Economia

Aidan Ravin dá vida a sonho de
Celso Daniel: Cidade Pirelli vem aí

DANIEL LIMA - 14/09/2010

A notícia é bombástica. Mais que bombástica, é aliviante. Mais que aliviante, é digna de comemorações: a administração de Santo André do prefeito Aidan Ravin conseguiu fazer de um campo minado uma pista de dança. O que parecia uma batalha campal virou um desfile carnavalesco. O projeto da Cidade Pirelli, herança do então prefeito Celso Daniel que o PT de João Avamileno não levou adiante, desativando-o, abandonando-o, vai passar para o ativo administrativo do petebista que comanda o Paço de Santo André.


Quase dois anos após assumir o cargo na reviravolta eleitoral mais surpreendente da história de segundos turnos no País, Aidan Ravin sai na frente dos demais prefeitos do Grande ABC eleitos pela primeira vez em 2008 com uma obra que, por conta da força da atratividade a novos investimentos, deverá superar a barreira do tempo. A Cidade Pirelli é muito mais que um empreendimento imobiliário que seduziu a Construtora Brookfield, uma das maiores empresas do setor. É a senha para que a economia de Santo André finalmente saia do casulo de mais de duas décadas de rearranjo industrial eivado de sentimento de baixa auto-estima.


O conjunto de informações da nova configuração da Cidade Pirelli ainda não está disponível, mas o que os secretários municipais Nilson Bonome e Frederico Muraro Filho antecipam com exclusividade para CapitalSocial é suficiente para festejos: a Construtora Brookfield adquiriu 40 mil metros quadrados de dois terrenos por R$ 40 milhões e vai erguer no ponto mais nobre da Vila Homero Thon um complexo de seis torres residenciais (1,8 mil apartamentos) e três torres de 27 mil metros quadrados de escritórios. Além disso, ao melhor estilo norte-americano, o investimento contará com shopping aberto para interagir com os frequentadores do espaço.


Há alterações físico-arquitetônicas e também funcionais em relação ao projeto inicial aprovado no final dos anos 1990. Principalmente por conta de adaptação à nova realidade econômica que permitirá a execução do empreendimento. Também constaria do projeto a viabilidade de a ressuscitada Cidade Pirelli interagir com a Estação Pirelli — uma parada da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) prevista para as proximidades daquela área.


O detalhamento da Cidade Pirelli que a Brookfield construirá em Santo André ainda é precário. Mas isso não é prioridade. O que pesa mesmo na avaliação do investimento é o fim de um pesadelo. O empreendimento estava reduzido à condição de infortúnio da gestão pública em Santo André. O que poderia ter marcado a gestão petista como vanguardista na potencialização econômica e também da infra-estrutura urbana de Santo André evaporou depois da morte de Celso Daniel. Está certo que os tempos foram difíceis, que o mercado imobiliário não contava com recursos abundantes como nos últimos anos, mas nada disso atenua a malemolência petista.


O prefeito Aidan Ravin ainda não se manifestou sobre o investimento. Há informações no Paço Municipal que o colocam com um olho no passado e outro no futuro. O olho no passado é traduzido na manutenção da identidade nominativa do projeto. O olho no futuro abrangeria os efeitos da iniciativa que colocaria o prefeito mais próximo do espólio futurista de Celso Daniel.


Explica-se: com a sustentação da marca Cidade Pirelli, Aidan Ravin daria lição aos administradores públicos que costumam eliminar ou minimizar marcas de antecessores com os quais não tenham tido alinhamento partidário. A Cidade Pirelli fortaleceria a popularidade de Aidan Ravin porque as circunstâncias do assassinato de Celso Daniel chocaram de tal maneira a comunidade que a imagem daquele gestor público transcenderia o petismo. Realizar uma obra que Celso Daniel idealizou e que o PT descartou seria um toque de misticismo do qual o perfil popular de Aidan Ravin não abriria mão.


A visão do Paço Municipal é de que Cidade Pirelli deixou de ser propriedade da gestão petista que a idealizou e passou para o portfólio dos petebistas. Principalmente porque o empreendimento estava morto e enterrado como seu idealizador. Tudo isso até que o prefeito Aidan Ravin e o secretário Nilson Bonome participassem do seminário realizado em março pela Pirelli na Capital. O encontro serviu para a multinacional italiana apresentar as áreas de Santo André reservadas a investimentos.


