Economia

Grande Osasco empata o jogo com
o Grande ABC no setor de serviços

DANIEL LIMA - 09/09/2010

Com base no esmiuçamento de vários indicadores, seguimos mostrando o quanto o Grande ABC perdeu de participação na produção de riqueza, principalmente nos anos 1990, situação que contrasta não apenas com disputados polos de desenvolvimento da chamada Grande São Paulo Expandida mas também com o interior da Região Metropolitana de São Paulo. Mais propriamente a Grande Osasco, área beneficiadíssima com o trecho oeste do Rodoanel. Nenhum parentesco de resultado com o recém-inaugurado trecho sul do Rodoanel, que abrange lateralmente vários municípios do Grande ABC. A chegada dessa serpentina de asfalto não alterou e não vai alterar significativamente a estrutura econômica dessa região de sete municípios e 2,6 milhões de habitantes. Discursos em contrário são apenas discursos de ocasião. Principalmente em período eleitoral, fértil em demagogia.


Quem desprezar o que já escrevemos e o que ainda escreveremos sobre o assunto é candidatíssimo a ingressar no clube dos desinformados suicidas. O andar da carruagem da numeralha de cada Município e — no caso local — um grupo de municípios que se interagem economicamente, é muito mais importante do que supõem mesmo aqueles que se ligam de verdade nesse tipo de confronto.


O fato irrefutável para tristeza de quem não está por acaso no Grande ABC é que perdemos de goleada o jogo da competitividade para a Grande Osasco, vizinha igualmente borralheiresca da Capital. Como se já não fossem suficientes as surras que sofremos ao longo dos anos de municípios próximos da Região Metropolitana de São Paulo. Somos um bando de acomodados que prefere mesmo o estrelismo quase surrealista das colunas sociais ou eventos que, numa linha de tempo, se dissolvem como antiácidos.


Já mostramos o quanto evoluiu a Grande Osasco no período de 1995 a 2009 (com base nos números registrados em 1994, quando da implantação do Plano Real) no chamado Valor Adicionado. Uma evolução que se distancia do processo de esvaziamento do Grande ABC. Valor Adicionado é a estrutura nuclear do PIB (Produto Interno Bruto), numa simplificação que não é reducionista a ponto de prejudicar a realidade dos fatos.


Agora, o que mostramos é que a Grande Osasco também deu uma reviravolta no placar do ISS (Imposto Sobre Serviços), tributo sob responsabilidade dos municípios. Os dados também abrangem o período de análise do Valor Adicionado. Em 15 anos, a Grande Osasco praticamente empatou um jogo largamente favorável ao Grande ABC. Mais especificamente: o Grande ABC contava com arrecadação do ISS 48% superior à Grande Osasco em 1994. Agora se registra empate técnico.


Sem precisar invadir entranhas econômicas das duas áreas o que temos como elementos explicativos são os desdobramentos da implementação do trecho oeste do Rodoanel. Logística faz muita diferença numa economia de mercado cada vez mais concorrencial. Logística atrai investimentos em múltiplas atividades econômicas. A Grande Osasco interage com os 13 acessos do trecho oeste do Rodoanel. O Grande ABC está praticamente isolado com restritivos três acessos do trecho sul do Rodoanel. O Rodoanel da Grande Osasco é agente de desenvolvimento econômico localizado. O Rodoanel do Grande ABC é sistema de transporte praticamente descolado dos setores produtivos locais, como os quais sustenta uma operação inclusive autofágica em vários pontos.


Essas duas áreas geoeconômicas da Grande São Paulo têm em comum na receita do Imposto Sobre Serviços uma guinada extraordinária. Até que o Plano Real aparecesse no cenário nacional, o ISS era subestimado pelas prefeituras. A ciranda financeira, a verticalização industrial, a deficiência tecnológica das administrações públicas, tudo isso e muito mais contribuíam para minimizar a gestão desses recursos potenciais.


Com o fim do processo inflacionário e consequente baixa de receitas financeiras, administradores públicos foram à luta para recuperar terreno. Particularmente no Grande ABC a desindustrialização gerou uma febre por compensações tributárias por conta da quebra de repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) fundado na geração de riqueza industrial. Além disso, multiplicaram-se empreendedores de pequeno porte, órfãos de emprego industrial.


Em outros endereços, também se aplicaram com volúpia novas regras para operações pente-fino de arrecadação, mesmo com evolução do Valor Adicionado. Caso típico da Grande Osasco. A guerra fiscal no setor de serviços foi generalizada. Rebaixamento de alíquotas representou operação de atratividade de negócios.


Acompanhem a evolução média nominal (sem considerar a inflação) relativa de arrecadação do ISS nos sete municípios do Grande ABC durante os 15 anos pós-Plano Real:



  • Santo André: 950,08%
  • São Bernardo: 747,38%
  • São Caetano: 2. 071,32%
  • Diadema: 922,81%
  • Mauá: 1.078,62%
  • Ribeirão Pires: 1.920,52%
  • Rio Grande da Serra: 3.098,09

Agora acompanhem os números médios da Grande Osasco:



  • Pirapora do Bom Jesus: 1.911,13%
  • Itapevi: 1.631,18%
  • Jandira: 4.498,56%
  • Barueri: 2.416.43%
  • Carapicuíba: 3.267,60%
  • Osasco: 1.126,04%
  • Santana de Parnaíba: 1.922,96%

Um referencial importante para que o leitor possa estabelecer confrontos é a inflação do período, medida pela Fundação Getúlio Vargas. Entre janeiro de 1995 e dezembro de 2009 o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) alcançou 276,32%. Nota-se, portanto, que nenhum dos 15 municípios das duas microrregiões apresentou arrecadação do ISS inferior à inflação do período. No conjunto, o Grande ABC avançou nominalmente 948,59%, contra 1.876,90% da Grande Osasco.


Vejam esses números de arrecadação do ISS em 1994, sem considerar a inflação:



  • Grande ABC: R$ 119,369 milhões
  • Grande Osasco: 61,124 milhões.

Agora vejam os números de arrecadação do ISS em 2009, com valores monetários daquele ano:



  • Grande ABC: R$ 1.251 bilhão
  • Grande Osasco: R$ 1.208 bilhão

A vantagem da Grande Osasco caracteriza-se pela potencialidade de aplicação desses recursos públicos na contabilidade por habitante. O R$ 1.126 bilhão dividido por 1.695 milhão de habitantes representa R$ 664 mil per capita. Já o R$ 1.251 bilhão do Grande ABC dividido por 2.345 milhões de habitantes significam R$ 531 mil, em números redondos. Ou seja: a arrecadação de ISS por habitante na Grande Osasco ao final de 2009 era 20% superior à do Grande ABC. Em 1994, o estudo, o Grande ABC apresentava arrecadação per capita 20% superior à Grande Osasco. O jogo se inverteu, como se verifica.


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