Imprensa

Colunismo social digital estende
tapete ao prefeito Carlos Grana

DANIEL LIMA - 06/01/2014

A entrevista preparada pelo jornalista Joaquim Alessi com o prefeito Carlos Grana, e exibida na Internet, é uma perfeição a toda prova, levando-se em conta, sempre e sempre, que se deu em programa de colunismo social eletrônico. Por isso mesmo, e ao contrário do que inicialmente imaginei, seria inadequado o enquadramento editorial de uma vinheta no alto da telinha, assemelhada ao que os jornais reservam a comunicados oficiais em linguagem quase jornalística. “Informe publicitário” é, portanto, completamente dispensável ao “Programa Joaquim Alessi”.

 

Parabenizo o experiente jornalista pela capacidade de adaptação profissional. Por mais vivido que também sou teria enormes dificuldades em obter aquele intento – ou seja, ser mais animado com os supostos feitos do entrevistado do que o próprio entrevistado.

 

No caso, o entrevistado foi o prefeito de Santo André, Carlos Grana. Nada, entretanto, que possa ser catalogado necessariamente como especialidade à qual o prefeito deveria se lançar permanentemente, porque 10 entre 10 participantes de programas do gênero costumam se dar bem porque nada é mais tranquilizador do que saber que do outro lado ou ao lado (literal e metaforicamente como foi o caso de Joaquim Alessi) teremos não um questionador feroz ou até mesmo diplomático, mas um parceiro de animação.

  

Uma vinheta de “informe publicitário” estigmatizaria aquela edição do “Programa Joaquim Alessi” porque o conceito editorial está explicitamente amarrado à linguagem de colunismo social eletrônico, que praticamente não difere do colunismo social impresso – ou seja, é um rio de tranquilidade que passa pela vida de quem procura informação adocicada.

 

Fosse um programa jornalístico convencional, de política, por exemplo, o tratamento dispensado a Carlos Grana soaria exagerado, quando não despropositado. Aliás, mesmo se tratando de colunismo social digital, o prefeito de Santo André se sentiu em determinados momentos incomodado com os entusiásticos pontos de vista do jornalista. Não diria que houve constrangimento, mas não se pode descartar que se protagonizaram lances de concorrência explícita. O prefeito, menos expansivo que o entrevistador, pode até mesmo ser considerado figurante daquela programação. Talvez se sentisse uma rouquidão insuperável e interrompesse a fala, Joaquim Alessi cumpriria com brilho quem sabe até superior a missão de perguntar e responder. Até porque, muitas de suas indagações eram, de fato, respostas eufóricas.

 

Uma das características editoriais do colunismo social digital ou impresso é que o mundo exterior, a realidade dos fatos, recebe cartão vermelho por antecipação. O colunismo social é aquilo que todo mundo sabe: a sala de visitas do egocentrismo, do ilusionismo, do triunfalismo, do exibicionismo e, até mesmo, por que não, de alguma porção de verdade, para que tudo não pareça tão estúpido e agressivo ao bom senso.

 

Às mil maravilhas

 

A Santo André do colunismo social de Joaquim Alessi e de Carlos Grana é um arquipélago de fantasias. Nada que minimamente ameaçasse o espectro conceitual de colunismo social foi resvalado. Até porque, os principais anunciantes da programação eram a própria Prefeitura de Santo André e seu braço financeiro mais invejado, o Semasa de tantos escândalos no passado. Escândalos que, como se sabe, jamais incomodaram o atual prefeito, por mais que pudessem fragilizar o antecessor, patrono das falcatruas ainda submersas e, portanto, de desenlace antagônico ao que o prefeito paulistano Fernando Haddad está a revelar.

 

Nem imaginar, também, que se falasse sobre o PIB daquele que já foi o maior Município da Província do Grande ABC. Seria inconveniente à alegria contaminadora do colunista social eletrônico que se ressaltasse preocupação com o fato de que, segundo os últimos números do PIB, relativos a 2011, o Município outrora viveiro industrial, perdeu 3,9% de produção de riqueza quando comparado a 2010. Um chute na canela dos triunfalistas que se deixaram levar pela incompetência da Administração anterior, de Aidan Ravin, que antecipou pateticamente aos quatro cantos um crescimento de 17% do PIB naquela temporada – sob os aplausos entusiásticos da plateia jornalística sem tempo e sem vontade de exercer o direito inalienável de aferir o potencial de verdade proferido por um agente público.

 

O colunismo social digital de Joaquim Alessi proporcionou persistente levantamento de bola para finalizações sempre espertas do prefeito Carlos Grana. Nenhuma indagação que sugerisse incômodo foi endereçada ao petista, porque esse é o código de ética do colunismo social eletrônico.

 

Qualquer político gostaria de ser entrevistado pelo colunismo social de Joaquim Alessi porque, entre outras iniciativas, poderia descartar assessores de imprensa sempre inquietos quanto ao rumo de diálogos entre jornalistas e gestores públicos. Joaquim Alessi encaminhou-se ao gabinete do prefeito de Santo André, local da entrevista, doutrinado pelos princípios seculares de estender o tapete ao entrevistado.

 

Máfia imobiliária no entorno e no coração da gestão pública de Santo André? Nem pensar. Esse é problema para Fernando Haddad resolver, trouxa de prefeito da Capital que se mete a tentar desbaratar uma das principais fontes de corrupção do País. Carlos Grana é a síntese do pragmatismo de apadrinhamentos e compadrios que vão muito além dos agrupamentos de petistas. Imaginar que o prefeito permitiria que se invadisse seu gabinete para um trabalho jornalístico convencional seria muita ingenuidade. Grana e os demais gestores públicos da região têm vocação à celebridade. Falta combinar com o público.



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