Mais que recuperar um legado de Celso Daniel atirado às traças pelo próprio PT que ocupou o Paço Municipal após a morte do prefeito, o ressurgimento da Cidade Pirelli asseguraria à gestão Aidan Ravin o contra-veneno às críticas ramificadas na interpretação de apatia administrativa no eixo econômico, algo como o mesmo do mesmo dos últimos anos da gestão petista: a ausência de um empreendimento de peso que reinstale a auto-estima de Santo André nos trilhos.


O investimento da Brookfield não se esgotará no terreno que abrigará torres residenciais, torres comerciais e o shopping de estilo norte-americano. Um outro terreno de propriedade da multinacional italiana, também foi adquirido e deverá contar com prováveis três torres de apartamentos de padrão mais elevado em relação às seis torres próximas do antigo heliponto da fábrica de capital italiano em Santo André. Também estaria reservada à segunda área, de cerca de oito mil metros quadrados, a construção do Centro Administrativo da Pirelli.


A Construtora Brookfield adquiriu da Pirelli os dois terrenos que somam 40 mil metros quadrados do total de 142 mil metros quadrados colocados à venda. A restrição legal a novas unidades industriais foi a justificativa do diretor de assuntos corporativos da Pirelli, Mário Batista, para comercializar os cinco terrenos em que se divide a propriedade territorial.


Secretário de Finanças de Santo André e homem forte da administração Aidan Ravin, Nilson Bonome garante que a recuperação do projeto Cidade Pirelli determinará novo ritmo da administração pública na área econômica. O efeito irradiador do empreendimento permitirá a ampliação da escala de investimentos. A Construtora Rossi, por exemplo, acaba de adquirir junto ao Funcef (Fundo de Pensão dos Empregados da Caixa Econômica Federal) imenso terreno originalmente reservado à implantação do Grand Shopping, na Avenida dos Estados, exatamente do lado oposto da Cidade Pirelli. A linha férrea separa os dois investimentos. O empreendimento imobiliário reunirá número elevadíssimo de apartamentos que ocuparão espaços ociosos do superdimensionado Grand Shopping.


O secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação Frederico Muraro Filho comemora duplamente o anúncio da Cidade Pirelli. Primeiro porque atuou como executivo da multinacional na fábrica de Santo André durante 36 anos. Segundo porque integra o governo Aidan Ravin num momento que considera muito especial. Muraro afirma que o empreendimento da Brookfield vai representar algo como o marco zero de nova centralidade econômica e social em Santo André. “Temos disponibilidade de terrenos naquela região para adensar os investimentos produtivos e de habitação”.


O secretário lembra que a chegada do trecho sul do Rodoanel naquela região, vizinha a Mauá, no acesso do braço que se desdobra da Via Anchieta e que se une à Avenida Jacú-Pêssego, possibilitará nova leitura de desenvolvimento integrado com o sistema viário e ferroviário. “Há todo um conjunto de interferências positivas que a Cidade Pirelli estimulará, inclusive com a criação da Estação Pirelli da CPTM. Qualquer exercício de otimismo não será exagerado” — afirma.


A retirada da Cidade Pirelli das catacumbas de fracasso confere à administração de Aidan Ravin oportunidade inescapável. Embora falte muito espaço de propriedade da Pirelli a ser comercializado na vizinhança do projeto da Cidade Pirelli, o simples anúncio da iniciativa da Brookfield deverá elevar o grau de confiança de outros potenciais investidores.


Sem o projeto da Cidade Pirelli, mesmo com adaptações aos novos tempos — como é o caso da intervenção da Brookfield — poderia pesar sobre a administração de Aidan Ravin o ônus de não ter conseguido reverter uma frustração de impacto inversamente proporcional ao entusiasmo com que o empreendimento foi aprovado antes da chegada do ano 2000. A Cidade Pirelli é interpretada por analistas do Paço Municipal como a batalha da ponte da consolidação da imagem gerencial dos petebistas que ganharam as eleições de 2008.


A simples ocupação das áreas negociadas pela Pirelli por empreendimentos descolados de um fio condutor de integração geoeconômica e social seria uma obra incompleta. Essa versão pouco nobre se desenhou até recentemente com a possibilidade de as áreas da multinacional italiana converterem-se em especulação imobiliária. A vacuidade da Cidade Pirelli prevaleceria na imaginação de uma sociedade que ainda se assombra com lembranças de uma Santo André orgulhosa de seus feitos.


Como o secretário Nilson Bonome afirma que esse é apenas o começo de uma série de medidas que tornarão Santo André canteiro de obras durante os próximos dois anos, passa-se a impressão de que a inapetência petista pós-morte de Celso Daniel possivelmente será sacudida por choques elétricos dos novos ocupantes do Paço Municipal. Os petebistas acreditam que não é improvável uma nova eletrocução eleitoral.


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