Economia

Província bate periferia mas perde
feio para áreas nobres da metrópole

DANIEL LIMA - 08/08/2013

A Província do Grande ABC é campeã em média de renda mensal ante as áreas periféricas da Região Metropolitana de São Paulo e também da Capital paulista, mas perde para as áreas nobres dessa mesma Capital. O resultado é extraído do estudo “O emprego e a mobilidade do Trabalhador na Região Metropolitana de São Paulo”, produzido pela Fundação Seade com base nos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).


 


O resultado da Província não é nada surpreendente. Primeiro porque conta com forte influência do setor industrial, comprovadamente mais generoso com a classe trabalhadora. Segundo porque as áreas nobres em empregos na Capital contam com atividades do terciário de valor agregado que a Província ainda procura implementar. Todas as informações captadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego referem-se ao local de moradia do entrevistado. Isso significa que as informações sobre setor de atividade, tipo de ocupação, remuneração, entre outras, estão associadas às sub-regiões em que o trabalhador reside e não aos locais em que trabalham.


 


Em média, o rendimento mensal dos trabalhadores ocupados na Província do Grande ABC era de R$ 1.860,00 em novembro do ano passado -- um pouco acima (1,50%) da média geral da Capital (R$1.832,00) e também (8,87%) da média geral da Região Metropolitana de São Paulo (R$ 1.695,00).


 


No embate com a sub-região Sudoeste da Região Metropolitana (Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista), a diferença é mais folgada (26,90%) por conta da média salarial de R$ 1.359. Uma vantagem mais ampla do que (22,31%) ante a sub-região Oeste (Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santa do Parnaíba), que chega a R$ 1.445,00.


 


Se o confronto da média de rendimento mensal da Província do Grande ABC for com a sub-região Norte (Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã), a diferença (32%) é maior (R$ 1.266,00). Já ante a sub-região Leste (Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano) diminui a diferença (26%) com os R$ 1.377,00 daquele conjunto de 11 municípios.


 


Agora, as derrotas


 


Se nos confrontos com as sub-regiões da metrópole a Província só coleciona vitórias estando à Sudeste da Capital, com as zonas paulistanas periféricas repete a série de sucessos. A Zona Sul 2 (Cidade Ademar, Pedreira, Campo Limpo, Capão Redondo, Vila Andrade, Jardim Ângela, Jardim São Luiz, Socorro, Cidade Dutra, Grajaú, Parelheiros e Marsilac) ocupa a lanterninha com média de renda mensal de R$ R$ 1.290,00 – ou 30,64% inferior à Província. Um pouco menos (R$ 1.339,00, ou 28%) que a Zona Leste 2 (Ermelino Matarazzo, Ponte Rasa, Itaquera, Cidade Líder, José Bonifácio, Parque do Carmo, São Mateus, Iguatemi, São Rafael, São Miguel, Jardim Helena. Vila Jacuí, Itaim Paulista, Vila Curuçá, Guaianazes, Lajeado e Cidade Tiradentes).


 


Também a Zona Norte 2 da cidade de São Paulo é batida em média de renda mensal pela Província do Grande ABC. (Formada por Casa Verde, Limão, Cachoeirinha, Freguesia do Ó, Brasilândia, Pirituba, Jaraguá, São Domingos, Perus e Anhanguera) a área registrou R$ 1.593,00 – 14,35% atrás.


 


A série de vitórias da Província se encerra quando se defronta com as demais zonas paulistanas. Os resultados chegam a ser estrondosamente desfavoráveis, semelhantemente às vantagens ante a periferia da própria Capital e também da Região Metropolitana de São Paulo.


 


A renda média mensal da Província de R$ 1.860,00 é 4,7% inferior aos R$ 1.944,00 da Zona Leste 1 (Mooca, Agua Rasa, Belém, Brás, Pari, Tatuapé, Vila Prudente, São Lucas, Aricanduva, Carrão, Vila Formosa, Penha, Artur Alvim, Cangaíba e Vila Matilde). Já em relação à Zona Norte 1 (Tremembé, Jaçanã, Vila Maria, Vila Guilherme, Vila Medeiros, Santana, Tucuruvi e Mandaqui, de renda média de R$ 1.999,00, a desvantagem da Província é de 7%.


