Imprensa

Chegamos à centésima matéria
na temporada. E vamos ter mais

DANIEL LIMA - 21/03/2014

Quem viveu nesta última quarta-feira terá vivido 79 dias deste ano. Tenho a felicidade de me manter na ativa jornalística, agora sem os encargos de edição que durante quase quatro décadas tanto me escravizaram. Com isso, posso produzir mais textos. Sou competitivo comigo mesmo e para medir o tamanho de meu apetite profissional me dei o trabalho de contar quantos textos já escrevi e editei nesta temporada. São 100 em 79 dias, até ontem, quinta-feira. Mais de um texto em média por dia. Se a produção considerar apenas os dias úteis, retirando-se sábados, domingos e feriados, o resultado final é de média superior a dois artigos por dia. Costumo dizer, brincando, que não sou um jornalista -- sou uma redação inteira. Inclusive pela multiplicidade temática.


 


Não pensem que escrevo sobre isso e nesse tom com eventual carregamento de empáfia. Nada disso. Escrever é minha profissão e meu sacerdócio, quando não minha terapia. Costumo dizer também que quando me falta algum assunto, e isso é muito raro porque me preparo diariamente, basta pensar em algum desafeto e está tudo resolvido.


 


É muito possível que um de meus desafetos selecione o trecho anterior e junte a eventual ação judicial para dizer que sou um deformado mental a perseguir inocentes. Já vi coisas piores contra mim e os juízes acreditarem. Eram trechos maliciosamente descontextualizados do conjunto da obra, mas a impressão é que o pessoal do Judiciário está tão assoberbado que tem preguiça de ler ou, pior ainda, acolhe arbitrariamente alguns parágrafos. Mais que isso: os advogados daquele senhor de malfeitos que me quer na cadeia, enquanto ele, o malfeitor, está livre, leve e solto, é especialista em realçar com artimanhas visuais, aspectos desconfigurados que, quando destacados, parecem definidores do pensamento muito mais concatenado com que costumo solidificar minhas avaliações.


 


Trata-se de subterfúgio de quem sabe como funciona o Judiciário. A esperteza vale muito mais que a realidade dos fatos. A subjetividade é amiga preferencial dos manipuladores de informações.


 


Memória valorizada


 


Mas, voltando ao que interessa, quando decidi revelar aos leitores que chegamos ao centésimo artigo desta temporada, queria dizer mesmo que essa é a maneira que encontrei para fazer um marquetezinho desta revista digital. Muita gente não tem por costume vasculhar o que já escrevemos há algum tempo. Prende-se ao material do dia. Não à toa procuramos incorporar aos textos diários artigos correlatos que provavelmente já caíram no esquecimento. Nem sempre a medida é sedutora.


 


Chegar a 100 textos antes de abril me leva a agradecer aos céus pela possibilidade de exercitar jornalismo com absoluta independência, associada à responsabilidade social que os mandachuvas da praça detestam. Eles querem me ver morto. Terão a oportunidade se forem convidados a meu enterro. Mas não custa avisá-los que pretendo deixar uma lista negra que meus familiares saberão honrar.


 


Brinquei ainda outro dia que estou quase que exercitando uma bizarrice para dizer aos deuses que não estou disposto a abandonar esse teatro de operações da vida. Não duvidem que prepare uma lápide mais ou menos com os seguintes dizerem e mande cimentar lá no Jardim da Colina: "Meu pai, meu irmão e minha mãe que já se foram e me matam de saudade, e possíveis novos ocupantes deste pequeno latifúndio, podem tirar o cavalinho da chuva porque vou demorar a desembarcar. Tenho muito a fazer ainda".


 


Qualquer dia desses, se não me esquecer da promessa, vou escrever sobre alguns novos bastidores que me envolvem no jornalismo. Aliás, vai completar 10 anos agora em julho que aceitei o convite de Ronan Maria Pinto para assumir a direção do Diário do Grande ABC. Quem ler o projeto que preparei e vasculhar as páginas do jornal vai entender a diferença entre estar lá e não estar lá. 


 


Arma contra acusadores


 


Já recebi tantas promessas e já as atirei no lixo do descrédito porque, entre várias razões, não pretendo desdizer o que estas páginas e as páginas dos veículos aos quais dediquei a vida inteira imprimiram ao longo dos anos. Não costumo virar casaca como agentes políticos e empresariais que conheço.


 


Sobre isso, sempre que aparece algum leitor desavisado, que desconhece minha biografia e, imaginando-me mais um instrumento ideológico a serviço de alguma agremiação partidária, tenho o cuidado de selecionar textos que se opõem frontalmente às acusações. Quando um tucano enraivecido se dirige a mim com ofensas ou mesmo educadamente porque não canso de escrever que Fernando Henrique Cardoso foi um péssimo presidente para a economia da região, devolvo ao leitor-acusador algumas matérias nas quais escrevo o diabo dos petistas, além de outras que mais que justificam as críticas a FHC.  A recíproca é verdadeira. A tática é tão maquiavelicamente perfeita que, geralmente, os ofensores desaparecem. Ou passam a ter um tratamento mais civilizado comigo. Em muitas situações, até se tornam parceiros de informações.


 


Também não faltam muitas experiências de leitores comedidos, sensatos, que, ao remeterem reparos a este jornalista, me levam compulsoriamente a reavaliações. Está provado estatisticamente que por mais que nos esforcemos em oferecer textos didáticos, há leitores que ou vão além do que afirmamos e nos cobram complementaridades ou, menos profundos, não alcançam os pressupostos das mensagens.


 


Não exagero quando afirmo que o jornalismo digital me levou a reinventar-me, da mesma forma que o jornalismo impresso de duas décadas à frente de uma revista me tornou mais qualificado que no período anterior de jornalismo diário impresso. São experiências fabulosas que me permitiram, pela longevidade vital e profissional, chegar a um estágio em que podem dizer o que quiserem, só não podem me acusar de burro.


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