Pelo terceiro ano seguido, desde que preparei a Teoria da Produtividade Editorial, administro a produção física e as variáveis avaliativas da redação de LivreMercado. E do alto do conhecimento prático que resulta dessa plataforma de planejamento tático e estratégico que retira o jornalismo do campo de imprecisões editoriais e gerenciais, transfiro aos leitores uma informação que à primeira vista parecerá irrelevante: no ano passado, a equipe de colaboradores da melhor publicação regional do País produziu 4,190 milhões de caracteres, o que significa média arredondada de 349 mil toques por edição ou, traduzindo em outra medida provavelmente mais assimilável, 92 páginas a cada 30 dias -- sempre considerando o padrão gráfico de que cada página comporta em média 3,8 mil caracteres.
Convém ressaltar que a produção de textos para LivreMercado reúne algumas características que requerem exposição para que não se confunda gato de autoria individual com lebre de co-autoria sanguessuguista. Os textos de LivreMercado são integralmente preparados por seus colaboradores. Não há, portanto, mecanismos transversos de parcerias oficiais ou piratas. Como, por exemplo, introduzir pequenas alterações em material gerado por agências de notícias e assessorias de Imprensa e, pimba, adotá-lo como geração própria, como algumas publicações fazem sem cerimônia.
Nesse ponto, convém outra explicação: LivreMercado adota desde a primeira edição, em março de 1990, o pressuposto de que só teria vitalidade, respeito e credibilidade no mercado editorial regional se demonstrasse maturidade no relacionamento com assessorias de Imprensa e fontes diversas de pressão. Por isso, não abre mão do controle da pauta.
É claro que não fecha as portas a profissionais que intermedeiam clientes e mídia, ou mesmo a quem busca espaços a golpes de cotovelos no cipoal de interesses nem sempre legítimos. Disciplinou-se aqui o fluxo informativo tendo como filtragem cláusulas pétreas editoriais. A fortaleza editorial de LivreMercado quando observada no horizonte histórico está relacionada com os alicerces vocacionais que a conceberam.
Não é só o encaixe de pautas nos ditames editoriais de quase duas décadas que permeia o foco de LivreMercado de modo a garantir base de produção física de informação que rompa o preconceito de que veículo de periodicidade mensal tenderia a estatelar-se tal qual equilibrista alcoolizado, porque não teria amálgama com a comunidade à qual estaria direcionado.
Trabalhamos também com o aperfeiçoamento de uma moldura desprezada pela maioria: vamos muito além das informações exploradas pelas demais mídias. A personalização da informação com as marcas de criatividade, criticidade, ousadia e coerência de LivreMercado torna nossas páginas sucessão de autenticidade e, portanto, de longevidade informativa que a vantagem física do formato revista ratifica. Sem contar que a versão virtual tanto na forma de LivreMercadoOnLine como de CapitalSocialOnline mantém o ideário atualizadíssimo no dia a dia sem, contudo, canibalizar o produto em papel. Pelo contrário: LivreMercado ganha a forma virtual apenas depois de algum tempo supostamente já digerido pelos leitores de papel.
Menos subjetividades
Para os leigos e mesmo para os jornalistas mal-acostumados com a idéia de que a atividade pode fluir ao sabor de improvisos, sem qualquer correlação, portanto, com critérios de produção, de produtividade, de qualidade, de ramificações conceituais, a Teoria da Produtividade Editorial não passa de jogo de cena de marketing. Bobagem. Ao preparar essa fórmula de rastreamento individual e coletivo da linha de produção de LivreMercado, reduziram-se substancialmente os critérios de subjetividade que poderiam tornar qualquer avaliação subproduto de preferências individuais desprovidas de sustentação técnica -- algo muito comum não só nas redações mas na maioria dos ambientes corporativos em que emergem privilégios avaliativos.
