A implosão do projeto Cidade Pirelli, que, depois de mais de uma década de enrolação, acabou se transformando em monumental especulação imobiliária, deverá tomar a agenda do Ministério Público em Santo André.
A se confirmar a informação de que já há mobilização do MP para esclarecer a situação, as perspectivas não serão nada agradáveis para a administração pública de Santo André. Houve renúncia fiscal embutida na aprovação do projeto durante o governo do prefeito Celso Daniel, em novembro de 1998, decisão condicionada à efetivação da proposta. Mais de meia centena de residências foram desapropriadas para atender à modernização do sistema viário. Não é preciso conhecer o mercado imobiliário para saber que tudo isso representou valorização do metro quadrado daquela área. Obras de infra-estrutura estão para imóveis assim como o gol para um centroavante.
Espera-se que a administração de Aidan Ravin colabore na eventualidade de o Ministério Público de fato botar a mão nessa massa de complicadíssimas ramificações. Entre as razões que devem sensibilizar o governo Aidan Ravin estão supostos constrangimentos legais que demarcariam a substituição da Cidade Pirelli por um emaranhado de investimentos sem semelhante lógica ocupacional e que poderia causar sérios prejuízos aos cofres públicos.
Acredita-se que a vice-prefeita Dinah Zeckcer seja ponta-de-lança de esclarecimentos e empenho da administração de Santo André diante da, acredita-se, iminente intervenção do Ministério Público. Afinal, apesar do cargo de expectativa, Dinah Zeckcer é influente no Executivo municipal. Não bastasse o organograma, Dinah Zeckcer tem histórico de preocupação com o destino da Cidade Pirelli. Ou seriam ilusão de ótica as declarações que ela, então na oposição de Celso Daniel, deu ao Diário do Grande ABC de 10 de junho de 2002, quando inquerida sobre a demora para o início das obras?
Vejam o que disse a então vereadora e hoje vice-prefeita:
Exceto se a hoje vice-prefeita não reúna qualidades republicanas, o que seus leitores refutam, nos próximos dias provavelmente se pronunciará sobre os novos planos para a ocupação de 142 mil metros quadrados que restaram da área reservada para a Cidade Pirelli.
Recorri aos meus arquivos na noite passada, antes da novela das nove e da edição do BBB. A pasta de “Cidade Pirelli” estava ali no sótão, pronta para ser consultada. Me debrucei sobre o material. Até mesmo cópia do projeto de lei encaminhado pelo prefeito Celso Daniel consta de meus arquivos.
A ordem cronológica das páginas do Diário do Grande ABC (nenhum outro veículo de comunicação da região escreveu sobre o assunto durante muitos anos, exceto a revista LivreMercado, então sob meu controle editorial) é uma festa para quem quer recuperar o passado. Vejam uma parte da sequência do material:
Embora o ato de desistência da Pirelli possa ter sustentação legal, e os aplausos do Executivo de Santo André à apresentação de proposta de negociação das áreas anteriormente empacotadas para o projeto possam estar isentos de maliciosidade, há caroço demais nesse angu preparado há mais de uma década.
No mínimo, o que se espera das autoridades, inclusive do Ministério Público, é completa faxina investigativa. Ou seria estupidez imaginar que o acordo firmado entre o então governo de Celso Daniel e a direção da Pirelli não previa contrapartidas de apoio e de responsabilidade que, inclusive, abarcassem a desativação da proposta?
Depreendo da leitura do material que embasou o projeto de lei assinado por Celso Daniel que há pontos obscuros a serem levantados por especialistas, no caso o Ministério Público e sua ramificação na área de Cidadania. Por isso, as informações que dão conta da possibilidade de se obter esclarecimentos diretamente nas fontes, no caso a Prefeitura e a Pirelli, são mais que bem-vindas. Sobretudo porque partiram da leitura deste site.
Prometo aos leitores que vou dedicar algumas horas deste final de semana para me aprofundar nos meus arquivos e ler com atenção redobrada cada linha do que encontrar. Não estou à caça de bruxas, até porque não acredito em bruxas, mas — como dizem meus ancestrais espanhóis — que elas existem, ah! existem.
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