A inútil e suspeitíssima Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC) não colocará jamais esse assunto em pauta, muito menos o propagará, porque é comprometedoramente ineficiente. O caso é o seguinte: houve invasão de bárbaros da Capital no mercado imobiliário do Grande ABC num período em que a atividade vive crescimento quase incontrolável. O resultado poderá ser devastador a pequenos e médios empresários que sempre se utilizaram de freios do conhecimento regional para não sabotar o próprio negócio. Infiltrados movidos em vários casos por dinheiro da Bolsa de Valores, excedem-se em riscos que empresas familiares do Grande ABC abominam.
Empresários locais, inquietos com os primeiros desdobramentos de casos patrocinados por invasores, não têm meias palavras quando se referem a empreendedores com sede na Capital tão próxima. Deixam de lado a polidez e ultrapassam o terreno do desabafo: chamam os invasores de piratas. Forasteiros seria suave demais. São piratas de logomarcas reluzentes, paparicadíssimas.
São vários os pontos em que a luz vermelha de alerta pisca sem parar, mas antes de apontá-los, convém explicar por que a Acigabc presidida por Milton Bigucci uma entidade inútil e suspeitíssima.
É inútil porque não reúne densidade representativa.
É suspeitíssima porque tornou-se palanque mercantilista que engrossa o coro de vozes triunfalistas que desprezam o dia de amanhã.
A inutilidade da Acigabc está evidenciada num quadro associativo pífio e numa agenda de atividades que não passa de espuma de marketing, especialidade do presidente Milton Bigucci. Quem consultar o site da instituição, reformulado completamente desde que iniciamos aqui denúncias da frouxidão com que é presidida, vai chegar à conclusão de que não passa de maquiagem.
A suspeição decorre da fundamentação histórica de quem acompanha aquela entidade e recolheu ao longo dos tempos declarações de desprezo à responsabilidade social do comandante supremo que autoproclama democrata. A Acigabc é um território ocupado por Milton Bigucci há duas décadas, tal qual a Associação Comercial e Industrial de São Bernardo, de Valter Moura. A entidade sobrevive praticamente intacta porque o empresariado do Grande ABC forma amontoado de desiludidos, sem força para reagir à privatização espúria de algo que deveria ser uma força considerável nas relações sociais e econômicas.
Agora, vamos aos perigos que rondam o mercado imobiliário do Grande ABC, sempre com pesado ônus de empreendimentos de engravatados paulistanos que olham para esse território com desdém, a confirmar um dos efeitos do Complexo de Gata Borralheira. Quando desembarcam e fazem barulho, tupiniquins destas bandas os reverenciam e os aplaudem. Inclusive porque os visitantes contam com burras cheias de dinheiro para ações publicitárias. O caso da Cyrella — com participação efetiva do Grupo De Nadai — que construiu quatro torres sobre um terreno contaminado no centro de Santo André não é fruto do acaso, como se sabe.
A situação no mercado imobiliário regional é tão complexa a ponto de conviver num mesmo organismo maltratado situação inimaginada por especialistas, com excesso de oferta combinado com excesso de demanda que, por incrível que pareça, gera excesso de encalhe.
São excessos demais, como se nota, mas facilmente explicáveis.
Hão de argumentar os leitores, desafiando este jornalista e considerando-o, quem sabe, um alucinado, que não há como associar excesso de demanda, excesso de oferta e excesso de encalhe. São situações paradoxais que não cabem em qualquer coerência analítica.
Pois, então, que tratem de acompanhar o que se segue.
Com demanda farta, consequência de política de financiamento do governo federal que tem tudo a ver com a mobilização da economia em direção ao desenvolvimento, construtoras e incorporadoras foram às compras de terrenos. Muitas mergulharam no mercado de capitais para aumentar o estoque. Compraram terrenos a preços cada vez mais elevados. Ergueram às alturas os custos nas áreas metropolitanas. Os clientes não ficaram atrás. As condições de pagamento em 30 anos são convidativas demais.
As empresas fizeram compras alucinadas. Compraram mal e porcamente áreas nas quais implantaram ou estão implantando produtos conflitivos com as características de potenciais compradores. Áreas típicas de Classe Média Emergente recepcionaram apartamentos de Classe Média Alta. Algo como oferecer assinatura de revista acadêmica na Favela Naval ou coleção das safadezas de Carlos Zéfiro a empedernidos religiosos.
Também não faltaram compradores levados pelo impulso de parafernálias de marketing que os embriagaram e os fizeram perder a noção dos compromissos financeiros depois da fase inicial de módicos e suportáveis parcelamentos de valores de entrada.
Muitos compradores estão caindo na real de que os valores das prestações estão muito acima do orçamento familiar. Muito Classe Média Emergente foi além dos sapatos ao projetar moradia de Classe Média Média ou de Classe Média Alta. Essa leva de eufóricos prozaquianos agora em recidivas depressões cresce na medida em que cai a ficha de prestações salgadíssimas com sobressalentes e exorbitantes custos de moradia, casos de IPTU e de taxa condominial. Quando se juntam, então, despesas extras à decoração da moradia, não há planilha eletrônica ou caderneta de anotações que resista.
A direção da Associação dos Construtores do Grande ABC não está sozinha na lista de omissos. É praxe entidades da classe imobiliária atuar como balcão de negócios extensivo dos empreendimentos privados de seus dirigentes. Eles se apropriam do mercado imobiliário sem compaixão. Falam em nome de toda a classe e comprometem o futuro de empreendedores novos ou tradicionais que sabem até que ponto a corda do entusiasmo artificializado suporta o contrapeso macroeconômico.
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