O sindicalismo exercitado na Província do Grande ABC em tempos passados, bem passados, e mesmo nestes tempos de menos ebulição e mais diplomacia, é parte das explicações para o afugentamento empresarial e também à perda líquida de empregos do setor industrial. Estão equivocados tanto aqueles que procuram isentar o movimento organizado de trabalhadores do mergulho do emprego industrial na região, com consequentes perdas de produção, como também aqueles que radicalizam e não observam nada que possa rivalizar-se aos exageros cometidos, e que não foram poucos.
Por mais paradoxal que possa parecer, a Província do Grande ABC perdeu em números relativos muito mais empregos industriais com carteira assinada durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso do que em qualquer outro período, mesmo durante os anos de chumbo do sindicalismo de Lula da Silva. E foi durante a jornada de FHC que o movimento sindical da região mais se calou, para não dizer se acovardou. Talvez o termo “acovardou” seja forte demais. O ambiente político e econômico não estava para peixe na região, mas é mais ou menos o que se viveu nos anos 1990, principalmente com a chegada do Plano Real da estabilidade econômica, da descentralização automotiva, da abertura irresponsável do mercado nacional e da valorização da moeda.
Sempre com base em números oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego, divido em quatro períodos o desempenho do emprego industrial na Província do Grande ABC. Os números não podem ser dissociados do contexto macroeconômico nacional e internacional e servem para dosar eventuais análises sobre o esvaziamento do setor na região. Emprego com carteira assinada na indústria de transformação ainda é o melhor emprego que existe na região e quando é atingido duramente provoca estragos em toda a sociedade.
Imaginem então o que ocorreu na Província do Grande ABC que, entre 1985 e 2012, portanto num intervalo de quase três décadas, viu desaparecerem 86.596 postos de trabalho no setor industrial, desfalque que significou 25,64% do estoque de trabalhadores. Tínhamos em 1985 um total de 337.640 empregos industriais e fomos reduzidos a 251.044 quando do segundo ano do mandato presidencial de Dilma Rousseff, após oito anos de Lula da Silva. Perder, como perdemos no período, um de quatro empregos industriais não é pouca coisa. Mas já vivemos situação pior.
Querem ver? Foi durante o período presidencial de Fernando Henrique Cardoso que dançamos feio. Caímos 29,42% em oito anos, portanto acima da média histórica iniciada em 1985 e encerrada provisoriamente em 2012. Quando FHC chegou à presidência da República, em 1995, a Província do Grande ABC contava como um estoque de 276.612 empregos do setor de transformação. Quando FHC deixou o governo, em dezembro de 2002, caímos a 195.216 -- uma baixa de 81.396 postos, ou 29,42%. A velocidade de desfalque de emprego industrial durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso é estonteante: 3,67% de perdas a cada temporada de 365 dias. Muito mais que no período de 1985 a 2012, quando a queda de 25,64% significou a perda média anual de 0,95% -- resultado da divisão da baixa por 27 anos da linha histórica.
Lula nos dois extremos
Subdividimos o desempenho do emprego industrial na Província do Grande ABC no período de 1985 a 2012 também entre a origem da pesquisa e a chegada do Plano Real, ou seja, de 1985 e 1994. Nesse intervalo de nove anos, perdemos 61.028 empregos industriais -- os 337.640 postos iniciais foram reenquadrados na realidade de 276.612. Uma quebra de 22,06%, ou média anual de 2,45%, relativamente próxima da registrada na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Percebe-se, portanto, que a curva descendente do emprego industrial na região se iniciou bem antes do Plano Real. Essa conta é fortemente debitada, com razão, às atividades sindicais, bastante beligerantes.
Um quarto recorte do desempenho do emprego industrial na Província do Grande ABC nas três últimas décadas limpa bastante a barra suja do sindicalismo que emergiu no final dos anos 1970 justamente com uma liderança que se tornou presidente da República. Foi com Lula da Silva, principalmente, e nos dois primeiros anos de mandato de Dilma Rousseff, que o emprego industrial local respirou com certo alívio, embalado pelo consumismo no mercado automotivo, entre outros setores que aproveitaram o quanto puderam a maré internacional de dólar em baixa e exportações de commodities em alta, entre outros vetores que embalaram o País até recentemente. Entre 2003 e 2012, a Província do Grande ABC registrou a contratação líquida de 55.828 trabalhadores no setor industrial -- um aumento de 28,60% sobre o estoque deixado por Fernando Henrique Cardoso no final de 2002. Ou nada menos que crescimento da média anual de 2,86%.
Apesar disso, a Província do Grande ABC não emite e nem seria apropriado acreditar que venha a emitir sinais de que, mesmo se desprezando o crescimento demográfico de três décadas, com implicações sociais brutais, conseguirá recuperar o saldo de empregos de 1985. Há uma defasagem entre os dois períodos de 86.596 postos de trabalho.
Seria menos sonhador imaginar uma outra situação, de volta ao nível de empregos industriais antes da chegada de Fernando Henrique Cardoso à chefia do governo federal, em 1995. Aí temos uma queda líquida de 25.568 vagas com carteira assinada. Uma meta que não pareceria inatingível se a Província do Grande ABC pudesse respirar mais que indústria automotiva, cada vez mais descentralizada e também cada vez menos empregadora, porque produtividade se faz principalmente com tecnologia e processos.
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