A desindustrialização do Grande ABC constatada sem choro nem vela pelo jornalismo independente, uma raridade nestes dias, tem como base os números acumulados do Valor Adicionado de 1994 e os registrados na outra ponta, em 2007. O recuo comprova os pecados capitais cometidos pelo governo federal durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Entre os fatores principais estão a abertura econômica excessivamente liberal e, também, o recrudescimento da guerra fiscal por conta da estabilidade monetária e o fim do imposto inflacionário. Os sucessivos governadores do Estado e também os prefeitos locais não podem ficar fora da lista de responsabilidade, mas trataremos disso mais tarde. No mínimo, pecaram pelo crime de omissão ou de bajulação.
Como vimos, o Grande ABC perdeu 12,37% do PIB da indústria de transformação no período — depois de acumular 33% de queda nos oito anos de FHC. Apenas São Caetano e Diadema salvaram-se do desastre. Já o G3, formado por Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, acumulou crescimento de 15,53%.
Sempre sob a ótica de Valor Adicionado, que é um dos vetores de análise de afrouxamento ou de impulsão industrial e, como mostraremos em outros capítulos, não assegura o diploma de invulnerabilidade à evasão produtiva no sentido mais abrangente do termo, verifica-se que até municípios próximos do Grande ABC escaparam do mergulho nos 13 anos pesquisas.
São Paulo, Guarulhos e Osasco, outras porções da metrópole que vivenciaram elevado grau de investimentos industriais ao longo de décadas, superaram em parte o peso de competir com as cidades-sede das regiões metropolitanas de Campinas, São José dos Campos e Sorocaba. Tanto que São Paulo viu o Valor Adicionado aumentar 21,54%, contra 8,40% de Guarulhos e 27,97% de Osasco.
Serviços industriais
Entre as explicações cautelares para impedir que os números frios do Valor Adicionado imunizem municípios que de fato viram o parque industrial perder o tom e desafinar na avenida de competitividade para as metrópoles interioranas, a situação da Capital paulista é emblemática. São Paulo apresenta alto grau de inserção de atividades de serviços industriais que ajudam a elevar a musculatura do Valor Adicionado. A proximidade entre indústria e serviços na Capital na geração de riqueza diferencia aquele espaço territorial do Grande ABC.
Então prefeito de Santo André e presidente do Consórcio Intermunicipal, Celso Daniel não poupou esforços e talento para sensibilizar os demais administradores públicos da região quanto à relevância de atrair investimentos que dão suporte às atividades industriais, nas áreas de engenharia, marketing, hotelaria, entre outros. Quanto mais próximo um parque industrial estiver dos fornecedores, mais comprometimento terá com investimentos e geração de riqueza.
Ainda dedicaremos um ou mais capítulos para esmiuçar as múltiplas faces do Valor Adicionado. Recuperaremos análise que elaboramos já há algum tempo mas que é mais que pertinente nesta série. Neste momento, fixamo-nos na conceituação básica de Valor Adicionado, que é simplesmente o valor monetário expresso nas estatísticas, portanto, sem incursões relativizadoras no campo de Potencial de Consumo, do mercado de trabalho e da característica dos empreendimentos.
Se detectamos nos primeiros capítulos a aproximação econômica entre o Grande ABC e o G3 do Interior no repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), evidentemente que ao se chegar ao Valor Adicionado o resultado segue paralelismo. Afinal, é do Valor Adicionado, ou seja, da riqueza da indústria de transformação produzida em cada Município a origem principal da distribuição do ICMS arrecadado no Estado. O peso do Valor Adicionado na planilha do ICMS é de 76%, conforme determina a legislação. Os 24 pontos percentuais restantes se referem a fatores diversos, como Receita Tributária Própria e Áreas Inundáveis.
Ao final do primeiro ano de implantação do Plano Real, em dezembro de 1994, o Grande ABC registrava vantagem de 40,53% de Valor Adicionado em relação ao somatório de São José dos Campos, Campinas e Sorocaba. Já no final de 2007, a distancia que separava os dois conglomerados de municípios caiu para 20,7%. No período, enquanto o Grande ABC perdeu 12,37% do Valor Adicionado, o G3 alcançou crescimento de 16,82%. Número estreitamente inferior ao apresentado pelo conjunto formado por São Paulo, Guarulhos e Osasco, que atingiu 19,78%.A participação relativa destas três áreas que diagramam o Valor Adicionado no Estado de São Paulo perdeu fôlego no período pesquisado. O G13, como poderiam ser chamados os sete municípios do Grande ABC, São Paulo, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, Campinas e Sorocaba, representavam praticamente metade (49,23%) do Valor Adicionado dos paulistas em 1994. Já em 2007 caiu para 44,95%. Uma queda de 8,7%.
A situação do Grande ABC melhorou consideravelmente com o governo Lula da Silva. Ao final do governo FHC, em 2002, a participação relativa da região no Estado caíra de 10,04% de 1994 para 6,17%. Um tombaço de 38,54%. A recuperação da indústria automobilística e também do Pólo Petroquímico elevou a participação relativa do Grande ABC em 2007 para 9,29%. Internamente, ou seja, entre os próprios municípios que formam o Grande ABC, Diadema e São Caetano aumentaram a participação relativa no Valor Adicionado. São Caetano saltou de 13,31% em 1994 para 15,92% em 2007, enquanto Diadema subiu de 10,59% para 13,66%. São Bernardo caiu de 45,69% para 43,53%, Santo André de 14,40% para 14,33%, Mauá de 13,64% para 10,79% e Ribeirão Pires de 2,15% para 1,48%. Rio Grande da Serra teve aumento residual, de 0,19% para 0,22%.
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