Ainda recentemente, numa interlocução com alguém que não é do ramo jornalístico e que, por imaginar que todos os profissionais da área são românticos com rudimentar apetrechamento gerencial-administrativo de custos, senti-me particularmente ofendido com algumas frases evidentemente indutoras de que faço parte daquele universo. A simples verbalização da precipitada idéia de que alguém que dirige editorialmente uma publicação há 17 anos numa região em evidente descompasso econômico seria refratário a critérios financeiros é uma ofensa. O autor na simplicidade da ignorância não se deu conta do crime de desrespeito cometido. Ou se o fez propositadamente, recebeu, em contrapartida, a resposta merecida.
Duvido que responsáveis por quadro de redação nos veículos de comunicação neste País, e provavelmente em outros territórios, tenham condições de preparar balanço mensal ou anual que associe qualidade, quantidade, custos e análise individual e coletiva detalhada dos profissionais. Pois não faltam elementos na Editora Livre Mercado para responder a todas essas questões simplesmente porque, entre as múltiplas atividades que exerço, também está essa espécie de controladoria. Conto para isso com assessoras que, entre as muitas tarefas igualmente a que se dedicam, está o registro sistemático do desempenho de cada profissional em planilhas simplificadas.
Dedicada a devassar meandros da economia, da administração pública, das atividades não-governamentais e da institucionalidade do Grande ABC, o que a torna a principal publicação regional em qualidade editorial, seria disparate administrativo se LivreMercado não reunisse informações internas do próprio desempenho redacional. Provavelmente fomos muito além do esperado pelos conservadores porque -- repetimos o desafio -- nenhum outro profissional de comando de redação neste País saberá dar as respostas que temos na ponta da língua.
Longe de parecer autobajulativo, o que pretendo com este texto numa revista que se dedica a cases corporativos, governamentais e não-governamentais, é não cometer o pecado da autodiscriminação. O que viria a ser esse deslize? Simplesmente deixar de levar aos leitores as inovações que caracterizam essa atuação editorial além do que está explícito nas páginas impressas.
Esconder dos leitores, muitos dos quais empreendedores de pequeno e médio porte, uma ação revolucionária no campo administrativo-jornalístico equivale a sonegar-lhes ferramentas que, adotadas por analogia, possam contribuir para melhorar negócios. Até porque a Teoria da Produtividade Editorial que embasa a estrutura de informações de LivreMercado é resultado direto de experiência de jornalista plugado nas novidades administrativas com o consumo assíduo de literaturas especializadas.
Origem industrial
A TPE foi retirada em larga parcela de entrevista há quase uma década com um executivo do setor petroquímico de Santo André, Nívio Roque, da hoje Poliolefinas União. Aliás, um dos vetores, que não aparecem nos resultados tangíveis dos números de LivreMercado, foi literalmente surrupiado da experiência prática naquela empresa: a multifuncionalidade de cada profissional, eliminando-se boa parte de subdivisões que burocratizam redações recheadas de repórteres, redatores, editores adjuntos, editores titulares, editores-chefes, copidesques e outras especialidades autônomas. LivreMercado incentiva e cobra atuação completa dos profissionais de redação, como patronos integrais de cada matéria sob sua responsabilidade da pauta até o extremo oposto da produção, incorporando-se títulos, legendas, chamadas para o índice e fotografias, entre outras obrigações.
Traduzindo rapidamente da teoria para a prática o que significa essa experiência inédita no jornalismo brasileiro, disponho de mecanismos que, em resumo, esquadrinham o desempenho individual e coletivo dos jornalistas de LivreMercado. A saber: a) produção física; b) tempo despendido para correções; c) nota média de qualidade; d) produção média mensal e anual; e) custo médio por mil caracteres.
Reparem os leitores que a Teoria da Produtividade Editorial levada à prática disponibiliza meios de mensurar a atuação de cada colaborador de LivreMercado tanto no campo de produção propriamente dita como de qualidade e de custos financeiros. Depois de três anos de experiência, algumas conclusões são evidentes e parametrizam análises.
