Economia

Metamorfose econômica (10)

DANIEL LIMA - 24/04/2009

Temos muitos capítulos que tratarão do chamado IPC (Índice de Potencial de Consumo), especialidade da Target Marketing, empresa da Capital que conta com Marcos Pazzini entre os executivos mais importantes e fonte oficial de longa data. E é ele, Marcos Pazzini, quem libera em primeiríssima mão os números mais quentes, quentíssimos, desse indicador de acumulação de riqueza das comunidades brasileiras distribuídas em mais de cinco mil municípios: o Grande ABC voltou a cair para o quarto lugar no Ranking Nacional.

Agora o Grande ABC está atrás da líder São Paulo, do Rio de Janeiro e também de Belo Horizonte. Não há surpresa no deslocamento dos sete municípios locais que, neste estudo, são tratados como megamunicípio que de fato são. Afinal, o Grande ABC vem se revezando com a capital mineira durante esta nova década.

O problema é que desta vez a diferença ganhou certa elasticidade, o que indica que o rebaixamento poderá ser definitivo ou no mínimo mais prolongado. A troca de posições quase rotineira entre Grande ABC e Belo Horizonte poderá virar passado porque a dinâmica econômica do Índice de Potencial de Consumo tem cromossomos metodológicos do Produto Interno Bruto e nada a ver com o Valor Adicionado.

Mais preocupação ainda para o Grande ABC: Brasília aproxima-se cada vez mais e pode, já no ano que vem, assumir a quarta posição. Ou seja: estamos muito próximos de ser alijados do G4. Nada mais lógico, porque a recuperação do Valor Adicionado (PIB da indústria de transformação) nos últimos anos não foi suficiente para restabelecer perdas anteriores e, mesmo que o conseguisse, nada indicaria que resolveria o problema.

Atrás de Belo Horizonte

A retomada se deu em larga maneira a custa de produtividade de novos investimentos em máquinas, processos, redução do efetivo de trabalhadores (foram decepadas 100 mil cabeças com carteira assinada nos anos 1990 só no setor industrial, 86 mil das quais durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso) e rebaixamento médio dos vencimentos dos assalariados, inclusive nas montadoras de veículos e, muito mais ainda, no cinturão de empresas satélites que passaram por lipoaspiração muito mais radical para fazer frente ao setor mais competitivo do planeta.

Resumidamente, o Índice de Potencial de Consumo da Target especifica o quanto de cada R$ 100 que os brasileiros têm para consumir neste ano sairão das reservas dos moradores do Grande ABC. Do total do IPC nacional de R$ 1.863.417 bilhão, caberá ao Grande ABC a parcela de 1,88828%, ou seja, R$ 1,888 de cada R$ 100, num total de R$ 35.186.699 bilhões.

No ano passado, quando constava do terceiro lugar, o índice regional foi de 2,11%. Belo Horizonte superou o Grande ABC ao sair de 1,91249% em 2008 para 1,97192% nesta temporada. Brasília, que está em quinto lugar, alcançou o índice de 1,87589%, coladíssimo ao Grande ABC.

A liderança é da cidade de São Paulo, com 8,52930%, enquanto o Rio de Janeiro está na vice-liderança com 5,31426%. Seguem-se no ranking dos 10 melhores, a partir do quinto colocado: Salvador, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre e Recife.

Nem todos entendem o real significado de Potencial de Consumo, por isso não custa enfatizar um conceito simples: o resultado reflete a riqueza coletiva de cada comunidade. Por isso pesam sobremaneira as diferenças demográficas. Quanto mais habitantes contar um Município, maiores serão as possibilidades de alcançar melhores posições no ranking. Não é por outra razão que a primeiromundista São Caetano de 135 mil habitantes ocupa apenas a 92ª posição no ranking, enquanto Guarulhos, também na Grande São Paulo mas socialmente mais complexa, está em 12º lugar com mais de 1,1 milhão de habitantes. Há outros municípios brasileiros com demografia semelhante a São Caetano mas que caem pela tabela de Potencial de Consumo porque estão muito distantes da riqueza acumulada pelos moradores locais.

Como se observa, o conceito que rege a realidade de um determinado Município não necessariamente deve ser levado a ferro e fogo a outro. A generalização é burra.

Indicadores desiguais

Se São Caetano mantivesse o atual Potencial de Consumo por habitante multiplicado pela população de Guarulhos, estaria entre os primeiros colocados. Seria a porta de entrada para pesquisas de lançamento de produtos que levam em conta tanto qualidade quanto quantidade do público-alvo nas ações de marketing desenvolvidas pela Target Marketing.

Quem cair na besteira de confundir Potencial de Consumo com Valor Adicionado verá que trata igualmente indicadores desiguais. Não necessariamente um Município que tenha avançado na produção de riqueza, conceito de Valor Adicionado, obtém o mesmo resultado em Potencial de Consumo.

Que adianta uma cidade, qualquer cidade, com parque industrial fortíssimo mas incapaz de reter os detentores dos empregos locais? Se o Valor Adicionado contabiliza salários como ingrediente de enriquecimento da cadeia produtiva local, o Potencial de Consumo só reconhece esses vencimentos nos respectivos endereços domiciliares dos trabalhadores. A conta do Valor Adicionado vai para o Município-sede da empresa. A conta de Potencial de Consumo vai para o Município-domicílio do trabalhador.

Paulínia, na Região Metropolitana de Campinas, ocupa um dos primeiros lugares no ranking estadual de Valor Adicionado, resultado do parque químico e petroquímico. Com população inferior a 70 mil habitantes, obtém de retorno em forma de ICMS recursos que asseguram burras cheias à administração pública.

Já no ranking de Potencial de Consumo Paulínia desaba porque além da população diminuta, muitos dos trabalhadores não residem em seu território.

O caso que envolve Cubatão e Santos também é emblemático da distância entre um e outro indicador. Cubatão está entre os 10 primeiros colocados do ranking estadual de Valor Adicionado. Em 2007, o circuito da indústria de transformação, basicamente dos setores químico, petroquímico e siderúrgico, movimentou R$ 11,5 bilhões, mais da metade do PIB do setor da Baixada Santista. Muito à frente da portuária e turística Santos, a capital de fato daquele conglomerado urbanístico, que alcançou R$ 5,8 bilhões.

Quando os números se direcionam ao Índice de Potencial de Consumo, Santos ocupa o 32º lugar no ranking nacional, enquanto Cubatão não chega nem entre os 100 primeiros. Guarujá, Praia Grande e São Vicente, da mesma Baixada Santista, ocupam posições mais nobres, entre os 100 melhores do País. Cubatão se restringe a produzir riquezas da indústria de transformação; não as metaboliza internamente. Nem mesmo em forma de empregabilidade local. Os trabalhadores mais qualificados em larga escala moram em outros municípios da Baixada Santista.

Por isso que numa escala de valores cruzados que representem o que poderia ser chamado de essência econômica dos municípios brasileiros, o Índice de Potencial de Consumo da Target é o suprassumo da confiabilidade à compreensão de aspectos inclusive sociológicos.

Por isso que, por vários capítulos, dedicaremos amplos espaços ao assunto. E também nesse ponto o Grande ABC é colhido em flagrante delito de esvaziamento econômico.

Mas isso não tem muita importância para a banda dos desafinados. O que seus representantes querem mesmo é se esbaldar num espetáculo mais que manjado de disputa no concurso informal de celebridade da vez, tanto na política, quanto na economia, como nas colunas sociais.



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