Os dados são fresquíssimos, coletados e articulados mais uma vez contra a vontade dos ufanistas de plantão: depois de 15 anos, desde a implementação do Plano Real, contabilizando-se oito anos do desastroso (pelo menos para o Grande ABC) governo de Fernando Henrique Cardoso e os sete anos redentores (pelo menos para o Grande ABC) de Lula da Silva, o balanço da produção de riqueza regional é o seguinte: ainda acumulamos perda considerável de 12,93% de Valor Adicionado. Isso significa que nosso PIB produtivo registra queda média anual de 0,862%. Estamos comendo poeira da maioria dos grandes e médios municípios paulistas. Tirem uma Santo André do nosso mapa de produção e cheguem ao resultado final desses 15 anos. É uma barbaridade quando contraposta aos números de nossos principais concorrentes a investimentos. Mas o que isso muda na institucionalidade regional? Nada, porque somos os músicos do Titanic.
Com Fernando Henrique Cardoso na presidência da República o Grande ABC perdeu em oito anos nada menos que 36,22% na indústria de transformação, o que dá a média anual de 4,53%. Com Lula da Silva e o revigoramento de nossa principal matriz econômica, nossa doença holandesa, o setor automotivo, recuperamos 36,51%.
Perguntaria o leitor: então, empatamos o jogo?
Não é bem assim, não é bem assim. Entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002, período fernandohenriquista, perdemos 36,22% de Valor Adicionado, sempre tendo como base de comparação a produção de riqueza em 1994. Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2009, agora sob o controle de Lula da Silva, demos a volta por cima e chegamos a 36,51% de ganhos, mas a base de comparação é o debilitadíssimo 2002, último ano do governo FHC. A projeção mais ampla, de ponta a ponta, de janeiro de 1995 a dezembro de 2009, tem como plataforma de embarque os números acumulados em 1994. Daí resulta a queda de 12,93% da indústria de transformação do Grande ABC, ou seja, quase 1% ao ano.
Antes de descer a alguns detalhes e explicações sobre o comportamento da economia do Grande ABC pós-Plano Real tendo como base 1994, é importante ressaltar que não mergulhei nos números ano a ano, como poderiam recomendar os mais exigentes. Certo de que não haveria mudança de resultado em termos conceituais, preferi optar pelo método de pegar os números de 1994 e compará-los com os registrados em 2002 e 2009 pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Foram, portanto, 15 anos entre um extremo e outro. Utilizei o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas como instrumento deflacionário. Sempre adotei esse medidor porque, dessa forma, bloqueio qualquer desvirtuamento nos números históricos que constam desta revista eletrônica. Embora concorde com especialistas quanto ao destino em comum dos indicadores inflacionários no longo prazo, prefiro a segurança do mesmo ferramental. A uniformização é uma arma contra oportunismos.
Os 180 meses que compreendem o período de janeiro de 1995 a dezembro do ano passado acumularam inflação de 276,32%. O cálculo para chegar aos ganhos e às perdas de cada Município pesquisado é simples: tomo os números registrados em 1994, primeiro ano de Plano Real e da nova moeda nacional e os atualizo com base na inflação do período de 15 anos. Números atualizados, confronto-os com os números de fato registrados por cada Município nos períodos definidos.
Foi assim que, por exemplo, constatei que Ribeirão Pires é a recordista regional de perda de produção de riqueza. Nada novo para mim. Como já escrevi muito sobre o assunto, posso assegurar que foi no período da prefeita Maria Inês Soares, do PT, a partir de 1997, que Ribeirão Pires conheceu seus piores momentos. Mas não se deve relacionar o fracasso econômico do Município apenas à política estritamente social. O Grande ABC viveu durante grande parte do governo Fernando Henrique Cardoso os piores momentos de sua história, com aceleração da desindustrialização que já se insinuava em anos anteriores.
Sabem quanto Ribeirão Pires perdeu em média por ano durante uma década e meia? Nada menos que 8,77%. Não há cofre público que suporte tamanho buraco, quando se sabe que Valor Adicionado é o indexador principal de cálculo e de repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), uma das principais fatias orçamentárias dos municípios. Mais que isso: Valor Adicionado mede mesmo a pujança econômica municipal e estadual. Tudo que é agregado à matéria-prima que se transforma em produto acabado é Valor Adicionado. Salários, impostos, serviços, tudo, absolutamente tudo. Valor Adicionado é quase um PIB (Produto Interno Bruto).
Apenas dois municípios do Grande ABC conseguiram no período do Plano Real alcançar resultado positivo: a dinâmica Diadema, com taxa média de 3,94% ao ano de crescimento, e a minúscula Rio Grande da Serra, com 4,19% ao ano. O que salvou o Grande ABC de uma derrocada maior ao final desse período é que, além do avanço de Diadema, a principal economia da região, São Bernardo, não foi calamitosa demais, com perda anual de apenas 2,46%. É claro que “apenas” é força da expressão. Santo André perdeu 2,68%, São Caetano 3,79% (sempre ao ano, em média) e Mauá nada menos que 6,69%. O amortecimento da debacle do Grande ABC, é sempre bom lembrar, se deu no governo Lula. Os dados são inexoráveis. Não politizo nem partidarizo meus textos.
Comparar internamente os dados do Grande ABC não dá a dimensão do que foram os anos 1990 para uma região que se orgulhava do poder industrial. Não podemos nos limitar a olhar para o próprio umbigo econômico e social.
Peguei também as três capitais de regiões metropolitanas de fato ou de direito da chamada Grande São Paulo Expandida. Sorocaba cresceu no período de 15 anos à taxa média anual de 21,66%, Campinas 5,04% e São José dos Campos, 4,20%. Já a Capital paulista chegou à média anual de crescimento de 8,34%. O Estado de São Paulo como um todo cresceu à taxa média anual de 11,01%. Muito menos que os principais Estados brasileiros, é verdade, a ponto de perder participação nacional no bolo do Valor Adicionado, mas muito, muito acima do Grande ABC.
Quando defini no título deste artigo que o Grande ABC perdeu uma Santo André de Valor Adicionado (a queda em números atualizados é de R$ 8,004 bilhões e Santo André registrou no ano passado o total de R$ 7,7 bilhões de Valor Adicionado) acabei pecando pela imprecisão. Poderia acrescentar também Rio Grande da Serra (R$ 179,4 milhões de Valor Adicionado no ano passado) para aproximar os números à realidade. Deixei Rio Grande da Serra de lado porque sua denominação mesmo abreviada não caberia na ditadura do título. Mas não creio que faça diferença, com todo o respeito que me merece esse que é o menor Município do Grande ABC.
Acho que uma Santo André já basta para transmitir a ideia de valor do que deixamos escapar por conta de políticas públicas federais desalmadas, por conta de desinteresse de políticas públicas estaduais e também por conta de políticas públicas apáticas de governos municipais. Continuamos precisando de um Plano Marshall porque os números da recuperação do período Lula da Silva não nos enganam. Estamos melhor posicionados do que no período Fernando Henrique Cardoso, mas muito distantes da segurança de um futuro sobre rodas automotivas cada vez mais internacionais. Os chineses estão avançando.
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17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima