Sempre me perguntam qual é a melhor fonte de notícias da Província do Grande ABC. Costumo responder: “Nenhuma, mas todas”. Deixo o interlocutor encafifado. Como “nenhuma, mas todas?”. Ora bolas, “nenhuma, mas todas”. Vou tentar explicar, mas antes que me entendam mal, o “melhor” no caso da conceituação não significa, mais que isso, está longe disso, que estamos bem servidos.
Estaríamos perdidos na noite se não houvesse democratização de opções, porque uma ou outra versão acabaria dominaria o império da informação. Com as várias opções disponíveis, o controle de determina versão dos fatos torna-se praticamente impossível. Menos, é claro, quando todos caminham na mesma direção, quer nas omissões, quer nas incursões enviesadas. A Máfia Imobiliária é um exemplo dessa situação. Ramificações politicas, econômicas e partidárias formam a cavalaria do apocalipse contra a liberdade de Imprensa.
O melhor jornalismo da Província do Grande ABC são todas as opções disponíveis na praça porque, sempre com a ressalva de vieses, as opções se completam. Sozinho o Diário do Grande ABC, o mais tradicional veículo da praça, estaria a mil léguas de preencher o desejo do leitorado. Como está acompanhado de Repórter Diário, ABC Repórter, Diário Regional e ABCD Maior, é possível e com cautela formar um mosaico de complementaridades tanto informativas quanto de direcionamento político, partidário e econômico das publicações em plataformas impressas e digitais.
Não incluo na lista de publicações recomendadas a ampliar o grupo de prospecção nenhuma revista impressa; e se colocasse esta revista digital soaria cabotino, embora a simples menção a essa possibilidade já o seja, porque de tão óbvia. Um exemplo da diferença que separa CapitalSocial dos demais veículos em informação digerida e reflexiva está fresquinho nas páginas digitais e impressas de hoje, sobre o comportamento do PIB regional. Apenas o Diário do Grande ABC, e mesmo assim manquitola, enveredou por um caminho espinhoso que exige conhecimento agregado.
Por que não seleciono nenhuma publicação em formato revista? Porque não vejo nenhuma em condições de competir pela avidez dos leitores. Seja porque reúnem tiragens pouco expressivas, seja porque a periodicidade é errática. A maioria não passa de água com açúcar de relações públicas, feitas sob medida para inflar egos mais que abundantes na praça. Uma ou outra revista comporta material jornalístico de valor, mas é apenas uma fração em meio a pautas escravizadas pelos financiadores. Louvo editores que se esforçam para dar um nó nas adversidades econômicas e culturais destas terras.
Desconfiar, a regra
Exercito diariamente o direito de desconfiar de todos os veículos de comunicação da região, porque também o faço em relação às grandes publicações da capital, sejam jornais, sejam revistas, sejam sites especializados, sejam emissoras de TV. E recomendo esse tipo de comportamento aos leitores e telespectadores. O melhor antídoto contra a informação deformada é a informação cruzada, ou seja, a busca de notícias em variados endereços impressos e digitais. Leituras transversais são uma opção indispensável à captura das alquimias jornalísticas.
As posições dos veículos de comunicação da região não passam despercebidas aos olhos mais atentos. Há entre as publicações mencionadas fundas diferenças. Luiz Marinho é novamente a bola da vez do Diário do Grande ABC, enquanto o ABCD Maior não exerce marcação cerrada contra nenhuma das autoridades públicas da região, embora não deixe de prestigiar os petistas para valer. De vez em quando o ABCD Maior torna os interesses petistas tão escancaradamente protegidos como o Diário do Grande ABC na perseguição para desgastar o prefeito Luiz Marinho. Critérios de rigidez são seletivos em determinadas coberturas. Nem sempre o que vale para um, vale para outro. Exemplo: Luiz Marinho inaugurou o Hospital de Clínicas com apenas parte das instalações e equipamentos em ordem e por isso mereceu cacetadas do Diário do Grande ABC. Já o Atrium Shopping abriu as portas praticamente sem lojistas e o jornal construiu um enredo de vitória de final de campeonato para o investimento.
Certo mesmo é que há várias temáticas que despertam a atenção de uns e são simplesmente ignoradas por outros veículos. Há nichos a serem preservados e nichos a serem combatidos. Descobrir os vazios de uns e as embocaduras de outros é uma arte porque requer certo domínio jornalístico como espécie de radar na identificação de alhos e bugalhos.
Por mais que tenha gratuitamente à disposição uma rede de informantes, no caso os jornalistas contratados pelos veículos locais, não abro mão de fontes especialíssimas, normalmente gente que não aparece no noticiário. Se dependesse apenas das fontes alheias certamente não reuniria base de fatos e versões que me levariam a ponderar cuidadosamente antes de produzir os textos. Sou um instrumento de confiança absoluta de interlocutores que me abastecem porque eles sabem que jamais quebrarei o sigilo que nos une; ou seja, eles permanecem anônimos e eu suporto todas as buchas possíveis em questões nas quais é preciso dar nomes aos bois. Ainda mais que CapitalSocial não é endereço de informação convencional. É um produto autoral, que assume deliberadamente tudo o que leva aos leitores.
Se fosse instado a dar uma nota de zero a 10 à mídia da região, excluindo este CapitalSocial, não ultrapassaria a quatro. Explico a razão: mais que fundamentado nas notícias veiculadas, o que me frustra são as notícias não produzidas.
Cadê a regionalidade?
Regionalidade é um temário escasso nos veículos locais, entregue ingenuamente a protagonistas de um jogo de faz se contas, especialistas em embromação. Também a temática econômica é lamentavelmente minimizada, embora se trate da raiz que poderia fazer florescer novos tempos por aqui. O Diário do Grande ABC, à parte juízo de valor sobre o material publicado, editou espaço relativamente generoso sobre o PIB da região na edição de hoje, algo que merecia a manchete principal de primeira página, pela importância do tema, mas, estranhamente, nem uma chamadinha incluiu na vitrine impressa.
A mídia da região excede-se na reserva mais que encomendada de espaço à política regional, entre outros motivos porque na maioria dos casos o Poder Público exerce controle rigoroso sobre o conteúdo dos veículos locais e os critérios de reciprocidade são obedecidos quase que coercitivamente.
Longe de mim pretender execrar a mídia regional pelo deslocamento do eixo editorial a determinadas agremiações politicas ou agrupamentos de agremiações políticas. Esse é um jogo quase que integralmente nacional, embora em locais menos provincianos seja executado com mais discrição e preparo.
A realidade é que na Província de desindustrialização dos anos 1980-1990, combinada com o dizimar os pequenos negócios industriais familiares, tornou-se misto de heroísmo e loucura enfrentar a borrasca do esfacelamento do setor de publicidade regional que, a bem da verdade, jamais foi tão interessado assim na mídia local. Tanto que não passa literalmente de meia dúzia de organizações privadas a disponibilizar recursos volumosos e persistentes nestes tempos também em que a Internet multiplicou as opções de marketing. O montante principal origina-se mesmo do setor público, especialista em condicionar o noticiário.
Portanto, caro leitor, trate de seguir os conselhos deste que vive de informação e sabe que nem tudo que parece é de fato, e nem tudo que é de fato, parece. Mesmo com tantas e necessárias combinações de leitura.
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08/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (31)