Economia

Empreendedorismo da Província
perde ritmo no interior do G-20

DANIEL LIMA - 04/04/2013

A Província do Grande ABC, recordista de queda do PIB (Produto Interno Bruto) ao longo dos anos 1990, quando passou por duras transformações, continua a ratear. Dados exclusivos obtidos por CapitalSocial junto à empresa IPC Marketing Editora, responsável entre outros estudos pelo Índice de Potencial de Consumo mais respeitado do País, indicam que a velocidade do que poderia ser chamado de empreendedorismo está aquém da média dos municípios mais importantes do Estado.


 


O G-20, agrupamento criado por CapitalSocial, envolve cinco municípios da Província e outros 15 do Estado de São Paulo. Comparações do que poderia ser chamado de G-5 (Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá) com o G-15 (ou seja, os demais endereços municipais do G-20) são a melhor maneira de medir diferentes indicadores econômicos, sociais, criminais e tributários.


 


Agregar números dos municípios da região (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não constam da lista do G-20 porque têm presença apenas residual entre os municípios locais) sem oferecer a contrapartida de confronto com os municípios de maior poderio econômico do Estado é a pior maneira de desvendar eventuais mistérios que cercam a realidade regional.


 


O mapa do empreendedorismo do G-20 é a melhor alternativa para se aferir sob o ponto de vista de quantidade, não necessariamente de qualidade, o quanto a Província do Grande ABC tem avançado ou não no quesito.


 


E o que saltam das planilhas quando se coloca a linha do tempo em análise, entre 1999 e 2012? O estudo do IPC Marketing confirma na quantidade de empresas o que já foi revelado por CapitalSocial em produção de riqueza: estamos perdendo terreno mesmo num período de recuperação industrial a partir da ascensão do PT ao governo federal com sua política voltada ao consumismo e, particularmente, ao consumismo automotivo, setor do qual a Província depende fortemente.


 


Perdas generalizadas 


 


Em todos os quesitos preparados pelo IPC Marketing a pedido de CapitalSocial o empreendedorismo da Província do Grande ABC perde para os demais integrantes do G-20.


 


No setor de comércio, sempre tendo como base de medição o ano de 1999 na origem e 2012 na ponta, a Província acumulou crescimento médio 10,95% inferior ao G-15. No setor industrial, a defasagem foi de 13,62% e no setor de serviços de 4,45%. Quando a conta envolve todas as atividades, inclusive agribusiness, a Província sofreu perda média no período de 8,70%.


 


Tudo isso quer dizer o seguinte: os 15 municípios de fora da Província do Grande ABC que formam o G-20 correram a uma velocidade média na criação e manutenção de empresas de diferentes setores superior à soma de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá.


 


Não estivesse a Província atrás também na velocidade do PIB, a quantidade de empreendimentos não teria tanta importância. Só não é possível fazer a comparação entre o total de empreendimentos de cada setor dos municípios que integram o G-20 e os respectivos PIBs porque o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) anuncia com defasagem de dois anos os dados do medidor mais confiável de geração de riquezas.


 


Entretanto, como o mapeamento do PIB é quase uma ação em câmara-lenta num período de tempo relativamente curto, como alguns pares de anos, não é heresia confrontar os dados de empreendedorismo revelados pelo IPC Marketing tendo como ponta de estudos 2012 e o PIB de 2010 do IBGE.


 


Os cinco municípios da Província do Grande ABC que integram o G-20 apresentaram no período de 1999 a 2010 um crescimento cumulativo e nominal do PIB de 217,62%, enquanto os demais 15 municípios do agrupamento avançaram 250,39%. Uma diferença significativa, considerando-se que a Província depende demais da produção de veículos, setor fortemente beneficiado no período. 


 


Por isso, nada surpreende quando se coloca frente a frente o universo de empresas de comércio, serviços e indústrias de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá e os demais integrantes do G-20, casos de Barueri, Osasco, Guarulhos, Sorocaba, São José dos Campos, Campinas, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Paulínia, Piracicaba, Ribeirão Preto, Santos, São José do Rio Preto, Sumaré e Taubaté.


 


O PIB do G-20 em 1999 somava R$ 110,845 bilhões, ante R$ 379,8885 na ponta dos estudos do IBGE, em 2010.


 


Os cinco municípios da Província do Grande ABC que compõem o G-20 somavam 25,56% das empresas de comércio, serviços e industriais do G-20 em 1999. A queda de 8,70% na ponta do estudo do IPC Marketing, em 2012, decorre da participação relativa reduzida a 23,36%. No setor industrial a participação de 29,29% em 1999 caiu para 25,30% em 2012. No Comércio, de 24,46% para 21,78%. E na área de serviços, queda de 25,79% para 24,64%.


 


No PIB do IBGE, que abrange o período de 1999 a 2010, a participação relativa dos cinco municípios da Província no G-20 era de 23,42% e foi reduzida a 21,70% na ponta dos estudos, com queda relativa de 7,34%. Ou seja – tanto na medição de riqueza produzida como na quantidade de empreendimentos, a Província do Grande ABC sofreu reveses ante os demais integrantes do G-20.


