Se responder dizendo que é a onírica proposta de aeroporto de porte internacional numa imensidão de verde, os mananciais de São Bernardo, vão dizer que estou a perseguir o prefeito Luiz Marinho. Mas como não tenho preocupação alguma com o que falam ou deixam de falar porque procuro ser justo, apenas, coloco todas as minhas fichas nesse absurdo de propagandismo infeliz que, podem acreditar, não fosse CapitalSocial, ganharia foro de viabilidade e transformaria no futuro o titular do Paço de São Bernardo em visionário incompreendido.
Mas há concorrentes duros de roer nessa corrida maluca que os prefeitos empreendem para ver quem chega mais próximo do ridículo, ou seja, de propostas com ares de seriedade e planejamento quando na maioria dos casos não passam mesmo de baboseira sem limites. Tudo para testar até que ponto a mídia será capaz de comprar gato de esperteza marquetológica por lebre de responsabilidade social.
Houvesse na mídia verde e amarela um pacto para, em todas as dimensões espaciais e institucionais, exercer fiscalização rígida sobre o que os gestores prometem ao distinto público, os leitores que teriam um índice de malandragem explícita bastante reduzido. Sim, porque não passa de malandragem, no sentido de comunicação com a sociedade, essa leva de besteiras a sugerir que se está trabalhando com seriedade.
Tudo bem que em alguns casos listados como potenciais “lorotas” nós não perdoamos mesmo. Poderíamos ter destinado o abrigo menos constrangedor de “promessa”. Fiquei em dúvida quando decidi pela classificação da atual lista de “lorotas”. Em alguns casos cheguei a uma listagem inicial na categoria de “promessas” mas como quis mesmo espicaçar, como forma de devolver no devido peso e intensidade o atrevimento dos anúncios, lancei aquelas propostas ao extremo do deboche. A eles, prefeitos, somente a eles, caberá o deslocamento das “lorotas” da listagem e, com isso, registrarem pontos positivos no ranking de produtividade que, até agora, não conta sequer um único titular de Paço Municipal com ativo a desfraldar.
Sensibilidade pública
Tornar público um ranking como o do Observatório de Promessas e Lorotas é a maneira de procurar sensibilizar outros veículos de comunicação. Sei que há certa dor de cotovelo que impõe ignorar publicamente iniciativas de terceiros. A mídia é mais mutuamente ressentida do que imaginam os leitores. Não canso de citar fontes de informações de artigos nesta revista digital. O faço sobretudo por questão de honestidade profissional. Não uso meios termos nem busco dar um nó em pingo d’água para disfarçar a origem de informações de artigos relevantes. A mídia em geral finge-se de morta. Os exemplos de desconfortável ignorância planejada por conta de insustentabilidade de um projeto mais crítico são muitos. Só saltam às manchetes mesmo, e mesmo assim de forma disfarçada, quando não há mesmo saída. Mas a metabolização é compulsória.
Já realizei tantas coisas na vida como jornalista que seria difícil listar as mais importantes, mas não tenho dúvida em afirmar que o Observatório de Promessas e Lorotas lava a alma porque, entre outras razões, também significa uma respostas profissional: cansei de ser enganado com promessas que jamais emergiram do terreno da especulação deliberada.
Costumo dizer que a revista LivreMercado cometeu alguns pecados em quase duas décadas de circulação sob a coordenação deste jornalista. Na maioria, os equívocos tiveram semelhante matriz comportamental: a besteira de acreditar que a linha editorial ácida, sisuda, crítica, analítica, desconfiada, fosse eventualmente exagerada. Com isso, nos permitimos algumas matérias que lançaram fluídos de otimismo na praça. Foram fracassos retumbantes. Não que tenhamos sido Marias-vão-com-as-outras. Simplesmente erramos por acreditar que a Província do Grande ABC contasse com quem pudesse inspirar para valer senso de urgência, de competitividade, de resolutividade, que o contexto econômico e social exigia. Celso Daniel, em alguns pontos, é uma honrosa exceção. Mas seu legado é mais intelectual mesmo.
Reproduzo na sequência a lista das 12 lorotas que constam do Observatório de Promessas e Lorotas desta revista digital. Querem um passatempo interessante? Hierarquizem as propostas de forma decrescente. Comecem por aquela que julgar a mais cabeluda. Eu, como escrevi, começo com o aeroportozão do Luiz Marinho. E termino com a proposta do prefeito de Diadema, Lauro Michels, de colocar a casa do mercado imobiliário em ordem. Bom divertimento. Afinal, é melhor rir do que chorar ante o que vem em seguida.
Em 12 de agosto de 2013 Carlos Grana anuncia que pretende fazer da Vila de Paranapiacaba o maior polo turístico da Província do Grande ABC, em encontro com representantes do Polo Design Center do ABC. Vale 20 pontos.
