Economia

Nem aeroportozinho resta a
São Bernardo; deu Parelheiros

DANIEL LIMA - 26/07/2013

Como era esperado, até porque o esperado era a lógica, a promessa de construir um aeroportozão em São Bernardo foi substituída por um aeroportozinho e no final ou quase final do conto da Carochinha quem vai ficar com o equipamento de pequeno porte é o Bairro de Parelheiros, no extremo Sul da Capital e, vejam só, com acesso ao Rodoanel Sul. O prefeito Luiz Marinho prometeu aeroportozão em manchete principal de primeira página do Diário do Grande ABC de outubro de 2011, mas nem aeroportozinho terá. Talvez sobre, como já antecipamos, uma pistazinha de pouso e decolagem. O que já seria demais ante as adversidades gerais, principalmente ambientais, porque a área supostamente preparada está na região dos mananciais.


 


O Bairro Parelheiros, em São Paulo, fica no extremo sul. É um depósito de excluídos sociais e está em plena área de mananciais. Mas teria menos obstáculos ambientais que São Bernardo. Serão utilizados como reserva ao empreendimento quatro milhões de metros quadrados, algo como 25% do território de São Caetano. Uma baita área que, fosse em São Bernardo, provocaria hecatombe nos conceitos de preservação do meio ambiente. O aeroportozinho que tem à frente dois filhos de magnatas do capitalismo, Fernando Augusto Camargo de Arruda Botelho (filho de Fernando Botelho, acionista do Grupo Camargo Correia falecido no ano passado) e André Junqueira Pamplona Skaf (filho do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São Paulo) foi autorizado a sair das planilhas ontem pelo ministro-chefe da Aviação Civil, Moreira Franco. Será destinado ao que se chama de aviação geral, ou seja, para atender helicópteros, jatos executivos e táxis aéreos, além de transporte de carga.


 


Nada surpreendente


 


Sabe-se que a notícia, divulgada na edição de ontem dos principais jornais e completamente ignorada pela mídia regional que tanto alardeou o aeroportozão prometido por Luiz Marinho, desagradou o staff do prefeito de São Bernardo. Mas não surpreendeu. Já se sabia que as tentativas de causar um impacto com o empreendimento morreram mesmo nos mananciais e também na falta de investidores. Mas sabe-se também que Luiz Marinho não desistiu da empreitada. Arrumar uma área como já se arrumou para construir uma pistazinha de pouso e decolagem é agora a meta para aliviar a barra de uma proposta que será catalogada no Observatório de Promessas e Lorotas de CapitalSocial com nota máxima, ou seja, 10.


 


O Aeródromo Privado Rodoanel, como será identificado o empreendimento da Hárpia Logística, a empresa de Botelho e de Skaf, tem previsão de custo de R$ 1 bilhão e será erguido com recursos da iniciativa privada, segundo informa o jornal Estadão. A previsão é de que esteja pronto no final do ano que vem. A projeção é de que operará até 240 mil pousos e decolagens por ano.


 


Pior que perder para Parelheiros, porque o confronto tecnicamente onírico poderia ter sido evitado, é constatar o quanto somos frágeis politicamente para interferir no trecho sul do Rodoanel, que tangencia nosso território. Enquanto os proprietários da Hárpia anunciam hoje que pretendem abrir uma fenda no traçado até então inviolável do Rodoanel Sul em território paulistano, exatamente para viabilizar a logística complementar do aeroportozinho, fizemos das tripas coração para aprovar um puxadinho a Mauá. Contamos com apenas três trevos de acesso ao Rodoanel Sul, o que, em suma, torna aquela serpentina asfáltica muito menos impactante ao desenvolvimento regional do que tanto se alardeou durante anos. A preservação ambiental estaria indo para o chapéu em Parelheiros.


 


Sabe-se, porque foi publicado no jornal Valor Econômico de segunda-feira, que a pista do novo aeroporto terá 1.830 metros, extensão superior à do Santos Dumont e quase do tamanho da pista de Congonhas. De acordo com o projeto enviado ao governo, serão criados 33 lotes destinados à implantação de hangares, com 491 mil metros quadrados de área. Haverá uma ampla infraestrutura no complexo: heliponto, torre de controle, terminal de passageiros, hotel e centro comercial.


 


Se um aeroportozinho é assim, imaginem o quanto um aeroportozão ocuparia de espaços. Daí, aquela notícia do Diário do Grande ABC, revelada de forma bombástica, ter-se revelado desde o princípio um atentado ao senso crítico que, infelizmente, é escasso na Província do Grande ABC. A fonte do jornal, fonte também do ABCD Maior, outra publicação da região que deu destaque à notícia, deveria ser excluída da relação de confiabilidade de quem faz jornalismo sério.


 


Marqueteiros demais


 


Provavelmente a fonte vazante do aeroportozão de São Bernardo não seja apenas um assessor qualquer ou mesmo um secretário de destaque, como se desconfia como boi de piranha. O conjunto da obra de marketing que os administradores públicos em geral mantêm sob a orientação de publicitários que zombam do jornalismo reúne muito mais força. Quem conhece as entranhas do poder sabe que os marqueteiros tomaram conta do espaço de condução de políticas públicas de visibilidade externa. Eles se acham senhores onipotentes a orquestrar cenários intocáveis. Até que, como se viu recentemente, acabam surpreendidos pela verdade das ruas que não são mais que verdades do cotidiano intramuros residenciais e corporativos.


 


Esses supostos magos da gestão pública, adorados por executivos públicos desprovidos de sensibilidade social e ávidos por boas notícias a qualquer custo, são os principais insumos que lubrificarão as engrenagens do Observatório de Promessas e Lorotas que começará a reproduzir barbaridades administrativas no começo de agosto.


 


Que o aeroportozão, que nem aeroportozinho virou em São Bernardo, sirva de lição a uma administração municipal que não difere de nenhuma outra contaminada de marqueteiros, exceto no excesso de projetos sem ou com baixa potencialidade de execução. 


 


Fosse eu o prefeito Luiz Marinho, não teria dúvidas em convocar uma reunião extraordinária para aparar as arestas informativas. O caudal de devaneios é imenso, como mostraremos no Observatório.


 


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