Já tenho delineados pelo menos três assuntos sobre os quais pretendo escrever antes que o Carnaval comece, ou seja, na semana que está chegando. Quero que os leitores não caiam na gandaia sem que me lembrem da obrigação de tratar do livro do delegado Romeu Tuma Júnior, da chegada da fábrica de aeropeças da Saab em São Bernardo e da ameaça de outra área da Região Metropolitana de São Paulo que, pelo andar da carruagem, pode rebaixar o PIB da Província do Grande ABC ao quinto lugar no Estado de São Paulo. Isso mesmo, quinto lugar no Estado. Quem andou escrevendo à reboque da palestra de Fernando Henrique Cardoso que somos o quarto PIB do País está completamente desatualizado ou prefere a doce bobagem ao azedume da realidade.
Sobre Tuminha, o delegado que se meteu a relatar sobre o que pouco sabe, ou seja, o assassinato do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que pretendo mesmo é definir nos próximos dias se vou encerrar a série que analisa aquela obra ou se esticarei um pouco mais o bombardeamento daquela narrativa mais que furada. O desejo deste jornalista é produzir apenas mais um texto e encerrar de vez a devassa no capítulo de “Assassinato de Reputações” sobre o caso Celso Daniel. Como apontei no texto desta semana, Tuminha preparou enredo tão absurdamente inconsistente que, à luz da sensatez, teria mais sentido deixar de lado o restante das argumentações do autor.
Entretanto, como Dionísio Severo de Aquino fugiu da cadeia de helicóptero um dia antes do sequestro de Celso Daniel e virou a âncora tática para Tuminha dar veracidade à tese de crime político, não vejo saída senão abordar os parágrafos narrados pelo ex-delegado ao jornalista Claudio Tognolli.
Um ponto escandalosamente inverossímil no depoimento de Tuminha desaconselha a leitura dos demais capítulos. Que ponto é esse? Vou revelar antes do Carnaval chegar. Aliás, é esse ponto que me leva à inclinação de encerrar com apenas mais um capítulo a interpretação crítica das declarações de Tuminha.
Caças instrumentalizados
O texto que vou preparar sobre a chegada da fábrica de aeropeças reunirá alguns dados que não pretendem sabotar a ação político-partidária do prefeito Luiz Marinho que culminou no contrato com a empresa sueca Saab para produzir caças no Brasil. O que pretendo mesmo é colocar um pouco de água gelada de sensatez na fervura de um otimismo manipulado ao tratar do investimento. Há uma tentativa de supervalorizar o empreendimento sem que se ofereçam elementos consistentes. Vou explicar, com dados insofismáveis, as razões pelas quais não me deixo levar pelo canto da sereia dos marqueteiros de plantão. Não se pode negar a importância econômica e principalmente ambiental, no sentido de respiradouro capitalista, da instalação da fábrica dos caças Gripen em São Bernardo. Mas daí a se deixar levar no bico pelo triunfalismo que alguns já ensaiam, façam-me o favor.
Já sobre a ameaça que vem de uma área da Região Metropolitana de São Paulo para retirar a Província do Grande ABC do quarto lugar no PIB estadual, atrás de São Paulo, Grande Campinas e Grande Osasco, pouco posso adiantar porque não quero dar munição a outros veículos de comunicação. Se bem que, mesmo que revele antecipadamente de onde vem chegando números que poderão nos deslocar em alguns anos ao quinto lugar, provavelmente nenhum veículo regional publicaria. Há um tratado mudo e surdo, quando não burro, de evitar revelações sobre nossos tropeços público-gerenciais, entre outros dramas.
Pura besteira, porque o povo sente na própria pele que já não somos uma Brastemp. Aliás, há muito perdemos a Brastemp e, naquela área no Bairro Ferrazópolis, ganhamos um shopping que também não vai bem das pernas porque veio para a Província certo de que somos o paraíso econômico do passado que não volta mais.
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11/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (32)