Em 14 de agosto de 2013 o prefeito Carlos Grana anuncia a constituição do pontapé inicial para a construção do Polo Tecnológico de Santo André, ao fazer aprovar no Legislativo o projeto que habilita o Município à iniciativa. Vale 20 pontos.
Em 14 de agosto de 2013 a secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli, anuncia a construção de um centro de convenções no escopo do Polo Tecnológico de Santo André. Vale 20 pontos.
Em 14 de agosto de 2013 a secretária de Desenvolvimento Econômico Oswana Fameli anuncia um pacote de intenções com a criação de leis de inovação e incentivo fiscais para tornar realidade o Polo de Tecnologia de Santo André. Seriam abrangidas várias áreas econômicas do setor industrial. Vale 20 pontos.
Em cinco de junho de 2009 a Administração Luiz Marinho anuncia que São Bernardo poderá abrir o Parque Temático do Automóvel. Um dos principais itens a compor o parque é um museu, responsável por contar não apenas a história dos carros, mas também da indústria automobilística e as mudanças que causou na cidade. Está previsto também um centro de exposições e convenções para suprir a demanda da região, segundo notícia do jornal Repórter Diário. “Queremos viabilizar o projeto para que seja um presente para a cidade e para os moradores de São Bernardo. Mas ainda estamos conversando com especialistas para que tudo saia da melhor maneira”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jefferson da Conceição. Vale 20 pontos.
Em 15 de outubro de 2011 o jornal Diário do Grande ABC deu em manchete principal de primeira página que o prefeito Luiz Marinho planejava construir um aeroporto internacional em São Bernardo, disposto que estava a entrar na briga com Caieiras para conquistar o terceiro terminal aeroportuário de grande porte da Região Metropolitana de São Paulo. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jefferson da Conceição, “deu mostras de que o plano não está em estágio tão primário na Administração, tanto que afiançou que há um projeto executivo finalizado. Esse documento é responsável por demarcar o terreno do aeroporto, delinear estratégias e até estipular a capacidade de funcionamento”, publicou o jornal. Vale 20 pontos.
Em 19 de agosto de 2012 o ABCD Maior publica que a Prefeitura de São Bernardo estuda duas formas de concretizar a revitalização do Pavilhão Vera Cruz: gestão própria ou concessão à iniciativa privada. A proposta do prefeito Luiz Marinho é revitalizar e transformar o estúdio da antiga Companhia Cinematográfica Vera Cruz em uma Fundação e retomar a importância que o espaço já teve na indústria cinematográfica do País. Vale 20 pontos.
Em nove de novembro de 2012 os jornais estamparam que Luiz Marinho apresentou projeto funcional do metrô-cabo, popularmente conhecido como teleférico, a ser implementado em pontos estratégicos do Município. Inicialmente o projeto prevê a construção de três estações nos corredores Tiradentes, Montanhão e Pedro Alcântara. O teleférico será interligado com corredores de ônibus e também de metrô. Disse Marinho que o sistema visa transformar São Bernardo em referência de mobilidade urbana. O secretário de Transportes e Via Públicas, Oscar Silveira, afirma que a obra não tem previsão para começar. “Talvez daqui a um ano”, esperamos. Marinho viajou à Colômbia e à Venezuela para conhecer o sistema e garantiu que iria ao Rio de Janeiro, em dezembro daquele ano. Vale 20 pontos.
Em 8 de dezembro de 2012 Donisete Braga anuncia que Mauá ganharia dois mil novos empregos industriais com a perspectiva da chegada de uma divisão da Mercedes-Benz. Vale 20 pontos.
Também em oito de dezembro de 2012 Donisete Braga anunciou disposição de recuperar tributos da Refinaria de Capuava recolhidos por São Caetano. “Não dá para aceitar que Mauá continue sendo prejudicada com a produção de petróleo e não fique com nenhum tributo. (...) Se Mauá tem a refinaria 100% instalada no Município, não é justo que Mauá não receba os tributos” – disse ao jornal Diário Regional. Mais tarde, em 11 de abril, Donisete Braga disse ao Diário do Grande ABC que iria propor à presidente da Petrobrás, Graça Foster, a construção de um terminal de distribuição de combustíveis na cidade, o que representaria recuperação de parte dos R$ 170 milhões/no recebidos por São Caetano. Vale 20 pontos.
Em 13 de agosto de 2013 o prefeito Lauro Michels anuncia que não autorizará em Diadema a construção de torres de apartamentos e de salas comerciais que ultrapassem os critérios regulamentares sem que as construtoras responsáveis ofereçam contrapartidas de verdade para o Município em forma de equipamentos públicos. Vale 20 pontos.
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