Imprensa

Encurralado, Orlando Morando
foge de “Entrevista Indesejada”

DANIEL LIMA - 05/06/2013

Como era de se esperar, o deputado estadual Orlando Morando fugiu da Entrevista Indesejada proposta por CapitalSocial. Queridinho de boa parte da Imprensa da Província do Grande ABC porque facilita contratos publicitários com o governo e com estatais paulistas, Orlando Morando constrói uma carreira cor de rosa que não resiste a questionamentos independentes.


 


Foi por essa razão que sua assessoria de comunicação enviou e-mail à direção de CapitalSocial para justificar a negativa de participar dessa iniciativa editorial. Nada que surpreenda. Entrevista Indesejada testa o grau de resistência aos pressupostos de democracia informativa -- um bem que não se aliena sob qualquer pretexto.


 


O deputado tucano explica no e-mail que “Entrevista Indesejada patrocinada por este veículo de comunicação social “só é dirigida àqueles que o jornalista Daniel Lima mantém algum grau de beligerância. O que lamentamos”. Caso tenha utilizado o argumento como pretexto, Orlando Morando se deu mal. Se o utilizou como observação critica, acertou em cheio. Mas tanto num caso como no outro escorregou no tomate informativo a que está submetido todo homem público. Vamos explicar.


 


Se Orlando Morando preferiu o pretexto do estado de beligerância implícito de Entrevista Indesejada, a constatação é mais que óbvia, mas nem por isso justifica a fuga. A concepção de “Entrevista Indesejada” está tipificada na própria marca; ou seja, não tem qualquer relação com o levantar de bola para um gol de placa que a maioria da mídia proporciona nas entrevistas com Orlando Morando. Como o Diário do Grande ABC o fez ainda recentemente, em página inteira. O tom ácido de Entrevista Indesejada é, portanto, algo que jamais CapitalSocial sequer procurou dissimular. Muito pelo contrário.


 


Jornalismo, sempre


 


Agora, se Orlando Morando optou por entender que se trata de uma ferramenta do jornalista Daniel Lima para, conforme suas declarações escritas, dirigir-se àqueles com os quais mantém algum grau de beligerância, acertou no alvo da verdade. Realmente este jornalista sempre direcionou as edições de Entrevista Indesejada a protagonistas da vida regional que, circunstancialmente, exigem explicações à sociedade.


 


Talvez a diferença que Orlando Morando não tenha detectado e que por isso mesmo não permitiria que corresse da raia de Entrevista Indesejada é que se trata de trabalho jornalístico que, como o manual da profissão exige, está muito acima de eventuais preferências ou oposições pessoais. Em suma, tanto Orlando Morando quanto os demais fujões de Entrevista Indesejada ainda não compreenderam a inexistência de pessoalidade a fomentar a iniciativa jornalística.


 


Possivelmente porque têm por costume confundir interesses privados e públicos, os desertores de Entrevista Indesejada deixam-se contaminar pela ideia de que lhes são movidas perseguições pessoais.  Distinguir interesse público de uma publicação e interesse privado de um jornalista não é o forte de quem se sente pressionado a prestar contas aos leitores.


 


A argumentação do deputado estadual Orlando Morando para não responder às questões também sofre duro revés de coerência quando se constata que este jornalista já se submeteu à Entrevista Indesejada. Tanto que respondeu às indagações dos conselheiros editoriais, a maioria dos quais egressa da revista de papel LivreMercado. Este jornalista não só respondeu como se antecipou ao prazo estipulado.


 


Dar credibilidade à mensagem de Orlando Morando seria o mesmo, portanto, que depositar este jornalista em algum manicômio, porque teria se submetido a uma programação jornalística sadomasoquista. Teria criado uma instância de diálogo com personagens da vida regional para supostamente se imolar publicamente.


 


Debates quentíssimos


 


Para completar a desclassificação do argumento de “beligerância” de Entrevista Indesejada, Orlando Morando certamente não teria participado de nenhum debate com o então candidato petista Luiz Marinho nas eleições de 2008 à Prefeitura de São Bernardo. Os arquivos registram encontros extremamente desgastantes. Ou seja: Orlando Morando aprecia e manobra ambiente beligerante quando considera que poderá obter vantagens. Quando ameaçado, desclassifica a proposta.


