Economia

IDHM de São Caetano mascara
queda da Província desde 1991

DANIEL LIMA - 30/07/2013

Os festejos em manchetes de jornais e de emissoras de rádio e televisão, além da mídia digital, em torno do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) que coloca São Caetano mais uma vez na liderança nacional mascaram a realidade de queda da qualidade de vida da Província do Grande ABC.


 


Cada vez mais o IDHM regional está mais parecido com o IDHM brasileiro. E isso é mau sinal -- mesmo com a melhora nacional. Estamos pagando o preço da perda de velocidade de indicadores produzidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ipea e a Fundação João Pinheiro. E há um adicional ao qual ninguém de refere: São Caetano beneficia-se de um dos critérios que definem o IDHM, no caso de renda (os outros são Educação e Longevidade) e com isso turbina o índice específico e também o índice geral.


 


Já era esperado que, principalmente os veículos de comunicação da Província do Grande ABC, se limitassem a propagandear os números do IDHM sem o menor senso crítico. Mais que isso: como a ordem geral e irrestrita é lustrar o ego, projetam-se informações incrementadas por otimismo e triunfalismo que não combinam com o histórico afrouxamento econômico. Quando descerem as cortinas de um espetáculo de autoengano que se repete frequentemente, de novo as manchetes vão se ocupar das mazelas sociais em forma de criminalidade e de buracos de atendimento em várias áreas.


 


Os números gerais do conjunto dos sete municípios que integram a Província do Grande ABC são preocupantes no Indicador de Renda. Desde 1991, quando foi preparada a primeira versão do IDHM, até 2010, conforme os dados divulgados ontem pelas instituições parceiras, o crescimento médio de Renda da Província alcançou apenas 7,55%. Quase a metade dos 14,22% do crescimento médio nacional. Na origem do IDHM, em 1991, a Província contava com 0,715 de média (quanto mais próxima de 1, melhor), enquanto o País registrava 0,647 – uma diferença de 9,51%. Na ponta da pesquisa, em 2010, a diferença caiu para 3,90% -- resultado da média regional de 0,769 ante 0,739 do Brasil.


 


É a Economia, idiotas


 


Como desenvolvimento econômico não é uma ovelha desgarrada no campo de desenvolvimento social, é natural que a Província do Grande ABC acusasse os golpes da desindustrialização no período. Tanto que no IDHM Geral, que envolve as três áreas pesquisadas, registrou-se também queda regional ante indicadores nacionais. Entre 1991 e 2010 a Província avançou 35,21% (partiu de 0,585 e chegou a 0,795) enquanto o Brasil como um todo avançou 47,46% (partiu de 0,493 e chegou a 0,727). A vantagem do IDHM da Província sobre o Brasil, que era de 15,72% em 1991, foi reduzida a 8,09% na ponta da pesquisa. Praticamente na mesma toada da quebra econômica.


 


A Província do Grande ABC vem se sustentando no IDHM Geral, como de resto o próprio País, por conta dos indicadores de Educação e de Longevidade. No Indicador de Renda há evidente desvantagem, principalmente na região. Tanto que em 1991 a Província registrava 0,715 ante 0,585 do índice geral. Em 2010, o indicador de renda da região chegou a 0,769 ante 0,791 do indicador geral. O que na Província era uma diferença favorável à economia sobre o social de 18,18% passou a uma vantagem do social de 2,78% quando se confrontam os dois indicadores.  Não é por outra razão que a Província está cada vez mais a cara do Brasil. Até porque o processo de indicadores nacionais que favorece questões sociais é menos intenso: em 1991 o Indicador de Renda nacional registrava vantagem de 23,80% sobre o indicador geral do IDHM, enquanto na ponta da pesquisa, em 2010, a diferença se estreitou a 1,62%.


 


No indicador Distribuição de Renda apenas 620 municípios brasileiros possuem IDHM superior ao observado no País, que é de 0,739. Individualmente, estão acima desse resultado São Caetano, São Bernardo, Santo André e Ribeirão Pires. São Caetano ocupa a primeira colocação nacional com 0,891 no indicador de Renda. A metodologia aplicada não é transparente o suficiente para confirmar equivocada uma análise inquietante: o Município da região conta número de empregos registrados em carteira muito acima do padrão regional. Tudo por conta dos efeitos da guerra fiscal que atraiu muitas empresas do setor de serviços na última década do século passado. Muitos desses empregos são contabilizados em São Caetano, mas os trabalhadores atuam e residem principalmente na Capital, onde efetivamente muitas dessas empresas operam.


 


Não é a toa que Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, aparece em 16º lugar no IDHM tendo Renda como principal indicador. De qualquer modo, mesmo eventuais correções não retirariam São Caetano dos primeiros lugares. O Município é uma obra de décadas, beneficiado pela exiguidade territorial e pela privilegiada arrecadação de impostos de três meganegócios (Casas Bahia, General Motors e terminais da Petrobrás) que garantem altos investimentos nos setores de Educação e Saúde, protegidos constitucionalmente. Com o preço do metro quadrado imobiliário cada vez mais caro, a verticalização de moradias deverá abrigar população adicional de alto poder aquisitivo -- o que deverá se refletir na próxima edição do IDHM.


 


Porta-estandarte de triunfalismo


 


São Caetano é um oásis regional. Portanto, não pode ser extrapolado como porta-estandarte da Província do Grande ABC. Essa persistente tentativa de mascaramento de um histórico de quebra de riqueza econômica não se sustenta inclusive nas áreas sociais quando se verifica que o crescimento regional está abaixo do nacional.  Província do Grande ABC e Brasil parecem mesmo fadados a se encontrar no IDHM. Melhor para o Brasil. Preocupante para a Província que, para esconder o Complexo de Gata Borralheira em relação à Capital tão próxima, sempre se motivou a se comparar a um País que está longe de ser exemplo de Primeiro Mundo, como se sabe.


 


Um aspecto a ressaltar é que houve alterações no cálculo do IDHM, e que os pesquisadores, para comparação com as edições anteriores, recalcularam os valores com base na nova metodologia. Com mais de 180 indicadores para os mais de 5.500 municípios do País, a atual edição do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil permite uma análise das cidades mais bem colocadas por região. Na comparação entre Unidades da Federação, o IDHM é liderado pelo Distrito Federal com 0,824. Em seguida vêm são Paulo (0,783) e Santa Catarina (0,774). O Estado com desempenho mais fraco são Alagoas (0,631) e Maranhão (0,639).


 


Voltaremos ao assunto com novos desdobramentos.


 


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