 


A Província do Grande ABC conta com 176.369 empreendimentos, incluindo o setor de agribusiness, ante 754.773 do G-20, 3.842 milhões do Estado de São Paulo e 13.092 milhões de todo o território nacional.


 


No setor de comércio, o menor crescimento no estoque de empresas foi registrado em São Caetano, com crescimento de 130,81% entre 1999 e 2012, segundo o IPC Marketing. Um pouco abaixo dos 140,39% de Santo André, dos 144,82% de São Bernardo, dos 158,48% de Diadema e dos 182,44% de Mauá. A média do G-20 alcançou 168,44%, ante 38,77% no Estado de São Paulo e 191,93% no Brasil. A Província do Grande ABC conta com 60.749 estabelecimentos comerciais, ante 278.855 do G-20, 1,330 milhão do Estado de São Paulo e 5,078 milhões do Brasil.


 


No setor industrial, quem menos apresentou novos empreendimentos foi São Caetano, com crescimento de 63,19%, ante 96,27% de São Bernardo, 106,37% de Diadema, 132,30% de Santo André e 244,69% de Mauá. A média de crescimento de estabelecimentos do setor no G-20 foi de 147,95%, contra 114,16% da Província do Grande ABC, 15,18% do Estado de São Paulo e 193,34% do Brasil. A Província do Grande ABC conta com 20.322 unidades industriais, ante 80.327 do G-20, 412.138 no Estado de São Paulo e 1,639. 075 do Brasil.


 


No setor de serviços, a Província do Grande ABC registrou crescimento de 217,24% no número de unidades entre 1999 e 2012, ante 232,09% do G-20, 56,57% do Estado de São Paulo e 230,34% do Brasil. Individualmente, quem apresentou maior avanço quantitativo foi Mauá, com 249,73%, ante 237,48% de Diadema, 215,81% de Santo André, 212,34% de São Bernardo e 208,93% de São Caetano. Em 2012 havia 94.958 empreendimentos de serviços na Província do Grande ABC, ante 385.372 no G-20, 1.759.418 milhão no Estado de São Paulo e 5.959.690 milhões no País.


 


Análises cuidadosas


 


A interpretação de dados relativos ao estoque de empreendimentos sem considerar referenciais geoeconômicos já se comprovou arriscadíssima como massa crítica. Não é incomum que representantes econômicos e políticos da região se manifestem em situações que apresentam apenas e exclusivamente dados locais. Comparar a Província do Grande ABC com a Província do Grande ABC é um equívoco narcisístico.


 


É do confronto com territórios assemelhados que muitas questões acabam por emergir. O G-20 preparado por CapitalSocial é fundamental no sentido de não só contar com números de variados matizes, mas por colocá-los no liquidificar de disputas das quais se extraem valiosas ponderações.


 


A perda de dinamismo econômico quando se apresenta o Produto Interno Bruto como insumo a confrontações não é necessariamente repassada pelo indicador de estoque de empreendimentos comerciais, industriais e de serviços. Entretanto, quando se cruzam os dois medidores, PIB e empreendedorismo, e se verificam correlações íntimas, torna-se inviável desacreditar da importância do contingente de negócios.


 


Não fosse o amparo estatístico do PIB, CapitalSocial não ousaria afirmar que o empreendedorismo na Província do Grande ABC ainda sofre os danos colaterais dos anos 1990. Afinal, é potencialmente passível de contestação a avaliação de qualquer território pelo número de negócios que contempla em relação a um passado não muito distante.


 


Desindustrialização transformadora


 


No caso específico da Província do Grande ABC, duramente castigada pela desindustrialização dos anos 1990, milhares de empregos industriais foram decepados e viraram pequenos negócios. Isso pressupõe que o fato de contar com número maior de indústrias em relação ao passado, muitas de fundo de quintal, não garante evolução da atividade. Muito pelo contrário.


 


Foi exatamente o que se deu na região. O efeito desemprego industrial se espalhou a atividades de comércio e de serviços, com milhares de trabalhadores abrindo o próprio negócio como forma de subsistência. Algo bastante diferente da realidade na maioria dos municípios do G-20, os quais não passaram pelo processo de esvaziamento industrial. Muito pelo contrário: na medida em que novas indústrias se instalaram nesses endereços, empreendimentos comerciais e de serviços brotaram como oportunidade de negócio. Não havia nesses locais a herança maldita do desemprego industrial que afetou fortemente a Província do Grande ABC.


 


É por essas e outras razões que qualquer abordagem sobre a economia da Província do Grande ABC que não coloque em xeque o dinamismo socioeconômico merece contextualização apurada e cautelosa. Nem tudo que parece somar de fato soma, porque o passivo dos anos 1990 ainda está longe de ser superado. Não se perdem impunemente 85 mil empregos industriais com carteira assinada em oito anos, como se perderam na região. E, mesmo com a recuperação dos anos 2000, ainda faltam mais de 20 mil postos de trabalho para a reposição daquelas vagas.


 


A engorda do comércio e de serviços tanto em número de empreendimentos quanto de trabalhadores apenas minimizou a situação, porque tanto um quanto outro setor não agrega valor como a indústria de transformação em forma de salários, benefícios sociais e espraiamento de riqueza produtiva.


 


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