Economia

Indústria da Província perde espaço
inclusive na região metropolitana

DANIEL LIMA - 15/07/2013

O massacre que a indústria de transformação da Província do Grande ABC sofreu desde a implantação do Plano Real, em 1994, antecedido pela política estadual de descentralização do setor, não se verifica apenas nos confrontos com os maiores municípios paulistas que integram o G-20. A surra industrial da região, até agora incapaz de despertar para valer a atenção dos administradores públicos, se dá também no âmbito da Região Metropolitana de São Paulo.


 


Os sete municípios da região perderam na metrópole, em 17 anos, um quarto de participação relativa no bolo do Valor Adicionado, âncora de repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do governo do Estado. Estamos apanhando tanto quanto pedófilo em penitenciária e seguimos a acompanhar tudo com indiferença. Tanto que as chamadas Secretarias de Desenvolvimento Econômico não têm sequer estrutura física, quanto mais técnicos especializados. Uma educadora é titular da pasta em Santo André, resultado de negociações político-partidárias.


 


Na edição de sexta-feira comparamos o ritmo de produção industrial da Província do Grande ABC com os municípios que integram o G-20 Paulista. Enquanto a região acusou queda de Valor Adicionado de 0,20 ponto percentual ao ano entre 1994 e 2011, com acúmulo de perda de 2,50%, os demais municípios do G-20 cresceram substancialmente. Fazem parte do agrupamento municípios-sede de regiões metropolitanas como Campinas, Sorocaba, Santos e São José dos Campos, além de Guarulhos e Osasco, na Grande São Paulo.


 


Agora a comparação é com o conjunto da Região Metropolitana de São Paulo, formada por 39 municípios, inclusive os sete da Província do Grande ABC. Perdemos feio novamente. Enquanto acumulamos perde média anual de 0,20 ponto percentual no período de grandes transformações macroeconômicas, mas também de boom automotivo, as demais sub-regiões da maior metrópole sul-americana empinaram os índices de produção industrial, sempre na métrica de Valor Adicionado deflacionado pelo IGP-M (índice Geral de Preços do Mercado) da Fundação Getúlio Vargas. Por isso, a participação relativa da Província do Grande ABC no conjunto da metrópole foi rebaixada de 31,15% para 23,00%, ou 26,16% de queda. A cidade de São Paulo ganhou internamente leve participação, de 55,70% para 56,64% no setor industrial, enquanto a região Oeste avançou 43,55%, de 8,15% a 11,70%, a região Sudoeste cresceu de 3,76% para 6,02% e a região Norte de 1,23% a 2,62% no bolo metropolitano.


 


Desindustrialização irreversível


 


Esses números significam, friamente, que a Província do Grande ABC tornou-se caso aparentemente irreversível de desindustrialização. Nesse caso, desindustrialização é um conceito observado apenas sob a lógica de produção industrial. Essa ponderação é importante porque, embora a cidade de São Paulo tenha registrado crescimento médio anual de 0,88 ponto percentual (34,22% no período, ou 2% ao ano) o que caracterizaria um drible na evasão industrial, o resultado se deve à maior produção industrial por conta de ganhos de investimentos tecnológicos e em processos, que compensaram a perda de unidades produtivas e também de trabalhadores no período. Desindustrialização não é uma moeda de face única nem dupla. Envolve vários vetores, mas neste trabalho a fixação é apenas sobre a produção física que conflui para a definição monetária de formação do Valor Adicionado.


 


Com a Província do Grande ABC o conceito de desindustrialização é o mais nefasto possível: além de envolver a quebra de produção física, o período foi marcado por perda líquida de empregos formais e também por rebaixamento da massa salarial.


 


A comparação da indústria de transformação da Província do Grande ABC com os melhores endereços paulistas, como consta do G-20, poderia mascarar a gravidade do quadro histórico. Os triunfalistas de sempre poderiam argumentar que as derrotas se dariam frente a adversários seletivamente fortes. Possivelmente, em busca de defesas que não têm outa finalidade senão justificar a apatia e o desinteresse dos administradores municipais em alçar as questões econômicas a um patamar de preocupação minimamente responsável, os triunfalistas se esqueceriam do balanço final dos 17 anos, independentemente de enfrentamentos municipais: a Província acusou perda monetária de 0,20 ponto percentual ao ano na indústria de transformação. Ou seja: o déficit é insofismável.


