Imprensa

Quem quer banana, quem quer
melancia, quem quer abacaxi?

DANIEL LIMA - 13/02/2014

Quem acessa CapitalSocial certo de que um cacho de banana de interesses ideológicos vai estar sempre à disposição, pode tirar o cavalinho da chuva. Quem acessa CapitalSocial com a ideia fixa de que a melancia do corporativismo vai ser consumida com sofreguidão, é melhor procurar um site de uma entidade qualquer. Quem acessa CapitalSocial confiante de que o abacaxi adocicado de interesses especulativos será preservado, que vá procurar sua turma. Resumo da ópera: não temos compromisso com o agradar a qualquer custo. Costumo dizer que o caminho mais curto à desmoralização é pretender agradar indistintamente à plateia. Ou, pior ainda, submeter-se às pressões da elite econômica e política.


 


A audiência de CapitalSocial é muito maior do que imaginam os predadores que rezam todos os dias para que este jornalista vire peça de obituário. Mal sabem eles que não há motivação maior a me manter nas lides jornalísticas senão a possibilidade de apontar diferenças entre quem é do bem e quem é do mal nesta Província.


 


Aliás, por falar em quem é do bem e quem é do mal, me lembro de que numa audiência judicial por conta de um texto que escrevi há muito tempo uma das testemunhas de acusação se referiu a mim como gente do mal. Imediatamente sugeri a meu advogado que lhe perguntasse quem era o responsável por uma premiação mais que consagrada, da qual ele, a testemunha, saiu vitorioso entre muitos concorrentes. Constrangido, teve de admitir que se tratava deste jornalista.


 


Sou do mal para os bandidos da praça, ou para os amigos dos bandidos da praça. Não lhes dou folga, principalmente quando se metem a propagar bobagens de que são do bem, de que são filantrópicos, de que têm Jesus no coração. Esses farsantes precisam e devem ser desmascarados. Se já não bastassem os roubos, ainda posam de magnânimos. Aí é abusar da sorte, aí é abusar da ignorância, aí é abusar do próprio abuso.


 


Ambiente aquecido


 


Mas a temperatura de CapitalSocial se eleva fortemente mesmo – e é possível medir o quanto sobe com o fluxo de e-mails dos leitores – quando se comentam aqui problemas políticos e também o caso Celso Daniel. É verdade que os mais recentes textos sobre a morte do então prefeito de Santo André, nos quais me contraponho às fantasias do delegado Romeu Tuma Júnior, já não causam grandes arrepios. Credito essa quase mansidão à objetividade dos reparos, todos largamente consubstanciados por documentos e testemunhos. Nada pior para um fazedor de marolas que o contraponto desmascarador.


 


Mas a política partidária sempre ferve, mesmo quando atingida indiretamente. Caso do artigo sobre Fernando Henrique Cardoso (médico do Brasil e monstro da Província). A tucanada se empoleirou de tal forma que só faltou preparar uma guilhotina a este jornalista. Geralmente metida em redes sociais, que permite exageros a toda prova, a maioria dos manifestantes transmite a sensação de que nem leu o material postado nesta revista digital. Age-se às cegas, sem substância, sem elementos que conduzam este jornalista a reflexões. Não existe algo que mais me irrite como receptor de mensagens dos leitores do que manifestações emocionais, flagrantemente partidárias e ideológicas, e completamente isoladas de substância.


 


Não me deixo impressionar pelos leitores mais agressivos e irônicos porque de vez em quando pesco nas águas de blogs de gente qualificada de sites poderosíssimos e o que leio nos espaços reservados a comentários são verdadeiros acintes. Há uma vocação nacional à depredação de reputações. É por essas e outras razões que CapitalSocial não adotou nem adotará a falsa democracia participativa dos leitores, embora admita que acabe por perder em meio aos ganhos porque há gente com potencial intelectual eliminada da arena por responsabilidade dos malfeitores.


 


É o custo que se paga, mas nem por isso incontornável. Muitos leitores mantém correspondência em off com este jornalista e já foram muitos os casos em que temáticas aqui destrinchadas decorreram dessas conexões. Diria que há alguns pontos nevrálgicos, como o abusivo mercado imobiliário, que têm na participação silenciosa de leitores o combustível a novas baterias de críticas.


 


Chacrinha, não


 


Diferentemente, portanto, do Velho Guerreiro, o inesquecível Chacrinha, que distribuía todo tipo de fruta à plateia enlouquecida, quando não esfomeada, CapitalSocial não tem o menor interesse em satisfazer a audiência caso isso signifique alinhamento automático a determinadas conceituações de manifestantes mais aguerridos.


 


A maioria dos leitores de CapitalSocial ainda não se apercebeu que a linha editorial desta revista digital é marcada pelo jornalismo autoral, interpretativo, personalizado. Fosse diferente, o slogan “Leitura para ser impressa” não teria razão de ser. Sei que seria cabotino o autoelogio, mas como até a poderosa Rede Globo não faz outra coisa durante a programação diária, por que razão seria este jornalista hipócrita? E por que deixar de dizer que há uma infinidade de temas regionais que só são profundamente compreendidos caso os leitores acessem este endereço eletrônico?


 


Não preciso mencionar os temas sobre os quais a percepção do leitorado jamais afloraria caso CapitalSocial não existisse praticamente na mesma linha histórica da revista LivreMercado, durante 20 anos sob minha administração redacional. Há assuntos proibidos na mídia regional sobre os quais CapitalSocial jamais teve qualquer dúvida em abordar. Basta uma varredura nas editorias que constam desta página para encontrar um feixe de questões que desagradam profundamente os beneficiários da anomia regional. A expressão “Província do Grande ABC” que adotamos já há alguns anos é a antítese da aparente unanimidade regional em torno do politicamente correto. Apenas aparente, que fique bem claro, porque o Conselho Editorial desta publicação aprovou por maioria expressiva a adoção da expressão.


 


Quem colocou na cabeça que CapitalSocial é uma feira livre no sentido pejorativo da expressão, como tantos outros veículos de comunicação impresso e regional, caiu do cavalo. Se alguma comparação poderia ser feita, provavelmente a que mais se adequaria à produção editorial seria o que comumente se encontra nas farmácias. Nosso receituário farmacológico não é nada milagroso e, se não provoca a cura da clientela, pelo menos minimiza as agruras em forma de propostas, de ideias, de reflexões. Com a garantia de que só atende mediante receita de especialistas. No caso, de abordagens isentas de reverberações ideológicas, políticas, partidárias e econômicas que agridam a sociedade à deriva.


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