 


Na edição de 16 de outubro de 2008, dia seguinte ao debate com Luiz Marinho, o Diário do Grande ABC estampou a manchete “Luiz Marinho e Orlando Morando se provocam, mas mantém nível”. Os primeiros parágrafos da reportagem:


 


 Os candidatos a prefeito que disputam o segundo turno em São Bernardo, Luiz Marinho (PT) e Orlando Morando (PSDB), protagonizaram ontem à noite, no estúdio do Diário, um debate recheado de provocações. Os prefeituráveis, porém, mantiveram o alto nível da discussão e, em momento algum, fugiram à regra, apelando a ataques pessoais. (...) Desde o começo do encontro, Morando adotou postura mais agressiva em comparação a Marinho, partindo para o ataque a fim de tentar desestabilizar o adversário, vitorioso na primeira fase do pleito. Assim como o fez durante toda a campanha, o governista se dirigiu ao adversário como sindicalista – segundo avaliação da campanha tucana, Marinho não gosta de ser chamado assim. Já Marinho, diferentemente da tática adotada no embate do primeiro turno, deixou de se referir ao concorrente como “minimercadista”.


 


A assessoria de comunicação do tucano também explicou a fuga de Entrevista Indesejada ao registrar uma outra justificativa: “Na ultima matéria em que foi citado por esse veículo de comunicação, o deputado Orlando Morando sofreu ataques e não teve, antes da publicação, o direito de colocar a sua versão, sendo que somente o jornalista Daniel Lima se permitiu fazer seus próprios juízos de valores”.


 


Embora não haja apontamento especifico do artigo, exceto o indicativo “na última matéria”, é provável que Orlando Morando se refira ao texto de 10 de abril último, sob o título “Quanto a mídia da região recebeu do governo do Estado em 10 anos?”. De fato, o deputado tucano foi relacionado diretamente às despesas do governo do Estado com publicidade, dada a interface com as mídias locais, espécie de pacote adicional de vantagens políticas por estar sempre ao lado do governador do Estado. Também naquele texto Orlando Morando foi correlacionado ao trecho sul do Rodoanel. Tanto um assunto quanto outro estariam integralmente contemplados por Entrevista Indesejada. Seria uma ótima oportunidade a eventuais posicionamentos de Orlando Morando.


 


CapitalSocial não abordou as duas questões sem respaldo técnico e informativo. A alegação do deputado estadual de que a CapitalSocial deveria colocar a versão de Orlando Morando na publicação do texto corre no contrafluxo da matriz editorial de cunho autoral. O contraditório, oferecido na Entrevista Indesejada, não interessa a Orlando Morando entre outros motivos porque ele sabe que, muito diferente da maioria da mídia regional, CapitalSocial não aceita passivamente declarações de entrevistados eventualmente corrigíveis.


 


O tempo está cansado de provar e comprovar que principalmente os tomadores de decisões da Província do Grande ABC erguem barricadas de informações interesseiras. Um exemplo clássico foi patrocinado por autoridades públicas que, participantes do baile do ufanismo regional, tentaram durante muitos anos e a todo custo negar a realidade da desindustrialização.


 


O que está na essência da recusa de Orlando Morando é o desgaste do confronto com o passado e o presente como deputado estadual. O encaminhamento da decisão de não responder à Entrevista Indesejada atropelou uma segunda parte de questionamentos. Nada, entretanto, que frustre os planos de CapitalSocial.


 


Com respostas ou não de Orlando Morando, esta revista digital vai preparar um texto especial sobre a atuação do tucano. Embora tente transmitir a ideia de que é efetivo como representante do povo, o desempenho do parlamentar é mais reticente que o dos demais. O grau de improdutividade do deputado tucano está na transmissão da ideia de que é um legislador eficiente, quando, na realidade, só se diferencia dos demais porque conta com mais suporte da mídia, a quem intermedeia recursos publicitários como espécie de agente comercial de luxo.


 


Como os fujões de Entrevista Indesejada que o antecederam, Orlando Morando tem dificuldades em entender jornalismo independente, mal acostumado que está porque tem relacionamento direto com dirigentes das publicações locais que, sempre com o suporte de reciprocidades, o colocam diante de jornalistas previamente recomendados a não produzir questões que o embaracem. Esse tipo de entranhamento é corriqueiro na mídia brasileira de pequeno e médio porte, principalmente. Não seria diferente na Província do Grande ABC. Por isso Orlando Morando é frequentador assíduo da mídia regional. Sem contar que até programa de TV lhe foi entregue em canal por assinatura.


 


Leiam também:


 


Quanto a mídia da região recebeu do governo do Estado em 10 anos?


 


LivreMercado sempre ficou acima da expectativa da região, diz jornalista.


 


O que Orlando Morando diz sobre a candidatura de Marinho ao governo?


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