Ao reproduzir hoje a melhor entrevista que fiz com o então prefeito Celso Daniel, em abril de 2001, e que está logo no pé deste texto, aproveito para um breve comentário sobre o que ouvi na semana passada. Não vou entrar em detalhes, porque ocuparia muito espaço. Estabeleço apenas uma comparação entre o conteúdo da entrevista com Celso Daniel e o que ouvi dos entrevistados do repórter Leandro Amaral, do jornal Repórter Diário, com o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, o sindicalista Rafael Marques, e também com a secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo André, Oswana Fameli.
Apesar de todo o talento do jornalista do Repórter Diário, tivemos dois exemplos do distanciamento quilométrico (e das perdas intelectuais e executivas) entre os entrevistados e aquele que foi o maior prefeito regional da história desta Província.
Quem tiver a curiosidade de acompanhar o que disseram Rafael Marques e Oswana Fameli e comparar o conteúdo com a entrevista especial que sugerimos leitura abaixo vai constatar o quanto perdemos com a morte de Celso Daniel. E, infelizmente, a situação não seria diferente se Oswana Fameli e Rafael Marques fossem substituídos pelos respectivos prefeitos de Santo André e São Bernardo.
Aliás, eles espelham fielmente os limites de experiência e de conhecimento dos dois titulares dos paços municipais mais importantes da região. O quarteto e tantos outros seguem a mesma trilha de aridez informativa sobre a realidade histórica desta Província e tornam tudo muito ridículo, porque transmitem a sensação de que estão a lidar com fatos e situações inéditas, quando, na realidade, são repetecos mais graves, porque problemas que não são resolvidos em tempo se tornam muito mais complexos.
Uma leitura com cuidados
Vou deixar para outro dia uma breve avaliação das entrevistas do dirigente da Agência de Desenvolvimento Econômica e da comandante da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André. Por enquanto, convido os leitores à entrevista com Celso Daniel. Mas não o façam de forma autômata, sem penetrar no âmago de cada parágrafo tanto das perguntas quanto das respostas. Ali está uma multiplicação de nuances que não podem ser desgarradas daquele contexto que, infelizmente, segue a valer nestes dias.
Mais que uma sensibilidade especial à leitura: imaginem aquela entrevista especial feita num ônibus que conduzia torcedores vips do Santo André, que jogaria na tarde daquele domingo em São Carlos. Convidado que fui para a viagem por não me engano outro que não tenha sido o então supersecretário secretário Klinger Souza, não tive dúvidas em carregar um gravador. Sabia que Celso Daniel estava disposto a dar uma entrevista tão longa no cronômetro quanto demorada em quilometragem. Era uma oportunidade de ouro para saber o que pensava o petista sobre a economia de Santo André e da região e também sobre nossa regionalidade. Não que não o soubesse, mas uma circunstância como aquele poderia quebrar o gelo e, quem sabe, Celso Daniel embrenhasse por caminhos nunca antes embrenhados.
Valeu a pena porque considero aquele o melhor conteúdo entre todos os que realizei com dirigentes públicos, principalmente porque foi marcante como algo magnetizado pelo diálogo franco. Foi algo tão natural que nem o gravador em punho conseguiu em algum instante nos lembrar de que aquilo que se falava saltaria daquela fita. Parecia mais uma conversa de dois viajantes. Se aquela entrevista já se consolidara como histórica naquela data, imagine então quando o destino quis que menos de um ano depois Celso Daniel fosse retirado deste mundo de forma tão violenta quanto estúpida.
Rompendo a cronologia
Quando reli por acaso aquela entrevista especial em meu computador neste final de semana, entre tantos textos de arquivo que minha assessoria me reservou para seguir a cronologia de adensamento do acervo desta revista digital com insumos de LivreMercado, não tive dúvidas em correlacioná-la às declarações festivas, inócuas e disparatadamente pouco compromissadas com o futuro da região, pronunciadas por Oswana Fameli, e também com o otimismo ingênuo do sindicalista que preside a Agência de Desenvolvimento Econômico da região.
E após aquela comparação não tive dúvidas em romper a ordem cronológica para publicar o trabalho já nesta segunda-feira, furando a fila de conteúdos antecedentes. Nada, entretanto, que se interponha entre a oportunidade e a compressão de um passado que continua a ser ignorado pelos gestores públicos nestes tempos de falta de imaginação e de excesso de marketing pessoal.
Não existe sentimento de frustração maior do que sentir que o passado foi muito mais competente que o presente na esfera pública. Para má sorte dos jornalistas que, como Leandro Amaral, tentam retirar leite de pedra. Muito mais feliz foi este jornalista, que teve oportunidade de cruzar caminho com a pedra preciosa que se elegeu três vezes prefeito em Santo André e cujos detratores, inclusive dentro do próprio partido, procuram minimizar o brilho intelectual e administrativo, imputando-lhe alguns reveses, alguns verdadeiros e outros falsos, unicamente para não parecerem tão medíocres.
A Entrevista Especial abaixo, publicada originalmente na revista LivreMercado, é uma joia rara de capacidade analítica, firmeza, discernimento, humildade e paixão municipal e regional de Celso Daniel. Uma pena que cada vez mais aquele grande gestor público se consolida como um ponto de privilégio intelectual fora da curva de mesmices e baboseiras desta Província.
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