 


Já o confronto da Província com a Zona Sul 1 de São Paulo é muito menos confortável. Formada por Vila Mariana, Saúde, Moema, Ipiranga, Cursino, Sacomã, Jabaquara, Santo Amaro, Campo Belo e Campo Grande, essa área paulistana registrou média mensal de R$ 2.570,00 – 27,6% superior à média da região.


 


Já no confronto com o Centro (Sé, Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República e Santa Cecília), a Província sofre derrota, pois a média mensal dos trabalhadores dessa área é de R$ 2.581,00, ou 28% de diferença.


 


A maior derrota no ranking se dá frente à Zona Oeste (Pinheiros, Alto do Pinheiros, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Lapa, Perdizes, Vila Leopoldina, Jaguaré, Barra Funda, Butantã, Morumbi, Raposo Tavares, Rio Pequeno e Vila Sônia), cujos assalariados recebem em média por mês R$ 3.676,00 -- 49,40% acima dos moradores da Província do Grande ABC.


 


Perdas e ganhos


 


No estudo assinado por Alexandre Jorge Loloian, Leila Gonzaga e Ligia Schiavon Duarte, pesquisadores da Fundação Seade, sob a coordenação e edição de Edney Cielici Dias, registra-se a capacidade das sub-regiões Sudeste (Província do Grande ABC), Leste (Guarulhos, Mogi das Cruzes, etc.) e Oeste (Osasco, Barueri, etc.) de manterem seus moradores trabalhando nos seus limites territoriais e a diminuição dos deslocamentos dos trabalhadores para fora de suas regiões. “Em contrapartida, notou-se tendência contrária nas sub-regiões Sudoeste (Cotia, Embu das Artes, etc.) e Norte (Francisco Morato, Franco da Rocha, etc.), com ampliação da parcela dos moradores que precisaram buscar trabalho fora de seus limites”.


 


Ainda segundo os estudos, o crescimento econômico do período de 2003 a 2012 da Região Metropolitana de São Paulo avançou a taxas médias anuais de 2,2%, com redução generalizada das taxas de desemprego. “Essa expansão se deu de forma diferenciada no território, com maior intensidade nas áreas periféricas: o nível de ocupação aumentou 1,9% no Município de São Paulo e 2,6% nos demais municípios da região metropolitana”.  Com isso, cai a participação da cidade de São Paulo no total de ocupados na RMSP (de 59,1% em 2003 para 58,3% em 2012), bem como nas sub-regiões Sudeste (Província) e Oeste, aumentando nas sub-regiões Leste, Sudoeste e Norte. Também a periferia da cidade de São Paulo ampliou mais intensamente a ocupação: a Zona Leste 2, A Zona Norte 2 e a Zona Sul 2 registraram taxas médias anuais de crescimento de 3,5%, 3,1% e 2,4%, enquanto diminuiu o nível de ocupação no Centro (-1,8%) e na Zona Oeste (-0,5%).


 


Os pesquisadores apontaram também que melhorou no período analisado o tipo de inserção no mercado de trabalho, com aumento do emprego assalariado com carteira de trabalho assinada e redução dos contingentes de trabalhadores sem carteira, autônomos e empregados domésticos, “formas que costumam ser mais precárias e vulneráveis”. Esses movimentos se fizeram acompanhar por aumentos dos rendimentos médios reais, mais intensos nas áreas periféricas da cidade de São Paulo nas Zonas Sul 2, Leste 1 e Norte 1, e nos demais municípios na Região Metropolitana de São Paulo. “A expansão dos níveis de ocupação e as melhorias do tipo de inserção no mercado de trabalho e dos rendimentos médios observados nas regiões mais periféricas da RMSP mostram-se consistentes com o crescimento mais forte das ocupações com menores exigências de formação, em grande medida nos diversos segmentos dos serviços, e com as políticas de valorização do salário mínimo e do piso regional paulista, que elevaram os salários da base da pirâmide social” afirma o relatório.


 


Ou seja: os efeitos do governo Lula da Silva predominam no quadro analisado.  A ênfase no consumo, com a massificação do sistema de crédito e o aumento real do salário mínimo estão na raiz do crescimento do contingente de assalariados na Região Metropolitana de São Paulo tanto quanto no restante do País.


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