Primeiro, um bom texto, que combine qualidade e produtividade, normalmente tem custo de tempo de aferição de não mais que oito minutos por página. Ou seja: um texto cujo total de caracteres seja o correspondente a uma página, e portanto 3,8 mil caracteres, não poderá passar pelo processo de copidescagem que ultrapasse a oito minutos para receber uma nota relativamente alta, de 8,0, no mínimo. Copidescagem no sentido moderno aplicado por LivreMercado é um jargão jornalístico que significa correção ortográfica, gramatical, informativa e conceitual.
Por exemplo: imprecisão ortográfica é algo como escrever “excessão” com dois “s”, como ocorreu num dos textos da edição de janeiro último. Embora a copidescagem tenha anotado o escorregão do jornalista, a operacionalidade de correção, na sequência da linha de produção que envolve uma profissional também especializada em emendas, acabou falhando e o erro inicial se consumou.
Faces da copidescagem
Copidescagem informativa é assegurar que se chama Unifesp o braço da Universidade Federal de São Paulo que se vai instalar em Diadema, em vez de Ufesp, como LivreMercado publicou ainda recentemente. Já no campo conceitual, copidescagem significa atenção ao conteúdo histórico da publicação de modo que, por exemplo, não se neguem constatações apontadas à exaustão, como a desindustrialização do Grande ABC.
Não teria cabimento LivreMercado colocar em dúvida ou neutralizar a realidade de que a região sofreu perdas industriais ao longo dos tempos, num diagnóstico sofrido porque enfrentou a oposição cor-de-rosa de manipuladores estatísticos. Mesmo quando negada por terceiros, a verdade da desindustrialização deve ser repassada aos leitores.
Segundo, e por consequência do primeiro quesito, um texto que ultrapasse relativamente ou em larga margem a demarcação dos oito minutos para cada 3,8 mil caracteres apresenta inconformidades que exigem explicações porque sofre rebaixamento de nota de qualidade. A reincidência de estouro do tempo médio de produção por página aponta sem risco que o autor das matérias requer atenção especial. Há exceções à regra dos oito minutos, quando o conjunto de informações traduzido em material jornalístico envolve questões mais delicadas, especialmente no campo jurídico. Por isso mesmo são exceções que, como exceções, devem ser tratadas diferencialmente.
Terceiro ponto, agora de viés financeiro: o cruzamento de produção, produtividade, qualidade editorial e custos individuais de cada colaborador destrói o convencionalismo estúpido, delirante e autodestrutivo de que a folha de pagamentos com variáveis de valores deve ser o ponto de partida a reestruturações. A idéia de que se deve cortar a cabeça principalmente dos assalariados mais graduados e se deve preservar colaboradores de contracheques mais modestos integra o modus operandi de quem não tem a menor capacidade analítica.
É perfeitamente possível que profissionais em postos avançados da hierarquia sejam mesmo fontes de improdutividade, e que portanto demissões favorecerão o conjunto de resultados do empreendimento. Também é factível e comprovável que profissionais de escalões inferiores devem preferencialmente ser mantidos porque representam custos menores. A recíproca também é verdadeira, ou seja: há profissionais mais caros cujas ausências implicarão quedas de rendimentos maiores porque o agregado de respostas que oferecem à corporação é relativamente muito maior que assalariados de escalões inferiores de resultados individuais muito abaixo das necessidades.
A Teoria da Produtividade Editorial prova com números decorrentes do tripé produção-produtividade-qualidade casos em que o custo individual de colaboradores extrapolava extraordinariamente valores auferidos por profissionais de remunerações nominais superiores. Nessas situações, sem dar espaço à subjetividade, provaram-se casos em que o barato de fato sai caro. O grande risco de procedimentos que levem em conta padrões antiquados de despesas com profissionais é o esfacelamento dos quadros, com reflexos nem sempre imediatos mas irreversíveis no produto (ou serviço) final.
Total de 1882 matérias | Página 1
08/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (31)