Economia

Por que Mauá cresceu e São Caetano
perdeu tanto em 2009?

DANIEL LIMA - 11/08/2010

Em situação de normalidade nenhuma administração municipal muda os rumos da economia de forma consistente no curto prazo. Tudo é um processo. Por isso, a liderança de Mauá no mapa de Valor Adicionado do ano passado não tem nenhuma relação com o primeiro ano da administração do petista Oswaldo Dias. Tampouco a perda mais acentuada de São Caetano no mesmo período sequer resvala na gestão do petebista José Auricchio Júnior.


Na maioria das situações de empinamentos e de rebaixamentos de geração de riqueza, os resultados envolvem consequências macroeconômicas, principalmente, ou algum fator sazonal a ser apurado.


No caso de São Caetano e Mauá, extremos de ganhos e perdas do Valor Adicionado no ano passado no Grande ABC, a interrogação que precisa ser eliminada provavelmente tenha resposta no desvio de parte da distribuição e do consequente faturamento de terminal de derivados de petróleo do território de José Auricchio Júnior em favor de Oswaldo Dias.


Há informações que vinculam a mudança a cores partidárias. Coincidentemente, São Caetano é administrada historicamente por apoiadores dos governos tucanos e aliados, enquanto Mauá é petista. Fontes da Petrobrás garantem que o único peso à mudança é técnico e logístico.


Fora a contabilidade sazonal entre São Caetano e Mauá, a crise internacional do sistema financeiro, no último trimestre de 2008, que prosseguiu durante todo o ano passado, é a raiz das complicações que derrubaram o desempenho da geração de riqueza do Grande ABC na temporada passada. Essas explicações estão no artigo Setor automotivo bate recorde mas região perde geração de riqueza, postado ontem nesta revista eletrônica.


O perfil econômico de cada Município do Grande ABC determinou os resultados individuais e influenciou o conjunto da obra. Perdemos 1,4% de Valor Adicionado quando se comparam os valores monetários de 2009 com os de 2008, sem levar em contra o 1,72% de deflação medida pelo IGP-M no período. Não fosse a crise econômica e suas consequências, o setor automotivo, carro-chefe do Grande ABC, teria garantido melhores resultados. Não teríamos crescido como outros endereços importantes da economia estadual, mas também não chegaríamos à reta final do calendário gregoriano praticamente no sufoco.


Só para se ter idéia mais precisa de que o fenômeno da estagnação (caso seja levado a ferro e fogo o fator inflacionário) ou a nova queda (quando se consideram apenas os números absolutos dos dois anos, 2008 e 2009, desprezando a deflação), nenhum outro Município importante do Estado de São Paulo registrou resultado semelhante ao conjunto da região. Campinas cresceu 7,23% em 2009 sobre 2008, São José dos Campos 4,29%, Sorocaba 10,68% e São Paulo 8,21% — só para citar alguns casos.


O problema da economia do Grande ABC é mesmo estrutural. Dependemos demais da indústria automotiva, nossa doença holandesa, e nem mesmo quando, como em 2009, a atividade bate recorde de emplacamento, no caso 3,45 milhões de veículos, assegura-se posicionamento de destaque da região. O último trimestre de 2008, de redução de crédito, não impediu o recorde de venda de veículos de passeio, mas desacelerou uma corrida ainda mais gloriosa.


Nossa participação relativa no mercado de veículos de passeio, de apenas 20%, não dá mais conta do recado de sustentação do desenvolvimento econômico e social. Ainda mais quando, além do Valor Adicionado, vasculha-se para valer a capacidade industrial de o Grande ABC gerar postos de trabalho com carteira assinada na proporção exigida pela oferta de mão-de-obra. Estamos sempre muito aquém da oferta, numa sequência de ondas que se sobrepõem num acúmulo de déficits históricos. Não é por outra razão que os desempregados da região passam de 400 mil inscritos em postos de trabalho público.


Embora Santo André tenha aumentado o volume de Valor Adicionado em 2009, comparativamente a 2008, em expressivos 10,95% (eram R$ 6,997 bilhões e passaram a R$ 7,764 milhões) o resultado transposto ao bolo regional influenciou muito pouco, porque a cidade administrada por Aidan Ravin participa com apenas 14,40% do total.


Os 2,11% perdidos por São Bernardo (de R$ 25.863 bilhões em 2008 para R$ 24.863 bilhões no ano passado) foram altamente comprometedores porque o Município do petista Luiz Marinho concentra 46,12% da geração de riqueza do Grande ABC.


Os arredondados R$ 767 milhões adicionais que Santo André amealhou de Valor Adicionado como resultado do crescimento de mais de 10% foram pouco além dos R$ 536 milhões perdidos com os 2% de São Bernardo.


Detentora do terceiro maior Valor Adicionado do Grande ABC, Diadema teve desempenho tecnicamente igual, porque os R$ 7.330 bilhões de 2008 foram apenas levemente suplantados pelos R$ 7.396 milhões do ano passado.


Ribeirão Pires de 1,57% de participação no Valor Adicionado, e Rio Grande da Serra, de 0,21%, não têm massa crítica para, mesmo durante eventual temporada de ganhos extraordinários, alterarem os rumos dos acontecimentos no Grande ABC.


O resumo da ópera do Valor Adicionado no Grande ABC na temporada passada registra R$ 53,9 bilhões de produção de riqueza, pouco abaixo dos R$ 54,7 bilhões de 2008. É da divisão desses números que resulta a perda de 1,4% em 2009. Com os R$ 53,9 bilhões, o Grande ABC de 2009 teve participação relativa no bolo estadual (R$ 624,963 bilhões) de 8,75%, enquanto em 2008 os R$ 54,7 bilhões confrontados com os números do Estado (R$ 593,1 bilhões) significavam 9,08% de participação. Uma queda de 3,63% no âmbito paulista.


Enquanto o Grande ABC acusava esse novo golpe de participação relativa no Valor Adicionado paulista, que lhe custará, em 2012, menor fatia na distribuição do ICMS, o G3 do Interior, formado por Sorocaba, Campinas e São José dos Campos avançou mais alguns degraus: em 2008 a participação relativa era de 7,29%, contra 7,39% de agora. Parece pouco, mas quando se está em jogo um volume monstruoso de recursos do ICMS, o montante financeiro é extraordinário. Até a cidade de São Paulo aumentou a participação estadual no Valor Adicionado após crescer 8,21% no ano passado — passou de 22,40% em 2008 para 23% em 2009.


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