Duas advogadas resistem fortemente às pressões do Paço Municipal e do entorno político-econômico que dá sustentação ao prefeito Carlos Grana. Heleni de Paiva e Solange Spertini integram o Observatório da Cidadania da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), comissão que pretende obter mais transparência do petista eleito em outubro do ano passado.
Praticamente abandonadas pelo presidente Fábio Picarelli, que já se teria submetido ao controle do Paço Municipal e também do entorno do Paço Municipal, Solange Spertini e Heleni de Paiva fogem até de CapitalSocial. Mas o testemunho pessoal de que estão passando maus bocados porque querem levar adiante a fiscalização da gestão Carlos Grana é dispensável. CapitalSocial reúne informações suficientes para afirmar que Heleni de Paiva e Solange Spertini estão apenas aparentemente lançadas às traças. Há dirigentes e membros de comissões da OAB de Santo André solidários com o trabalho que tentam executar.
Em setembro último o Observatório da Cidadania formalizou lista de processos envolvendo a Administração petista e fornecedores de serviços. Uma bomba de nitroglicerina que abalou as relações entre a presidência da entidade e o Paço Municipal. A etapa subsequente detonada pela Administração Carlos Grana, típica de quem atuava como araponga do então candidato presidencial Lula da Silva para domesticar ou dinamitar fontes de oposição, foi propagar versões que colocavam a idoneidade do presidente Fábio Picarelli nas proximidades de um chiqueiro. Não demorou para a reaproximação do titular da OAB de Santo André e integrantes da Administração petista. Daí, o refluxo do ímpeto de esclarecimentos do Observatório da Cidadania. Com direito a afastamento de dois dos quatro membros inicialmente escalados. Sobraram Heleni de Paiva e Solange Spertini.
Politização nociva
CapitalSocial ouviu várias fontes direta e indiretamente próximas do presidente Fábio Picarelli e também das duas sobreviventes do Observatório de Cidadania. A conclusão é que o ambiente na diretoria e entre os principais representantes das comissões temáticas da instituição é tóxico. A politização da OAB, no sentido partidário do termo, é erva daninha que poderia fragilizar a entidade de tal forma que não haveria outro caminho a seguir senão forte impacto na credibilidade, com danos colaterais imensos.
O presidente Fábio Picarelli já estaria sendo visto como que se submete às vontades da Administração Carlos Grana porque pretende candidatar-se a prefeito em 2016, ou mesmo compor chapa com o atual chefe do Executivo. Fábio Picarelli teria atuado nos bastidores para incentivar os dois integrantes do Observatório de Cidadania a procurarem refúgio na discrição do afastamento como fórmula de esvaziar aquele espaço considerado por alguns de rebeldia e por outro de redenção da OAB.
Acredita-se que a divulgação do ambiente de intranquilidade e quase desconsolo que domina a OAB de Santo André necessariamente levará o presidente Fábio Picarelli a retomada de posição para não ter o prestígio chamuscado pela proximidade com o Paço Municipal e também com apoiadores do prefeito petista instalados sob medida em várias instâncias da sociedade, principalmente na mídia e em algumas entidades empresariais, sociais e culturais. Ver a OAB atirada no saco sem fundos de compromissos políticos e partidários da Administração petista ou com qualquer Administração municipal é o último desejo da grande maioria da classe dos advogados.
Silêncio emblemático
O silêncio de Heleni de Paiva e de Solange Spertini é emblemático de que a institucionalidade da OAB não vive os melhores momentos. Fosse diferente, as duas advogadas não se distanciariam aparentemente de propósito de qualquer tipo de informação suplementar. Procuradas por CapitalSocial, Heleni e Solange respondem em mensagens de texto que estão atuando da forma que é possível para atender às premissas fiscalizatórias aprovadas pela diretoria. Mais não escrevem e nada acrescentam. Entretanto, não faltam informações consistentes de que estão desgastadas com hostilidades que teriam sofrido na Secretaria de Obras, quando de uma visita há 15 dias para dar encaminhamento pessoal às investidas rumo a esclarecimentos agendados.
Por conhecer as práticas táticas de dissuasão engendradas principalmente pelo prefeito Carlos Grana, CapitalSocial não tem dúvidas de que há em execução um plano para descredenciar as duas advogadas que insistem em buscar respostas às demandas sobre o uso de recursos públicos em várias ações da Administração municipal. O modus operandi do petista conta com suporte não só de integrantes informais do governo municipal como igualmente de antigos conservadores, avessos ao PT mas que caíram na gandaia de mergulhar num situacionismo oportunista. A OAB de Santo André é um reduto fundamental à tentativa de o PT transmitir a ideia de que conta com um Administrador público de bem com a sociedade local.
Descartar a possibilidade de Heleni de Paiva e de Solange Spertini deixarem o mutismo de insatisfação com os rumos do Observatório da Cidadania e denunciarem publicamente os obstáculos que enfrentam para darem conta do recado de esclarecer todos os pontos da lista de investigação não seria a melhor opção, segundo interlocutores que conhecem as duas profissionais. A OAB estaria passando, nesse momento, por uma situação decisiva, entre a submissão tácita à Administração Carlos Grana e a rebeldia em forma de restabelecimento de ação independente.
O próprio futuro político de Fábio Picarelli está em jogo. Uma crise na entidade por conta de relações intestinas com o Poder Público mancharia o currículo de dirigente que tanto pretende exibir nas eleições de 2016, quer como candidato a prefeito, quer como componente de chapa petista ou de outra combinação partidária. Distinguir-se da multidão de políticos que estão aí seria o mote da campanha futura de Fábio Picarelli, mas à medida que se mistura a eles, teria o prestígio abalado. Teria sido esse o principal objetivo de o Paço Municipal e do entorno que lhe dá sustentação seduzir Fábio Picarelli, isolando-o das duas mulheres incômodas que a OAB oferece à sociedade como contraponto a uma quase unanimidade de compadrios de conveniências.
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