberam que, juntamente com os troféus de acrílico da entidade sem representatividade de Milton Bigucci, aceitaram também, provavelmente por diplomacia, a demagogia de uma suposta pauta de valorização regional brandida pelo dirigente do mercado imobiliário.
Tudo bobagem, porque Milton Bigucci faz parte de fauna empresarial que comanda instituições do Grande ABC cujo esporte preferido nas duas últimas décadas é usar e abusar de frases feitas e de clichês de roupagem social e desenvolvimentista.
O legado que deputados federais e deputados estaduais eleitos ao longo dos anos com votos predominantemente do Grande ABC — ou sob influência de infraestrutura de campanha centralizada aqui — é de completo alheamento às ações coletivas regionais.
Houve muita encenação nesse período, gente imaginando que enganaria o tempo todo, medidas pontuais à transferência de recursos públicos estaduais e federais aos respectivos redutos eleitorais, mas o que chamaria de atividades parlamentares extramuros, de sustentabilidade regional, muito acima dos interesses partidários, isso tudo não passa de déficit irrebatível.
Deputados estaduais e deputados federais ainda carregam fardo de competitividade autofágica, se autofagia no caso for entendida como responsabilidade social. Eles detestam dividir pautas porque cada um que ficar com o maior filão. E depois veem a público afirmar que a agenda de regionalidade depende da demanda da sociedade civil. Como se o Grande ABC tivesse sociedade civil organizada.
Depois de receber respostas de mais de uma centena de conselheiros editoriais da revista LivreMercado sobre vários aspectos relacionados diretamente ao Grande ABC e, particularmente, da atuação de deputados e vereadores, sinto-me reconfortado.
Também me senti nos céus quando desembarcou em meu computador o que esses representantes da classe média do Grande ABC, formadores de opinião, pensam das lideranças sociais, empresarias e sindicais.
Querem saber o que penso depois da manifestação da maioria dos conselheiros sobre as atividades dos parlamentares e das chamadas lideranças empresariais, sindicais e sociais?
Simples, muito simples: sinto-me muito mais autorizado ainda a dizer que a classe de vereadores e deputados precisa sair do mundinho em que se meteu há muito tempo e partir para ações práticas.
Por isso, a homenagem de Milton Bigucci aos cinco deputados que caíram na armadilha de comparecer ao almoço de uma entidade sem lastro, de uma entidade ignorada pela própria classe que supostamente representaria, porque essa mesma classe foi ignorada pela direção da entidade, a homenagem, repito, é uma tremenda furada à imagem dos legisladores. Até porque ressaltam desconfiança de que possível caixa dois eleitoral teve ramificação naquela casa empresarial.
Acertaram na mosca os demais deputados que declinaram do convite. O descaramento de Milton Bigucci ao avocar liderança pró-regionalidade tem o mesmo significado de o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad indicar a própria candidatura ao Prêmio Nobel da Paz.
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