Era questão de tempo, de tempo que se esgotou: a Grande Campinas de 19 municípios e população semelhante a dos sete municípios do Grande ABC ultrapassou a outrora invejável cidadela regional e se posiciona em quinto lugar no ranking nacional do PIB de consumo, melhor tradução para o chamado Índice de Potencial de Consumo desenvolvido e consagrado pela agora IPC Marketing, sucessora da Target.
Para o Grande ABC, que já foi terceiro colocado no País, o sexto lugar nada mais é do que nova prova provada de que os anos 1990, especificamente do governo Fernando Henrique Cardoso, foram como sempre alertei os mais destrutivos que uma região já vivenciou neste País. E quem imaginava que os efeitos daquele quadro se esgotariam no curto prazo desconsidera sequelas mesmo quando o tratamento dispensado alcança resultados satisfatórios. O que também não é o caso do Grande ABC, arrimo da cadeia automobilística cada vez mais tecnológica, cada vez menos dependente de mão-de-obra.
É claro que os leitores não encontrarão nas páginas de jornais notícias que deem conta da insistente queda da riqueza do Grande ABC, provocada entre outras fontes de infortúnio pela quebra da mobilidade social da última década do século passado, na esteira da desindustrialização. Os jornais sofrem sérias restrições editoriais. Como no caso da temporada da Copa do Mundo, prevalece ambiente de oba-oba que induz à autocensura. A pauta é interditada.
Ainda hoje se omite que o Grande ABC caiu para o quinto lugar no ranking de potencial de consumo, como este site analisou com exclusividade recentemente. Há departamentos de publicidade de jornais que vendem gato por lebre, arguindo um terceiro posto que há muito foi para o beleléu. O Grande ABC acostumou-se a trabalhar com informações falsas.
Segundo dados da IPC Marketing do pesquisador Marcos Pazzini, a Região Metropolitana de Campinas terá para gastar este ano R$ 47,2 bilhões, contra R$ 44,7 bilhões do Grande ABC. A diferença de R$ 2,5 bilhões equivale à soma de Ribeirão Pires e duas vezes Rio Grande da Serra. A numeralha é inquietante, mas em intensidade menor que o conceito que pretendo repassar: perdemos sim o trem da história econômica. Até prova em contrário, e não vejo nada no horizonte regional que possa condicionar a exposição de ideias que fujam do triunfalismo inconsequente, continuaremos a despencar em todas as disputas.
Não bastassem todos os problemas estruturais que colocam o Grande ABC no banco de reservas do Campeonato Nacional de Investimentos Produtivos, ainda temos de conviver com dois pontos cegos que dificultam extremamente uma reviravolta no placar.
Primeiro, há barreiras físico-geográficas na forma da Serra do Mar e da legislação de proteção aos mananciais que estrangulam planos de ampliação do parque produtivo.
Segundo, o Grande ABC é um território sem institucionalidade que sofre de Complexo de Gata Borralheira. A melhor tradução dessa dupla enfermidade é que o Grande ABC está-se tornando terra de ninguém e, ao mirar para a vizinha e pujante Capital, continua a se sentir mais inferiorizado do que de fato é.
Concordo que não é fácil expor essa conclusão, porque haverá sempre um hipócrita de plantão para condenar o mensageiro e a mensagem. Como não é de hoje que deixo para lá o bom-mocismo jornalístico, que, de fato, não passa de oportunismo daqueles que o praticam, bater nessa tecla será sempre providencial. Quem sabe uma meia dúzia dos donos do poder no Grande ABC não se mexe, em vez de desfilarem egocentrismo em colunas sociais?
A vantagem que os números do potencial de consumo oferecem em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) tradicional é que desfazem-se mascaramentos. O PIB, soma em valores monetários de todos os bens e serviços, reúne algumas armadilhas que provocam interpretações caolhas, já que há situações nas quais os valores mais expressivos acabam redistribuídos a outros municípios. Um exemplo: o volume de salários pagos por uma montadora de veículos é contabilizado na respectiva sede da empresa, incluído no Valor Adicionado, base estrutural do PIB. Já o potencial de consumo é implacável na medição do estoque de recursos monetários disponíveis. Só entram nas contas do Município detentor da mesma montadora de veículos os trabalhadores residentes em seu território.
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