Antes que o ano termine, vou atualizar o ranking do Observatório de Promessas e Lorotas. O OPL diagnostica o tamanho das perspectivas e fantasias dos sete prefeitos da Província do Grande ABC. Por enquanto quem lidera é Luiz Marinho, mas desconfio da possibilidade de ultrapassagem pelo titular do Paço de Santo André, Carlos Grana. Os dois petistas são quase incontroláveis na ânsia de prometerem obras e mais obras porque acreditam piamente no esticamento orçamentário sob influência do governo federal.
Tenho tido o cuidado de arquivar separadamente tudo que se relaciona a promessas e lorotas. O estoque de promessas é muito maior. E de promessas factíveis de saltarem à realidade em menor número, é claro. Promessas desmioladas deixam de ser promessas; viram lorotas. Mas temos tido ultimamente um cuidado ao que parece redobrado para os prefeitos não incidirem nesse pecado mortal.
Sim, lorotas são pecados mortais porque é a promessa em estado de insanidade, com baixíssima possibilidade de virar realidade. Diferentemente de promessa que, por mais que descambe para certa margem de proselitismo, de marketing exagerado, sempre deixa um rastro de concretização.
Se Carlos Grana confirmar a intuição fomentada pela maçaroca de matérias de que disponho e terminar mesmo o ano na liderança do Observatório de Promessas e Lorotas, creio que Luiz Marinho se sentirá aliviado. Verdade seja dita: o prefeito de São Bernardo está em desvantagem em relação aos demais porque já vinha de quatro anos de jornadas ao ser reeleito em outubro do ano passado. Vasculho permanentemente os arquivos para descobrir mais anúncios do prefeito de São Bernardo. Acabo por encontrar aqui e ali uma ou outra situação a exigir cobrança. Mas Carlos Grana parece insuperável. O prefeito de Santo André anda confiando demais no taco de terceiros, principalmente do governo federal. Há investimentos que podem não se traduzir em obras durante os primeiros quatro anos de Administração. Se for apeado do poder antes do tempo imaginado, de oito anos, dará com os burros nágua.
Produtividade esquecida
Talvez prefeitos e assessores não tenham se apercebido de uma armadilha do Observatório de Promessas e Lorotas. Armadilha não é bem o termo para quem preparou o escopo desse projeto, mas para os gestores públicos assim pode ser interpretada a classificação que definirá o ranking. Vai valer o índice de produtividade, que vem a ser a divisão dos pontos obtidos com eventual execução de promessas e lorotas pelo total dos anúncios. Quanto menos um prefeito prometer e mais realizar, mais possibilidades de liderar a competição terá. A recíproca é verdadeira: Grana tem anunciado tantas obras que corre o risco de, mesmo ao entregar várias, não se desvencilharia de baixa produtividade. Certamente, se minha intuição não falhar, ele encerrará esta temporada como líder do ranking porque, assim como os demais, não registrará nenhum ponto positivo e somará muitos mais pontos negativos.
Muito dificilmente o Observatório de Promessas e Lorotas alcançará total pelo qual torço avidamente: o de 100 propostas dos prefeitos da Província do Grande ABC até o final deste ano. Embora o ritmo de inserções tenha se desacelerado nos últimos meses, provavelmente até meados do ano que vem a marca será alcançada. Um quadro com 100 promessas e lorotas é mais que um chute nos fundilhos dos propagandistas de excessos e ilusões -- é uma grande pauta jornalística aos demais veículos de comunicação.
Repito o que já escrevi nestas páginas de CapitalSocial: se o Observatório de Promessas e Lorotas fosse disseminado pelos veículos de comunicação do País, duvido que os gestores públicos tivessem a cara de pau de jorrarem impunemente tudo quanto é informação delituosa para consumo dos crédulos consumidores.
O Observatório de Promessas e Lorotas é a sistematização meticulosa de uma prática mais que comum nas administrações públicas, independentemente das cores das camisas: o desdém completo e absoluto à memória dos leitores. Os gestores públicos estão certos de que ao plantarem informações sem substância mas com ares de seriedade eles acabam ludibriando a boa-fé de parcela considerável dos eleitores em momentos de leitores pouco precavidos ou excessivamente crédulos e, com isso, transportam a memórias descuidadas realizações que não passam de ilusões.
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08/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (31)