A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André está imobilizada contra qualquer tentativa de estimular o contraditório, garantem comandos de forças econômicas e políticas que giram em torno do Paço Municipal. Os detentores do poder público e suas ramificações econômicas mais próximas em Santo André dão como favas contadas que o escândalo da Cidade Pirelli sumirá do mapa. Todo mundo estaria engavetado. O que significa engavetado? Significa que as instituições de Santo André não teriam massa crítica interna para mobilizar questionamentos que causem complicações ao governo municipal.
Restaria unicamente a este jornalista e a leitores menos dóceis a tarefa de ruminar os desmandos administrativos em Santo André ou em qualquer outro Município do Grande ABC que viva situação semelhante. Resumo do resumo: a institucionalidade do Grande ABC estaria contaminada a partir do centro de poder administrativo e as forças que a sufocam mantêm mecanismos compensatórios que preveem imunidade e benefícios mútuos.
Para azar deles, garanto que não perdi a esperança de que a OAB de Santo André vá sair da toca e, quem sabe, contribuirá para descongelar a sem-vergonhice que domina o Município, já que ninguém move uma única palha para aferir a profundidade do escândalo mais que documentado da Cidade Pirelli. São milhões de reais em jogo.
Se nada for feito, inclusive pelo Ministério Público, a quem encaminhei estes textos e o pedido de investigação, repito o que escrevi ainda outro dia: é melhor fechar as divisas territoriais de Santo André. Mais que isso. É preciso espalhar pelas ruas da cidade gigantescos outdoors com dizeres mais ou menos assim: “Aqui jaz qualquer resquício de cidadania. Somos Sodoma e Gomorra éticas”.
Estou esperançoso numa ação da OAB de Santo André, por conta de e-mail que recebi na última sexta-feira do presidente Fábio Picarelli, recentemente eleito ao cargo. Leiam:
Primeiramente, gostaria de saudá-lo pelo esplêndido histórico profissional. Confesso que sempre fui e sou um admirador do seu trabalho e testemunha de toda sua luta pela verdade e elucidação de fatos controversos ocorridos na cidade. Sei também do seu compromisso com a região e com a ética. Tenha certeza que as suposições de que nossa entidade ficará calada diante de fatos importantes da cidade são totalmente equivocadas. No entanto, apenas para efeito de esclarecimento, devo dizer que a formulação da pauta dos assuntos pertinentes à OAB será única e exclusiva da diretoria e dos advogados da nossa Subseção, que não abrirão mão de opinar nos assuntos que julgarem de interesse da sociedade e da classe. Acompanharemos sim os destinos da cidade e agiremos quando entendermos que existam provas de que a Lei e a Democracia estejam ameaçadas. Me coloco à disposição, junto com a nova diretoria, para eventuais esclarecimentos e aproveito a oportunidade para convidá-lo a visitar nossa entidade. Será uma honra. Cordiais saudações.
Só tenho a agradecer a deferência de Fábio Picarelli. Mostra o presidente da OAB de Santo André que está comprometido com os interesses da sociedade, mas é indispensável que dê velocidade a esse prova de sustentabilidade ética. Primeiro, é só marcar data e horário para que me apresente na sede da instituição com bateria documental que provará com fartura o quanto a Cidade Pirelli é uma enrascada para as administrações do PT e do PTB, ou seja, de ex e de atuais mandatários do Paço Municipal.
Mas o que gostaria mesmo — até para não tornar o encontro na OAB ramal de desconfiança de manipulação e unilateralidade — é que outros convidados estivessem à mesa de debates, se debates forem promovidos para dar encadeamento ao caso. Um representante de peso da administração petista que se foi, um representante de peso da administração petebista que está, um representante de peso da Pirelli, um representante de peso da empresa imobiliária detentora daquelas áreas e que estava vinculada societariamente à Pirelli, além deste jornalista — eis um grupo mais que interessante e produtivo para dar respostas à população de Santo André.
Quem imagina que o Paço de Santo André é composto de gente ingênua, aparvalhada e incapaz de organizar qualquer estratégia institucional, desconhece os tentáculos que lhe dão sustentação. Mais que isso: os tentáculos que fizeram de Aidan Ravin prefeito, na maior zebra eleitoral em segundo turno em toda a história nacional.
As contra-informações que emanam do Paço Municipal e de circunvizinhanças interessadíssimas em usufruir de um dos orçamentos municipais mais ricos do Estado de São Paulo são insidiosas. E nesse ponto, a OAB está envolvida como suposta entidade sem a menor condição interna de reagir diante de qualquer coisa que possa constranger o prefeito Aidan Ravin e os opositores petistas envolvidos no escândalo da Cidade Pirelli.
Para completar mais este capítulo da Cidade Pirelli, o que me intriga mais é o silêncio da administração Aidan Ravin porque, aparentemente, a bomba das maracutaias de derretimento daquele projeto estaria concentrada no colo petista. Ou há mesmo uma convergência deliberada entre o desprezo à legislação que norteou a aprovação da Cidade Pirelli e os planos de ocupação de quase 150 mil metros quadrados anunciados há 15 dias numa operação mais que especulativa do mercado imobiliário?
Estou torcendo para a OAB de Santo André aceitar o encontro com diversas faces em torno da mesma moeda. A Cidade Pirelli já é um escândalo por si só, mas, diante do silêncio de instituições que representam a sociedade, pode multiplicar-se.
Quanto à independência de outras entidades de Santo André, tenho sérias dúvidas. A maioria tem rabo preso com o Paço Municipal e seu entorno ou simplesmente não está nem aí com o cheiro da brilhantina de cidadania. Também há agrupamentos que temem duras represálias, por conta do espalhamento de versões que remetem à segurança individual e familiar. Quanto à parte que me toca, já tomei providências.
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