Economia

Metamorfose econômica (8)

DANIEL LIMA - 16/04/2009

O fracasso da regionalidade do Grande ABC ao longo das duas últimas décadas repete apenas com marketing a inapetência integrativa desde que em meados do século passado se deu a avalanche de emancipações político-administrativas. Essa é a raiz principal da fragilidade econômica verificada, documentada e estatisticamente comprovada a partir da implantação do Plano Real.

A sustentabilidade monetária da nova moeda e a massificação de sistemas de Tecnologia da Informação, além de obrigações gerenciais impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outros vetores, possibilitaram a elaboração de estudos e medidas que a precariedade de ferramentas dos tempos inflacionários, de farra geral e irrestrita na administração de recursos públicos e de obscuridade informativa desencorajava.

A queda econômica do Grande ABC não está limitada ao período do Plano Real, evidentemente. Antes desse divisor de águas implantado durante o governo Itamar Franco o Grande ABC já acusava dores lombares por conta de chutaços nos costados da competitividade por investimentos e empregos. A guerra fiscal e a abertura econômica que mudaram a geografia do setor automotivo impactaram a estrutura econômica da região — sempre é bom repetir. A diferença entre os dois períodos — pré e pós-Plano Real — é de mensuração prática, que elimina subjetividades.

Periferias crescem

Quando se colocam números reais, atualizados monetariamente, e quando se comparam territórios, têm-se a exata dimensão das mudanças. E nesse ponto não há mesmo quem salve o Grande ABC que, entre 1995 e 2007 apresentou queda do PIB da indústria de transformação de mais de 1% ao ano. Uma catástrofe, quando se leva em consideração que ganhamos praticamente duas São Caetano de população — a grande maioria deslocada às periferias sofridas, inchadas e fomentadoras de heróicas Madres Terezas e Freis Galvão.

O Bairro Montanhão, em São Bernardo, com 130 mil habitantes, maior que a quase totalidade dos municípios brasileiros, é a prova da incompetência generalizada dos poderes públicos em produzir cirurgias urbanísticas em vez de especializarem-se em esparadrapos sociais e também da insensibilidade atávica, mesquinha e individualista das classes dominantes, cada vez mais apartadas em condomínios verticais e horizontais de luxo.

Embora o fluxo migratório tenha se amainado na vizinha Capital, segue insinuante nas chamadas Gatas Borralheiras da Região Metropolitana de São Paulo, Grande ABC incluidíssimo. A cidade de São Paulo continua a ser o centro de gravidade do desenvolvimento econômico paulista, apesar de as perdas industriais não se refletirem diretamente no Valor Adicionado. Por isso, o embicamento da economia do Grande ABC ganha complicador demográfico. A formulação da perda por habitante do PIB industrial do Grande ABC medido pelo Valor Adicionado daria resultado ainda mais catastrófico do que o pouco mais de 1% de queda anual conjunta dos municípios.

Comparações diversas

Para que o leitor entenda a complexidade da situação econômica do Grande ABC e avalie este trabalho sem qualquer resquício de desconfiança ideológica e política, fomos mais fundo do que muitos imaginariam na investigação do desempenho do Valor Adicionado no Estado de São Paulo durante os 13 anos mencionados. Saímos do aglomerado do G13 (municípios do Grande ABC, São Paulo, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, Sorocaba e Sorocaba) e demos elasticidade territorial. Chegamos ao G90.

Querem saber o que significa G90? Então, fiquem atentos às seguintes especificações: 

 G7 – São os municípios que formam o Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

 G32 — São os municípios que formam a Região Metropolitana de São Paulo, menos os sete do Grande ABC: Arujá, Barueri, Biritiba-Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Embu, Embu-Guaçu, Francisco Morato, Franco da Rocha, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itapevi, Itapecerica da Serra, Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, São Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.

 G39 — São os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo, incluindo-se os sete do Grande ABC.

 G9 – São os nove municípios que formam a Região Metropolitana da Baixada Santista: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaem, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente.

 G19 — São os 19 municípios que formam a Região Metropolitana de Campinas: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Montemor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara do Oeste, Santo Antonio da Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.

 G15 — São os 15 municípios que formam a Microrregião de Sorocaba: Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Cabreúva, Capela do Alto, Iperó, Itu, Mairinque, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, São Roque, Sarapuí, Sorocaba e Votorantim.

 G8 — São os oito municípios que formam a Microrregião de São José dos Campos: Caçapava, Igaratá, Jacareí, Pindamonhangaba, Santa Branca, São José dos Campos, Taubaté e Tremembé.

 G51 — São os 51 municípios que formam a Região Metropolitana da Baixada Santista, a Região Metropolitana de Campinas, a Microrregião de Sorocaba e a Microrregião de São José dos Campos. Ou seja: estão excluídos os municípios da Grande São Paulo.

 G90 — São os 90 municípios que formam os cinco principais conglomerados econômicos do Estado mais poderoso do País, constantes do G51 e integrantes do G39, da Região Metropolitana de São Paulo.

No próximo capítulo vamos mostrar em detalhes o que ocorreu com o PIB industrial dessas áreas paulistas. Antecipamos um resultado desagradável que só surpreende os desavisados: apenas o G7 (leia-se Grande ABC) sofreu queda do Valor Adicionado num Estado que, comparativamente a outras áreas da Federação, perde cada vez mais participação relativa e absoluta no quesito. Ou seja: o Grande ABC perdeu internamente para outras regiões e suplementarmente para outros Estados.

Não é à toa que a participação regional no PIB nacional sofre cada vez mais percalços. Esse é um dos vários capítulos que reservamos para os próximos tempos.

Somos decididamente uma região em franco processo de empobrecimento econômico, com vicissitudes sociais compulsórias. Nos últimos seis anos de governo Lula da Silva e amplos investimentos internacionais, como ovos da serpente da crise do sistema financeiro que coloca o mundo em sobressaltos, o Grande ABC automotivo viveu recuperação econômica que não se expandiu em benéficos no mesmo grau e intensidade à população regional, por causa de fatores relacionados à produtividade.

As dificuldades estruturais do Grande ABC são muito maiores do que insinuam os dados do PIB da indústria de transformação, por si sós já preocupantes.



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