 


Já a comparação com o setor industrial da Região Metropolitana de São Paulo é cruel porque os resultados da Província do Grande ABC provam que entre tantos problemas que afetam o desenvolvimento econômico regional também o aspecto geográfico mostra-se resistente. Perder participação relativa e também em valores monetários numa área geoeconômica que se tem fragilizado frente a outros espaços do Estado de São Paulo e de diversos Estados brasileiros é tudo de pior.


 


Não à toa a Província do Grande ABC torna-se cada vez menos importante no quadro nacional quando se colocam na mesa cartas como emprego industrial, PIB e a indústria de transformação. Afinal, o setor industrial é a alma regional. Os setores de comércio e de serviços são de baixo valor o agregado. Diferentemente da Capital que, mesmo com o setor industrial em baixa, compensa boa parte dos prejuízos de transferência de fábricas com redes de hotelaria, consultoria, indústrias de conhecimento, setor financeiro -- entre tantos outros que estão distantes da Província do Grande ABC.


 


Comportamento por área


 


Acompanhe o comportamento das sub-regiões da Região Metropolitana de São Paulo na indústria de transformação entre 1994 e 2011:


 


Sub-Região Oeste – Formada por Barueri, Carapicuíba, Pirapora do Bom Jesus, Osasco, Santana de Parnaíba e Jandira, registrou Valor Adicionado nominal (sem considerar a inflação) de R$ 4.195.067 bilhões em 1994, ante atualizados R$ 35.022.868 bilhões em 2011. O crescimento nominal de 734,85% foi muito acima da inflação do IGP-M no período, de 340,29%. Com isso, o crescimento real no período foi de 394,56 pontos percentuais, o que representa 89,61% no período ou 5,27%0% ao ano.


 


Sub-Região Leste – Formada por Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano, contava com o Valor Adicionado de R$ 8.281.248 bilhões em 1994. Na ponta da pesquisa, em 2011, chegou a R$ 50.525.094 bilhões, ou seja, 169,82 pontos percentuais acima da inflação de 340,29% do IGP-M. Resultado final do período: crescimento médio anual de 2,27%, ou 38,57% no período.


 


Sub-Região Norte – Formada por Caieiras, Cajamar Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã, contava com Valor Adicionado de R$ 634.723 milhões em 1994 e saltou para R$ 7.857.203 bilhões em 2011, com crescimento nominal de 1.137,89 pontos percentuais, nada menos que 797,60 acima da inflação detectada pela Fundação Getúlio Vargas. Resultado final: crescimento médio anual durante os 17 anos de 10,65%, ou de 181,15% no período.


 


Sub-Região Sudoeste – Formada por Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista, contava com Valor Adicionado de R$ 1.935.529 bilhões em 1994, ante R$ 19.009.060 em 2011, com crescimento nominal de 830,40 pontos percentuais e crescimento real de 123,06% no período, ou 7,24% ao ano. 


 


Sub-Região Sudeste – Formada por Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, contava em 1994 com R$ 16.032.475 bilhões de Valor Adicionado, ante R$ 68.817.209 bilhões em 2011. Um crescimento nominal no período de 329,23%, ante inflação do IGP-M de 340,29%. Resultado: perda anual de 0,20 ponto percentual, ou queda de 2,5% no período na indústria de transformação.


 


Está claro e solidificado que o processo de empobrecimento da Província do Grande ABC não encontrou o antídoto desejado nem mesmo durante o governo petista de Lula da Silva, que privilegiou o consumo em detrimento do investimento e com isso fortaleceu o viés produtivo da indústria automobilística, carro-chefe da economia regional. O que acontecerá quando o setor automotivo representar menos à economia regional, já que o processo de descentralização da atividade continua a pleno vapor?


 


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