Está no Diário do Grande ABC de hoje em manchete de página de Política — aliás, o local apropriado — a principal atividade da entidade dirigida pelo empresário Milton Bigucci, a Acigabc, Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC. Vão estar lá em almoço de gala, segundo o jornal, todos os deputados estaduais e federais do Grande ABC eleitos em outubro último. Milton Bigucci, marqueteiro de primeira ordem, chama o encontro de “União pelo bem do Grande ABC”. É impressionante como reduz o Grande ABC ao calibre dos próprios interesses.
Há duas décadas comandando de fato ou de direito a Acigabc, Milton Bigucci é conhecido nos escaninhos dos poderes públicos como empresário habilidoso para falar em nome de seus empreendimentos. Como fala e fala muito bem em nome de seus empreendimentos, a classe da qual faz parte que se dane. Menos os mais chegados. Fachada democrática é fórmula para disfarçar a inoperância ditatorial.
Os interesses da MBigucci, empresa familiar que dirige com grande sucesso, são o braço clandestino da Acigabc. Como é um braço clandestino, é claro que os demais representantes do setor — ou principalmente a grande maioria que quer distância da entidade por conta dos vícios acumulados ao longo dos anos — querem mesmo é se afastar do todo-poderoso. Não falta, entretanto, quem se opõe apenas estrategicamente, para, em seguida, lambuzar-se de vantagens corporativas.
O almoço de hoje na Acigabc é apenas disfarce mal-ajambrado do lobby bigucciano. Sei lá se todos os parlamentares participarão do encontro. Em tempos menos escancaradamente intestinais, de proximidade espúria entre a classe política e uma atividade marcada pelo poder de sensibilização do eleitorado por vias transversas, como se denunciou ainda recentemente com uma ramificação paulistana, o almoço seria indigesto. Principalmente quando exposto publicamente.
Perdeu-se a compostura. Afinal, Milton Bigucci e a entidade que preside não construíram passado nem presente que recomendem aproximação tão estreita com os parlamentares. Exceto, é claro, se por baixo do pano de financiamento eleitoral e também por trás das cortinas de incursões privilegiadas no genoma do mercado imobiliário constem razões que a própria razão desconhece.
Mobilizem-se as Madres Terezas que descobrimos durante vários anos nas periferias do Grande ABC e se metam a tentar reunir esses mesmos convidados de Milton Bigucci e vejam o que aconteceria, principalmente depois de eleições. Antes, é possível até que todos acorram aos territórios de exclusão social. Mas depois, duvido que se mobilizem tanto para visitas de solidariedade e de comprometimento com recursos financeiros que aliviem a dor dos menos favorecidos.
Nossos parlamentares não têm a vocação descomprometida de José Monte, presidente da Coop, um andarilho a colecionar endereços nos quais é pungente, magnífica e restauradora da fé humana a atuação de Madres Terezas e Freis Galvão.
Seria o encontro desta segunda-feira na Acigabc a senha de compromissos eleitorais cumpridos rigorosamente pelos rastreadores seletivos do setor imobiliário no Grande ABC ou o abracadabra a novos relacionamentos, agora que as urnas confirmaram quem é quem na política regional? Errou quem optou pelo primeiro enunciado ou pelo segundo. Estaria certo quem matou a charada de que as interpretações não são excludentes.
O almoço na entidade de Milton Bigucci deveria ser rotulado de algo como “Pelo bem de meus negócios e dos negócios de meus amigos”. Só está faltando o irmão siamês de Milton Bigucci, Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo do Campo) programar algo parecido nos próximos dias. Não é de se duvidar. Eles são especialistas em produzir espumas.
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