Levante o braço o leitor que acredita que no jogo da economia o Grande ABC de sete municípios, 2,65 milhões de habitantes e um território de 840 quilômetros quadrados está ganhando a disputa com a Grande Campinas, de 2,7 milhões de habitantes, quatro vezes mais área territorial e 19 municípios.
Se o leitor levantou o braço é porque está confiante no potencial do Grande ABC com base em informações espalhadas sem critério ou provavelmente porque estão embaladas pela chegada do trecho sul do Rodoanel, pela divulgação de investimentos (duvidosos) dos possíveis fornecedores do Pré-Sal, por essa história mal-contada de um mecenas sul-coreano que investiria os tubos em Santo André, pela propagação de intenções de constituição do Pólo Tecnológico do Grande ABC e por tantas outras bandeiras de triunfalismo acenadas ao sabor de interesses diversos.
Em seguidos textos que começo a preparar de forma esparsa mas complementar vou traduzir estudos que estou realizando em horas mortas mas muito vivas para confirmar situação que se delineou ao longo dos anos 1990 e se consolidou na primeira década dos anos 2000.
O Grande ABC que levava vantagem de 30% no que comumente se denominou o principal indicador econômico de uma Nação, no caso o PIB (Produto Interno Bruto) foi caindo a cada temporada e encerrou 2007 em desvantagem de 11% na disputa com a Grande Campinas.
Não é pequeno o rombo na sociedade como um todo numa região que estava 30% à frente e agora se vê 11% atrás.
Isso mesmo: o veículo econômico e social do Grande ABC medido pelo PIB que trafegava em velocidade 30% superior ao da Grande Campinas no começo dos anos 1990 ficou para trás.
Pior que ficar para trás é constatar que não há mudança de marcha significativa nos últimos tempos a apontar inversão de colocação.
Pior ainda: tudo se encaminha para a dilatação da vantagem à chamada Região Metropolitana de Campinas.
Perdemos para a Grande Campinas a vice-liderança estadual na geração de riquezas e serviços. Entre outros motivos essa queda se deve aos duros revezes provocados pela política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Já cansamos de analisar os efeitos das besteiras que o governo FHC provocou no Grande ABC.
Escrevi sobre o assunto não só na revista LivreMercado que eu comandava (e que virou lixo antes de desaparecer nas mãos inábeis do recuperador de impostos Walter Sebastião dos Santos), nos veículos digitais que assino há mais de uma década e também nos livros que escrevi, entre os quais “República Republiqueta” e “Meias Verdades”.
Uma ultrassonografia da economia do Grande ABC sempre em contraponto com a da Grande Campinas vai dar maior precisão nos diagnósticos. Seria pura bobagem compilar dados da região e deixar de confrontá-los com aquela área para a qual se dirigiu boa parte das indústrias que evadiram da Grande São Paulo. Restringir os dados ao Grande ABC como se fôssemos um principado, não garantiria a compreensão exata do que passamos no período analisado.
Há várias modalidades de indicadores sobre os quais providenciarei o confronto entre o Grande ABC e a Grande Campinas. Fossem as lideranças da região mais responsáveis coletivamente, há muito já teríamos elaborado planejamento estratégico para reagir. É o que tanto a Região Metropolitana de Campinas como outras áreas do Estado promovem em busca de fortalecimento municipal e regional.
Ficamos nesse ziriguidum desafinado de ensaios que se esgotam nas próprias e mal-tratadas linhas com que são concebidos, quando são concebidos.
Um exemplo: tenho em mãos projeto de guerra fiscal que a Prefeitura de Santo André pretende implantar para dinamizar uma economia debilitada ao longo de três décadas. É um calhamaço de muito esforço e pouca luz. A guerra fiscal de Santo André provavelmente nem passará pelo Legislativo. E se passar vai ser algo tão inexpressivo que não contribuirá com nada para alterar o rumo dos acontecimentos.
O Grande ABC econômico dormiu tanto nas últimas décadas, acreditou tanto na retroalimentação compulsória de suas forças vocacionais, deu-se ao luxo de acreditar no Papai Noel da riqueza perene que, ao acordar, não se dá conta de que o trem desenvolvimentista já passou há muito tempo na estação dos acomodados.
Grande ABC versus Grande Campinas é uma oportunidade para todos colocarem em dia a realidade regional. Que melhorou com Lula da Silva, é verdade, mas está muito aquém de outras áreas. Dependemos demais da indústria automotiva, nossa irrecuperável doença holandesa.
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