Economia

Aidan Ravin quebra galho do PT
com retomada da Cidade Pirelli

DANIEL LIMA - 17/09/2010

Não há exagero algum no título acima. Vá lá que seja irônico e provocativo. Isso não nego. Mais que não negar, confirmo. Quando me decidi pelo título, quis mesmo cutucar o Partido dos Trabalhadores e, também, reconhecer o senso de oportunidade do prefeito de Santo André. No caso do PT, quis mais que cutucar: quis e quero lembrar que seus dirigentes e executivos públicos formaram uma confraria de acomodados, de dispersos, de negligentes. Eles não souberam aproveitar o legado de Celso Daniel, morto em janeiro de 2002. Por isso, uma carta de agradecimento a Aidan Ravin seria prova de humildade. O petebista e seus principais assessores deram um banho de bola ao ressuscitar a Cidade Pirelli.

Mas não é apenas porque o atual mandatário da Prefeitura de Santo André foi à luta para aquecer as turbinas da reconfiguração geoeconômica e social da região da Vila Homero Thon que os petistas devem agradecer. Aidan Ravin quebrou o galho, um senhor galho, do partido que comandou a Prefeitura durante três mandatos seguidos. O Viaduto Cassaquera que o prefeito João Avamileno financiou indevidamente não estará mais irregular. Afinal, o projeto Cidade Pirelli foi anunciado como desativado e a obrigação da obra constava da responsabilidade da multinacional. Não se sabe por que cargas dágua a administração petista assumiu o investimento.

Como, então, se deu a mágica de que uma obra concretamente vinculada à legislação que aprovou a operação urbana da Cidade Pirelli se tornará perfeitamente legal?

Simples como dois e dois são quatro: a retomada do projeto idealizado por Celso Daniel e agora capitaneado por Aidan Ravin implicará na construção de viaduto auxiliar, bem próximo do Cassaquera. A obra deverá atender ao fluxo de usuários que, segundo informações de assessores graduados de Aidan Ravin, possibilitará o acesso à Estação Pirelli, também incluída no empreendimento.

Não fosse a retomada do projeto Cidade Pirelli, o Viaduto Cassaquera ficaria como esqueleto de imprevidência petista e também como passivo daquela multinacional proprietária dos terrenos que abrigarão não só o empreendimento agora liderado pela Construtora Brookfield como ramificações de investimentos de olho no potencial de negócios proporcionado pelo braço auxiliar do trecho sul do Rodoanel. Como se sabe, o trecho sul passa por Mauá com um puxadinho obtido do governo do Estado pelo então e novamente prefeito Oswaldo Dias. Esse pedaço auxiliar do trecho sul termina na Avenida Jacú-Pêssego, via de conexão com a Zona Leste de São Paulo.

Com a recuperação do projeto Cidade Pirelli, e como a legislação aprovada no final dos anos 1990 assegurava a obra viária sem, entretanto, especificá-la, os custos para a Pirelli serão bem menores. O viaduto que se erguerá na vizinhança da Estação Pirelli terá dimensões inferiores às do Cassaquera.

Para que se salve a reputação da multinacional, é bom que se diga que um viaduto de tamanho menor não é uma forma de ludibriar o distinto público, dando-se o cumprimento integral à legislação da Cidade Pirelli. Técnicos ouvidos por este jornalista e que participaram das negociações no período de Celso Daniel à frente do Paço Municipal afirmam que o viaduto previsto seria mesmo aquém daquele que transpõe a estrada de ferro em direção à Avenida dos Estados. A irregularidade do empenho de recursos públicos, entretanto, estaria constituída formalmente se a Cidade Pirelli virasse pó, porque o Viaduto Cassaquera converteu-se na contrapartida programada.

A análise crítica dos articuladores da gestão do prefeito Aidan Ravin sobre os desdobramentos da recuperação do projeto Cidade Pirelli converge ao mesmo sentido: o nível de diálogo com os formadores de opinião interessados no futuro de Santo André ganhou nova textura de comunicação. Agora o que se tem, afirmam, é muito mais palpável, técnico, gerencial, reestruturador, do que os passos iniciais estridentes de auto-afirmação da administração nos primeiros meses do ano passado.

Sim, naquele período, como é praxe na gestão pública verde e amarela, Aidan Ravin preocupou-se muito mais em alardear supostas deficiências dos antecessores. Sem contar que exagerou na dose ao propagandear cortes em alguns penduricalhos de marketing dos petistas, casos do desenho do paisagismo, do vermelhismo que remetia os veículos de transporte coletivo à identificação do PT, entre outras iniciativas. Ideologizou demais e desnecessariamente sua chegada ao Paço Municipal. Além, é claro, de insistir numa barulhenta bateria de discursos de irregularidades administrativas que teriam sido cometidas pelos petistas e que teriam sido reunidas em auditoria. Os detalhamentos desse trabalho jamais se fizeram público e portanto, tornaram-se frustrantes.

A Cidade Pirelli seria apenas uma das várias vitrines que dariam à gestão de Aidan Ravin impacto de visibilidade semelhante ao que ele alcança em qualquer ambiente que visite, dado o carisma assombroso naquele corpo avantajado. Acredita-se no Paço Municipal que o anúncio deste CapitalSocial da forte possibilidade de Miriam Belchior disputar a próxima eleição, com o suporte de Lula da Silva, não causaria tanto desconforto e assombro como todos interpretaram num primeiro instante. Miriam Belchior seria um osso de roer cada vez menos indigesto na medida em que Aidan Ravin acrescentasse inteligência à imagem administrativa.

Um dos argumentos para dar robustez ao raciocínio de combate a Miriam Belchior é que, com a Cidade Pirelli, Aidan Ravin conseguiria neutralizar ou mesmo superar o raciocínio supostamente simplista de que o espólio de Celso Daniel seria canalizado compulsoriamente à ex-mulher e secretária. Já há quem estude no Paço de Santo André a possibilidade de Aidan Ravin dar ordens para reestudar o chamado projeto Eixo Tamanduatehy, também morto e enterrado desde que Celso Daniel se foi. Aliás, o projeto Cidade Pirelli integra o Eixo Tamanduatehy que, resumidamente, abrange todo o entorno do Rio Tamanduatei e da Avenida dos Estados no território de Santo André.

Os mais apressados na Prefeitura de Santo André já discutem a possibilidade de, numa candidatura à reeleição de Aidan Ravin, acrescentar o passado de Celso Daniel jogado no lixo pelos petistas à consolidação da imagem de um prefeito acima dos partidos quando está em jogo o futuro de Santo André.

Grudar a imagem de Aidan Ravin à quase santificada lembrança de Celso Daniel seria uma medida que atingiria em cheio eventuais proposições de Miriam Belchior para resgatar produtos sociais e econômicos mais expressivos. Afinal, Celso Daniel pode até não ter sido o melhor prefeito de Santo André ao longo da história, mas, sem dúvida, pelo espírito sempre vivo de regionalidade, tornou-se imbatível como sinônimo de integração dos sete municípios. Acrescentem-se a isso especificidades do assassinato que, com todo o arsenal de subjetividades, elevou Celso Daniel a um patamar de respeitabilidade praticamente inigualável na história política do Grande ABC.



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