Mostramos nas duas edições anteriores os contrastes no comportamento do mercado de trabalho com carteira assinada no Grande ABC nas faixas mais elevadas e mais baixas de remuneração durante os sete anos do presidente Fernando Henrique Cardoso até 2001. Para que os emeiados possam compreender nova abordagem na faixa intermediária de 3,1 a 10 salários mínimos, recompomos rapidamente aqueles enunciados:
Na faixa acima de 10,1 salários mínimos (de R$ 2.001 em diante, em valores de dezembro do ano passado), o conjunto de municípios do Grande ABC perdeu 85.853 postos de trabalho, passando de 177.114 para 91.261 empregados. Uma queda relativa de 49,48%.
Na faixa popular de até três salários mínimos (R$ 600), o Grande ABC inchou de carteiras de trabalho, passando de 93.305 para 188.044 trabalhadores, ou seja, crescimento de 98,62%.
Como mostramos também nas duas edições anteriores, tanto no universo de privilegiados quanto no de proletarizados, o Grande ABC apresentou dimensionalmente índices de queda e de crescimento muito superiores aos principais municípios paulistas pesquisados e também muito acima da média estadual e macroestadual.
Derrotado fragorosamente onde mais se caracteriza o que se convencionou chamar de mobilidade social -- expressão muito lembrada nestes tempos em que um torneiro-mecânico conquistou a Presidência da República -- o Grande ABC é vítima do gigantismo do emprego barato e sem proteção social privada. Como se teria comportado, então, esse balanço de empregos formais nas faixas de rendimentos que estão acima de três e abaixo de 10,1 SM?
Com base nas estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento, Solidariedade e Emprego da Prefeitura de São Paulo, mergulhamos em novas interpretações. E os resultados, felizmente, não seguem a debacle das faixas já analisadas.
Do total de trabalhadores com carteira assinada em dezembro de 2001 no Grande ABC, 44,05% recebiam entre 3,1 e 10 salários mínimos. Sete anos antes eram 44,46%. Acompanhem na sequência cada um dos municípios da região e seus respectivos números em 1994 e 2001.
Diadema contava com 49.609 empregos formais de 3,1 a 10 SM em 1994, o que representava 58,97% da força de trabalho formalizada. Em 2001, caiu para 36.673 e 50,16% de participação relativa interna.
Mauá somava 14.284, ou 43,90% dos trabalhadores locais, contra 16.429 empregados formais de 2001, ou 48,45% da força de trabalho.
Ribeirão Pires reunia 9.213 empregos formais de 3,1 a 10 SM, ou 52% do contingente interno, e caiu para 6.426 e 46,84% de participação interna sete anos depois.
Rio Grande da Serra contava com 415 postos de trabalho na faixa salarial estudada, com 32,37% de participação interna, contra 764 registrados em 2001, com participação de 34,39%.
Santo André somava 53.380, com 44,53% de participação interna, e caiu para 50.514, com participação interna de 42,84%.
São Bernardo tinha 73.870 postos de trabalho de 3,1 a 10 SM em 1994, com participação relativa interna de 37,88%, e aumentou para 79.340 postos e participação de 42,51%.
São Caetano passou de 28.043 postos, com 43,76% de participação relativa interna, para 39.869 postos e participação relativa de 42,12%.
Como se observa, no conjunto da obra não há transformação significativa. Em 1994 o Grande ABC contava com 228.814 empregos formais entre 3,1 e 10 SM, contra 230.015 sete anos depois. A participação relativa no Estado de São Paulo também se manteve estável: de 6,3% dos empregos nessa faixa salarial em 1994 para 6,69% em 2001. Individualmente, sim, houve algumas mexidas que não podem ser desprezadas:
Diadema contabilizou déficit líquido de 13 mil postos de trabalho. Como saltou demais na faixa de até três salários mínimos, de 11.936 para 25.086 em sete anos, tudo indica que radicalizou na troca de empregos de ouro por empregos proletários.
Com Ribeirão Pires, duramente atingida pela desindustrialização no período da pesquisa, deu-se o mesmo roteiro de Diadema.
São Bernardo, mais protegida pelo sindicalismo que construiu história de valorização salarial, conseguiu amortecer a rotatividade impactante da derrubada salarial, embora não tivesse escapado da fragilização comum dos três salários mínimos.
São Caetano é um caso à parte, pela prática de guerra fiscal no setor de serviços, assim como Rio Grande da Serra. Trataremos desses casos em espaço específico.
Intermediários são 44%
Imaginem os leitores, como exercício de compreensão, se em todas as macrofaixas salariais o Grande ABC apresentasse a relativa estabilidade que se registrou na escala que vai de R$ 601 a R$ 2.000 mensais de salários? Não fossem esses trabalhadores apenas 44,05% do contingente de empregos com carteira assinada, os sete anos de Fernando Henrique Cardoso não teriam reestruturado completamente a realidade econômica e social do Grande ABC. Reestruturado é força de expressão. A expressão vernacular mais apropriada para o remelexo que atingiu a base e o pico da pirâmide salarial com carteira assinada na região é mesmo bagunça quase generalizada.
Sim, bagunça quase generalizada porque 66% dos trabalhadores formais da região viveram pessoalmente ou como espectadores estressados o inferno na torre da precarização do trabalho. Enquanto em 1994 o perfil do emprego formal na região marcava 18,13% de trabalhadores de até três salários mínimos, 44,46% de 3,1 a 10 SM e 49,48% de mais de 10,1 salários mínimos, em 2001 a contabilidade passou a ser de 36,01% de até três SM, 44,05% de 3,1 a 10 SM e 17,13% de 10,1 ou mais salários mínimos.
Só não me dou ao trabalho -- sempre em meu escritório doméstico -- de traduzir tudo isso em números monetários de perda da massa salarial porque os dados do Ministério do Trabalho e Emprego não são suficientemente compartimentados e não me dão segurança absoluta de fugir de qualquer tropeço. Dividido em microfaixas salariais, o estudo não permite o detalhamento desejado. De qualquer maneira, deixa entreaberta a possibilidade de aproximação estatística que talvez me conduza a novas incursões. Amanhã daremos continuidade a essa série histórica.
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