Imprensa

Orlando Morando é o próximo
alvo de Entrevista Indesejada

DANIEL LIMA - 19/04/2013

Inspirado numa longa (25 mil caracteres) entrevista do deputado estadual Orlando Morando ao jornal Repórter Diário, cujo conteúdo desembarcou em minha caixa eletrônica antes de a publicação ganhar forma impressa e ir às ruas, decidi que CapitalSocial merece também contar com o parlamentar em formato de pingue-pongue, como se convencionou chamar nas redações todo trabalho jornalístico que envolva a reprodução formal de perguntas e respostas. E que melhor divisão editorial para instalar Orlando Morando do que “Entrevista Indesejada”? Parafraseando aquele presidente da República, esse compartimento é nitroglicerina pura.


 


Convenhamos que não tem sentido repetir a iniciativa do Repórter Diário, já que os jornalistas Airton Resende e Cintia Alves praticamente esgotaram os temas sujeitos a avaliações senão confortáveis ao menos digeríveis de Orlando Morando. Faltaram questões sob o domínio informativo e mesmo sob a curiosidade mais intestina de CapitalSocial. Diria que o que faremos ou o que pretendemos fazer é uma ação complementar à do Repórter Diário. Afinal, Orlando Morando requer atenção, porque é um parlamentar bem articulado, está sempre próximo da alta plumagem tucana no Estado, e, principalmente, teve atividades para lá de agressivas antes, durante e depois da construção do trecho sul do Rodoanel.


 


É claro que não vou deixar de lado o trecho sul do Rodoanel, assunto sobre o qual até bem pouco tempo Orlando Morando discorria com mais naturalidade, mais ênfase. Muito mais, por exemplo, do que disse ao Repórter Diário. Querem saber o que disse? Acompanhem:


 


 (...) A vinda do trecho Sul do Rodoanel, onde nós tivemos uma atuação muito forte, ajudou muito no resultado das urnas. Os trechos Norte e Leste ainda estão em obras, mas a conclusão do trecho Sul antes das eleições trouxe uma segurança maior, além de ser uma obra de envergadura que atingiu todo o ABC, tanto na questão do conforto para aqueles que utilizam a rodovia como passeio, quanto para o desenvolvimento econômico da região.


 


Outros tempos


 


Perceberam o quanto Orlando Morando foi reticente, embora improcedentemente efusivo? Em outros tempos, repito, o deputado estadual que iniciou a carreira como vereador em São Bernardo teria feito do tema motivo para muito mais parágrafos de respostas, desfilando dados específicos sobre supostas conquistas da região a partir daquela obra do governo do Estado.


 


Como se explica tamanha discrição de um político também reconhecidamente estelar na arte do marketing pessoal – algo que não é propriamente um pecado, porque quem não se comunica na vida pública acaba se dando mal, como sempre alertou o velho Guerreiro? É sobre isso que Entrevista Indesejada tratará, entre outras questões.


 


Mas não só sobre isso, porque Orlando Morando é mesmo um homem público de elasticidade participativa que não pode ser subestimada. Aliás, também não é por outra razão que está na Assembleia Legislativa pela terceira vez seguida e poderia ter virado prefeito de São Bernardo, provavelmente o mais jovem da história, se Luiz Marinho, em 2008, não tivesse Lula da Silva como padrinho poderosíssimo e, também, se ele, Morando, não houvesse afastado da campanha o idealizador de sua candidatura, o então prefeito William Dib.


 


Os cabelos brancos de Dib e o alto grau de aprovação da Administração – 30% dos esquerdistas que naturalmente não suportam ninguém de outro espectro ideológico – desfalcaram a campanha de Orlando Morando, principalmente nas andanças pessoais pelos bairros. Aquele jovem com cara de menino que ainda hoje sugere experiência muito aquém da realidade, não passou confiança ao eleitorado. Mas o que fazer se caiu na armadilha do adversário que estigmatizou a rejeição mais que natural de William Dib e pautou a estratégia do adversário, levando-o à bancarrota eleitoral? 


 


Relações incestuosas?


 


Orlando Morando também fala sobre Luiz Marinho na entrevista ao Repórter Diário. As declarações confirmam a suspeita de que há muito tempo anda de amores com o chefe do Executivo de São Bernardo, num caso interpartidário espúrio que está na raiz da antipatia dos tucanos locais pelo deputado estadual nestes dias. O que estaria por trás do relacionamento amistoso se lá atrás tanto se digladiaram em busca de votos? Está certo que políticos mudam como as nuvens, mas há entre petistas e tucanos implícito instinto de sobrevivência que remonta à genética de antagonismo mútuo, sem o qual praticamente se exaure qualquer possibilidade de distinção entre o bem e o mal que os separam, de acordo com as versões de defesa dos interesses de cada lado.


 


A sem-cerimônia com que Orlando Morando fala da Administração Luiz Marinho é de lascar, sempre tendo como base de comparação o que já disse em inúmeras entrevistas, antes, é claro, da fase de lua de mel com o petista, cuja origem vai muito além da imaginação dos leitores. Querem ler o que disse Orlando Morando ao Repórter Diário?


 


 Acabou (Marinho) de ser reconduzido ao cargo, eu não disputei o cargo, muito prematuro pra fazer uma avaliação, até porque ele foi conduzido agora, foi eleito para este mandato. Deixa fluir, não deu nem 100 dias a administração, aparentemente muitos problemas iniciando agora com o Ministério Público, o que é preocupante para a cidade, mas acho que é muito prematura ainda qualquer avaliação neste momento.


 


Como a indagação dos jornalistas do Repórter Diário se referia à avaliação de Orlando Morando sobre Luiz Marinho “nesse primeiro governo”, e por “primeiro governo” se entende tanto o primeiro mandato quanto os primeiros meses do segundo, até porque não teria sentido algo que fosse interpretado de forma diferente, as declarações de Orlando Morando são um acinte, um desprezo à inteligência dos leitores. Fosse transparente, aprovaria ou reprovaria a Administração petista, seguindo a ótica avaliativa pessoal.


 


A proximidade entre o tucano e integrantes da cúpula petista de São Bernardo não surpreendente, entre outras razões porque, nas últimas eleições municipais, Orlando Morando fingiu apoio público ao candidato apoiado pelo PSDB, Alex Manente, seu rival no espectro de centro-direita do eleitorado, quando na verdade simplesmente lavou as mãos, quando não recomendou a correligionários mais próximos mensagens de desconforto em relação à campanha do candidato do PPS.


 


Recomendo a leitura da entrevista de Orlando Morando ao jornal Repórter Diário, mas como algumas questões ficaram pendentes segundo a ótica deste jornalista, o que posso dizer é que valerá a pena acompanhar, também, as questões que formularemos e em seguida remeteremos ao deputado.


 


Entrevista Indesejada é sim, repito mais uma vez, algo indigesto aos entrevistados, porque toca em vários pontos que habitualmente a mídia prefere desprezar. Muitas das indagações, por mais que sejam relativamente expositivas, têm sim conteúdo esclarecedor porque permeadas de outros sentidos, de sentidos invasivos que o jornalismo exige.


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